Plantio de árvores como compensação de emissões na Copa ficou na promessa


Entrevista com Magno Castelo Branco

 

Responsável pelo Departamento Técnico da Iniciativa Verde – organização não governamental que trabalha para a mitigação e a adaptação às mudanças climáticas por meio de recomposição florestal -, Magno Castelo Branco diz que a organização da Copa do Mundo no Brasil acertou na gestão de resíduos, mas decepcionou na compensação de emissões. “Tivemos promessas de plantio de até 34 milhões de árvores, coisa que não ocorreu”. Também consultor do Banco Mundial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Embaixada Britânica sobre assuntos relacionados à mudança do clima, Castelo Branco acredita que a opção por chamar empresas para doarem créditos de carbono – adotada pelo governo e pela Fifa -, tenha pouco valor. “Foi uma atitude desesperada para cumprir de qualquer jeito uma promessa”. Na sua avaliação, é preciso incorporar de maneira significativa iniciativas de compensação de gestão de grandes eventos, buscando mecanismos de compensação que contribuam de maneira significativa para a realidade local.

A entrevista é de Maura Campanili, publicado por Clima e Floresta e reproduzida por EcoDebate, 08-08-2014.

Eis a entrevista.

Você acompanhou as medidas de sustentabilidade anunciadas pelo governo brasileiro para a Copa do Mundo? Podemos dizer que foram eficazes?

Sim, acompanhei as medidas de sustentabilidade anunciadas, mas também as que foram efetivamente implementadas. Posso dizer que fiquei bem impressionado com a gestão de resíduos recicláveis durante o evento. Foram contratados 1,5 mil catadores que coletaram mais de 180 mil toneladas de resíduos. Essa foi uma iniciativa importante, principalmente por criar e incentivar a cultura de coleta e reciclagem nas cidades sedes. Sobre a certificação dos estádios, considero que seja uma obrigação, pois hoje é inadmissível pensarmos em construir arenas dessa magnitude sem considerarmos formas de torná-las mais eficientes. Apenas seis das 12 arenas foram certificadas com o selo LEED (Leadership in Energy & Environmental Design). Minha experiência mostra que a certificação das obras não necessariamente aumenta os custos de implantação e sempre reduz os custos durante a operação. Um ótimo exemplo é a Arena Castelão, que foi a mais barata da Copa mesmo sendo certificada. Porém, sobre os estádios ainda tenho outra preocupação. Observando que quase todos os estádios custaram mais do que deveriam e tiveram suspeitas de superfaturamento, tenho certeza que essas ineficiências de gestão significaram também um aumento do consumo de recursos e nas emissões de gases de efeito estufa. Talvez seja difícil mensurar, mas é certo que uma gestão ineficiente acarreta maiores desperdícios financeiros e, consequentemente, de materiais.

E em relação à compensação de emissões de gases de efeito estufa, houve iniciativas importantes?

Sobre a compensação de emissões fiquei decepcionado, pois tivemos promessas de plantio de até 34 milhões de árvores antes do evento, coisa que não ocorreu. Nem ouvimos mais falar sobre o assunto. Essa era uma oportunidade única de incentivar projetos de grande impacto positivo, pois a visibilidade era muito grande. Era uma chance de dar visibilidade a projetos de recuperação da Mata Atlântica – uma das grandes riquezas de nosso país-, além de muitas outras iniciativas espalhadas pelo Brasil. O que vimos foi um ato desesperado de tentar, de última hora, “zerar’ as emissões do evento com a doação de créditos de carbono. Infelizmente, o que aconteceu foi muito menos significativo do que poderia.

Em relação especificamente às emissões, que tipos de emissões um evento desse porte, realizado em doze diferentes cidades, pode causar? É possível calcular as emissões realizadas? Como?

