Na contramão do mundo, país arrisca investir na energia suja do carvão


Acordo de Paris, importante ferramenta para enfrentar o desafio das mudanças climáticas, passa a valer nesta sexta-feira, 4 de novembro. Assinado por 192 países-membros da ONU, une governos de todo o mundo em torno do compromisso de evitar um aquecimento global superior a 1,5 º. É um objetivo tão ambicioso quanto urgente, tendo em vista que já vivemos em um planeta 0,8 º mais quente do que o medido antes da Revolução Industrial.

Barrar esse aquecimento exige rápidos cortes nas emissões dos chamados gases de efeito estufa, que se acumulam na atmosfera. Eles emanam de atividades em diversos setores, com destaque para o energético, o agropecuário e o de mudanças no uso do solo (especialmente desmatamento). Dentre todas as fontes, uma se destaca: a geração de energia pela queima do carvão mineral. Sozinha, a atividade corresponde a quase um terço do total desses gases emitido em todo o mundo.

Surpreende, então, que o nosso Congresso Nacional queira destinar incentivos justamente para o carvão. Isso se pretende por meio do artigo 20 da Medida Provisória 735/16, aprovada em 19 de outubro. Ela agora está nas mãos do presidente Michel Temer para sanção ou veto.

O Acordo de Paris exige o fim do uso de combustíveis fósseis até 2050 se estivermos levando a sério a meta de ficar abaixo dos 1,5º. Ultrapassar esse limite significaria enfrentar consequências drásticas. Entre elas, o desaparecimento de países-ilhas devido à elevação do nível do mar. No mundo todo se intensifica o desinvestimento nessas fontes de energia, um movimento endossado pela ONU. Da China à Noruega, o carvão deverá ser o primeiro a sair da cena em diversos países. No Brasil, o ano de 2014 registrou apenas 3% da nossa eletricidade vinda do carvão. Mas a fonte respondeu por assombrosos 22% das emissões da matriz elétrica.

Queimar carvão também gera uma poluição que está associada a graves problemas de saúde, levando a mais de 800 mil mortes prematuras por ano ao redor do mundo. E além de tudo isso, o carvão é uma fonte cara. Os preços das contas de luz sobem cada vez que o governo opta por ligar usinas térmicas para compensar baixos níveis de reservatórios nas hidrelétricas. Ao mesmo tempo, ao redor do mundo alternativas verdadeiramente sustentáveis como a energia eólica e a energia solar já apresentam preços mais baixos.

O uso do carvão, portanto, é um desastre climático, um mau negócio e um golpe na saúde de muitos brasileiros. Ampliar o apoio a essa fonte –como proposto na Medida Provisória 735/16, aprovada por nossos deputados e senadores– significaria negar promessas que fizemos para o mundo e impactar diretamente cidadãos, beneficiando apenas aqueles que produzem essa energia suja.

O texto da Medida Provisória até tenta parecer comprometido com o combate às mudanças climáticas ao propor um corte de 10% nas emissões de termelétricas a carvão. Mas isso é pouco significativo dado o tamanho do problema, funcionando como distração e não como solução. Precisamos seguir rumo ao fim do carvão e a 100% energias renováveis, como pede o Acordo de Paris e como o Greenpeace mostra que é possível na nova edição de seu relatório Revolução Energética.

No início de outubro, o governo federal apontou na direção certa quando o BNDES anunciou que não vai mais financiar carvão, uma notícia que reverberou positivamente por todo o mundo. Cabe a Temer manter a coerência e vetar o artigo da Medida Provisória que oferece incentivos a essa fonte energética do passado.

Fonte: UOL

China vai reduzir consumo de carvão em Pequim para conter poluição


        

A China vai fechar as termelétricas a carvão em Pequim e limitar o uso do material para uso industrial neste ano, a fim de combater a poluição do ar na capital chinesa.

As medidas buscam cortar o total de carvão utilizado neste ano em 2,6 milhões de toneladas, e, no lugar disso, adotar energia limpa e a gás como uma alternativa menos poluente. As informações foram divulgadas recentemente pela agência oficial de notícias, Xinhua.

O gigante asiático prometeu reverter os danos causados a seu meio ambiente durante décadas de forte crescimento econômico e identificou as regiões de Pequim, Hebei e Tianjin como alvos-chave para o programa destinado a desacelerar indústrias como aço, energia térmica e cimento – todas grandes fontes de poluição atmosférica.

A cidade industrial de Tianjin, no norte do país, deve adotar várias medidas nos dias de poluição pesada, incluindo a restrição ao número de veículos em circulação nas ruas.

Crescimento econômico x qualidade de vida

O crescimento econômico sempre esteve no topo da agenda política na China, mas a irritação da população com a poluição vem provocando protestos e o governo agora promete ser mais firme e fazer da limpeza do meio ambiente uma prioridade.

Mesmo assim, as autoridades enfrentam com frequência dificuldades para fazer as medidas serem cumpridas por indústrias que provocam muita poluição e autoridades locais, obcecadas com o crescimento.

Fonte: Terra 

Laísa Mangelli

Óleo retirado das praias do Nordeste viram cimento no PE e carvão na BA


O carvão pode ser misturado com terra e colocado nas plantas, como uma espécie de adubo (Divulgação/UFBA)

As imagens de toneladas e toneladas de óleo retiradas das praias do  Nordeste têm levantado uma questão: e depois, o que fazer com tudo isso?  A resposta em Pernambuco foi levar o material à Central de Tratamento  de Resíduos, a Ecoparque, empresa contratada em regime de urgência, cujo aterro é sediado em Igarassu. Para lá, foram destinadas mais de 1,3 mil  toneladas de óleo e itens contaminados pela substância, como baldes, luvas e máscaras.

O material passa por uma triagem para reduzir a presença de areia e, em  seguida, é triturado com tecidos, borrachas e outros itens que tiveram  contato com produtos industriais. O resultado são pilhas de fragmentos  diversos, em que o óleo se destaca pelo brilho.

Forma-se, então, o que se chama de blend energético, que é vendido para  ao menos três empresas de produção de cimento, sendo utilizado como  combustível de fornos junto com o coque – um subproduto destilado do  petróleo. “O petróleo sólido é muito caro e exige grande logística,  porque vem de navio. Assim como o coque, esse blend tem o poder  calorífico alto”, explica Romero Dominoni, diretor geral da Ecoparque.

Na Bahia, os resíduos encontrados nas praias têm se transformado em  carvão, com a ajuda de cientistas. Dentro de uma betoneira, são usados  bioaceleradores desenvolvidos por um grupo de pesquisadores do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Esses componentes ajudam na degradação do óleo e o transformam em carvão. “Esses  bioaceleradores, dois sólidos e três líquidos, não agridem o solo nem os  vegetais”, disse a professora da UFBA Zenis Novais.

Segundo Zenis, o produto é bem menos agressivo do que o petróleo cru. O  procedimento pode complementar ou substituir o que se pretende fazer com  o petróleo: incinerar. “O processo de incineração produz enxofre, nitrogênio e libera gases que afetam o meio ambiente”, diz Zenis.

A aplicação do carvão, no entanto, demanda mais estudos. Segundo a professora, a depender da composição, o carvão pode ser misturado com  terra e colocado nas plantas, como uma espécie de adubo. Outra opção é  usá-lo como combustível na produção do cimento, como vem sendo feito em Pernambuco.

Agência Estado