Todos os eventos podem ter as suas emissões calculadas. Para tanto, são utilizadas metodologias consagradas, como por exemplo o GHG Protocol. Por mais que a metodologia seja voltada para o cálculo de emissões corporativas, é possível adaptá-la para um evento, avaliando as fontes de emissão existentes. Em eventos de qualquer porte, a principal fonte de emissão é geralmente o transporte. No caso de um grande evento como a Copa do Mundo, isso fica muito evidente. No inventário realizado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), chegou-se a conclusão que 83% das emissões do evento estão relacionadas ao transporte dos espectadores. Mas é importante ressaltar que há sim outros diversos impactos como, por exemplo, a construção das arenas. Acho que foi um erro da Fifa e do MMAoptarem por não incluir essas emissões no escopo do inventário da Copa. Pela minha experiência na Iniciativa Verde com a execução de inventários de emissões de empreendimentos, posso deduzir que este impacto seria bastante representativo no total. Pelo fato de termos 12 cidades sedes, tivemos um impacto relativo ao transporte ainda mais significativo. Os deslocamentos são maiores também pelas distâncias entre as cidades. Além do transporte, são consideradas as emissões relacionadas a realização de todos os eventos relacionados com a Copa, incluindo nos cálculos fontes de emissão como: Consumo de energia, consumo de materiais, transporte de staff, consumo de combustíveis, entre outras.

No site oficial da Copa, o governo afirma que o Brasil compensou sete vezes mais do que o estimado para as emissões diretas de gases de efeito estufa geradas pela realização da Copa do Mundo. Esses índices teriam sido alcançados em decorrência da chamada pública para empresas interessadas na doação de créditos de carbono, lançada pelo Ministério do Meio Ambiente. Esse é um bom sistema para compensar emissões?

Acredito que chamar empresas para doarem créditos seja uma ação com pouco valor, pois sugere que o governo e aFIFA pouco fizeram para tanto. Foi uma atitude desesperada para cumprir de qualquer jeito uma promessa. Muitos outros projetos poderiam ter sido incentivados.

Pelo sistema adotado, as empresas doariam as suas Reduções Certificadas de Emissões (RCE) em troca de ter seus nomes veiculados nos eventuais relatórios de gestão e resultados do Projeto e publicados no Diário Oficial da União. Você poderia explicar o que são essas RCE e como funcionam?

RCE são reduções de emissões certificadas dentro do Protocolo de Kyoto. Uma tonelada de CO2 reduzida e certificada é o que chamamos de RCE, ou crédito de carbono. Essas reduções podem ser obtidas por diversos projetos que utilizam metodologias aprovadas na Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima(UNFCCC) e são registrados nesse órgão.

A Iniciativa Verde trabalha com a compensação de emissões por meio de projetos de recomposição florestal, de proteção às águas e de auxílio aos proprietários rurais para adequação ambiental. As iniciativas da Copa do Mundo contemplaram essas áreas?

Não fomos contemplados nas ações oficiais da Copa do Mundo. Algumas empresas nos buscaram e acabamos realizando projetos relacionados com a Copa. Porém, oficialmente, não fomos procurados pela organização do evento. Também não temos notícias de outras instituições que foram convidadas a fazer essas atividades no âmbito oficial do evento, ou seja, as iniciativas da Copa não envolveram esse tipo de trabalho. Na realidade, pelo que vimos, projetos de recomposição florestal não estiveram envolvidos com as atividades de compensação de emissões do evento.

Há outras questões relacionadas à sustentabilidade e à pegada de carbono da Copa do Mundo que podemos destacar? Que lições ficam para eventos semelhantes, sobretudo as Olimpíadas que acontecem no Rio de Janeiro daqui a dois anos?

A principal lição é que precisamos incorporar de maneira significativa essas iniciativas de compensação na gestão desses grandes eventos, dando a mesma importância que atribuímos às obras em si, buscando mecanismos de compensação que contribuam de maneira significativa para a realidade local e regional. E em se falando de Brasil, nada supera, a meu ver, os projetos de restauro florestal no âmbito do bioma da Mata Atlântica.

Conheça a escola que possui uma usina de biomassa com cobertura verde


    

O escritório de arquitetura Centerbrook projetou uma central de aquecimento por biomassa para a Escola Hotchkiss em Lakeville, Connecticut, EUA. O edifício se destaca por seu telhado verde, inclinado e ondulado, que “camufla” o edifício à paisagem. A usina utiliza lascas de madeira e substitui uma caldeira de óleo. Com esse novo sistema espera-se reduzir as emissões de CO2 em até um terço.

O edifício que abriga a central possui 16.500 metros quadrados e possui duas caldeiras de biomassa. Ele também abriga uma caldeira movida a óleo apenas para emergências.

 

            

A nova instalação é parte do compromisso da escola em se tornar um campus neutro em carbono até 2020. Hotchkiss é uma escola particular com 600 estudantes de todo os Estados Unidos e também do exterior. As duas unidades de caldeiras podem gerar vinte milhões de BTUs por hora pela queima de resíduos de madeira adquiridas de florestas locais de forma sustentável e com certificação (FSC) Forest Stewardship Council. As lascas de madeira substituem cerca de 150 mil litros de óleo combustível por ano e reduz as emissões de dióxido de enxofre por mais de noventa por cento.

As cinzas da combustão de resíduos é recolhida para utilização como fertilizante para hortas da escola, e um precipitador eletrostático remove 95 por cento das partículas de emissões. A chaminé de 48 metros dispersa emissões para os ventos predominantes, reduzindo os impactos ao nível do solo para quase zero.

          

Lascas de madeira coletadas de forma sustentável são consideradas um combustível "carbono neutro" pelo Painel Internacional sobre Mudança Climática, pois o CO2 produzido por seu uso é reabsorvido pelo ecossistema através do reflorestamento das florestas onde são originários. A usina de biomassa deve reduzir seis milhões de quilos de CO2 por ano.

A pequena usina se camufla na paisagem. Ela possui perfil baixo e um telhado verde inclinado e também ondulado. As características sustentáveis incluem: telhado ajardinado com um sistema de captação e filtragem da água da chuva, que é reabsorvida pelo solo.

A estrutura é feita em madeira laminada reflorestada e também por materiais com alto índice de reciclagem. Além disso, o edifício recebe luz do dia em abundância. O prédio também possui uma missão educacional, expondo suas tecnologias e estrutura de madeira para passeios de estudantes e grupos da comunidade que têm acesso a uma varanda com vista para mezanino e circunda a sala da caldeira. Além disso, gráficos e mapas de parede e uma série de monitores de computador interativos que rastreiam dados de desempenho estão em exibição. Fora da fábrica, os visitantes podem seguir um caminho pela natureza que oferece uma vista de perto do telhado verde.

"Nossa meta para este projeto foi construir sobre uma filosofia que conecta ainda mais os alunos para os recursos naturais que eles usam diariamente", disse Josh Hahn, chefe adjunto da escola e diretor de iniciativas ambientais. "Nossa fazenda conecta estudantes para seus sistemas alimentares, e a nova usina de biomassa irá conectar os alunos para os seus sistemas energéticos. Sabemos que a energia e questões ambientais em geral, serão prioridade para os nossos alunos quando entrarem em suas vidas adultas. Este edifício, construído como uma sala de aula, irá prepará-los para fazer escolhas criativas e inteligentes em um mundo com limites ecológicos", finaliza.

Fonte: http://pedesenvolvimento.com/

Laísa Mangelli

Quanto a Copa emite de carbono?


Campeonato é o mais verde já realizado

               

Há críticas sobre vários aspectos do torneio, que vão diminuindo com seu sucesso e a qualidade de sua organização. Criticou-se mesmo a escolha do símbolo do torneio, por ser um dos animais do país em risco de extinção, muito embora a repercussão tenha levado à possibilidade de criação de um parque nacional para a proteção do tatu-bola.

Para começar, dois dos estádios usam apenas energia solar, e todos eles são certificados pela Liderança em Design Energético e Ambiental (Leed). Além disso, o comitê de organização da Copa fez uma parceria com o programa ambiental da ONU, Unep, para fornecer informações à torcida sobre como ela podem reduzir seu impacto ambiental.

O mais importante, porém, é que esta é a primeira competição deste tipo que compensa suas emissões de carbono. Em seu término, terá usado energia suficiente para alimentar todos os 260 milhões de carros e caminhões nos Estados Unidos em um dia, o que pode ser considerado pífio em termos de emissões globais- além do que a relação mostra quem contribui mais com o aquecimento global.

De acordo com números da Fifa, 60% das emissões serão criadas pelos vôos internacionais. Os outros serão causados por caminhões para o transporte de equipamentos, o deslocamento de torcedores e a operação de todos os equipamentos eletrônicos necessários.

Os organizadores da Copa informaram que cerca de U$ 1.5 bilhões foram alocados para compensar os efeitos sobre a mudança do clima criados pelo evento. A projeção estima a produção de 1.4 milhão de toneladas de CO2 em toda sua duração.

De acordo com Carlos Klink, secretário de mudança do clima do Ministério do Meio Ambiente, o país preparou nos últimos anos uma agenda sustentável e lidera um mecanismo especial para compensar as emissões de carbono em grandes eventos.

“Não existia uma metodologia para eles até então. Estudamos as melhores práticas na metodologia do Painel Internacional da Mudança do Clima (IPCC) e decidimos criar a nossa própria, com expertise internacional e de forma participativa”,  disse ele aoResponding to Climate Change.

Foto: Divulgação/CBF

Fonte: Planeta Sustentável

Relação dos países ricos e a emissão de carbono


Apenas 10% dos países mais ricos são responsáveis por 50% das emissões de carbono no planeta

Segundo relatório da Oxfam, países desenvolvidos são os principais responsáveis pela mudança climática

 

iStockphoto.com / chuyuDados constam em relatório da Oxfam, divulgado durante a COP21.

De acordo com relatório da organização não governamental britânica Oxfam, divulgado durante a 21ª Conferência das Partes (COP21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em Paris, o grupo dos 10% mais ricos da população mundial é responsável por cerca de 50% dos gases poluentes lançados na atmosfera.

Para a organização, o documento contribui para “desmontar o mito de que os moradores de países com um rápido desenvolvimento são os principais responsáveis pela mudança climática“, já que, segundo o relatório, as 3,5 bilhões de pessoas mais pobres do mundo geram apenas 10% das emissões totais de carbono.

O estudo analisa as formas de consumo individual e afirma que uma pessoa que faz parte do 1% da população mais rica do mundo gera, em média, 175 vezes mais poluentes do que a que está entre os 10% mais pobres do mundo.

“Embora as emissões aumentem rapidamente nos países em desenvolvimento, grande parte delas se deriva da produção de bens que serão consumidos em outros. Isso significa que as emissões associadas aos hábitos de consumo nesses países são muito menores do que as de seus colegas nos desenvolvidos”, informou o relatório intitulado “Desigualdades Extremas e Emissões de CO2″.

De acordo com a Oxfam, a China é o país mais poluidor do mundo, seguido dos Estados Unidos e Índia. Esta última deve alcançar o segundo lugar desta classificação até 2030.

Fonte: Pensamento Verde

Pontes vivas reduzem emissões de carbono e protegem animais


 

 

Travessias verdes sobre rodovias em áreas florestais são apostas de construções sustentáveis.

Travessias verdes sobre rodovias em áreas florestais são apostas de construções sustentáveis.

Erguidas sobre as rodovias que atravessam florestas e reservas naturais, as pontes vivas são passagens verdes que permitem que os animais circulem com segurança em seus habitats, além de cumprirem o fundamental papel de reduzir as emissões de carbono originadas dos automóveis, caminhões e dos centros urbanos de onde partem as estradas. 

Também chamadas de ecodutos, estas estruturas foram primeiramente construídas em países europeus, a exemplo da Holanda e da Alemanha, que possuem rodovias cruzando áreas verdes que servem de moradia para diversos animais – como linces, raposas, veados e outros mamíferos de grande porte. As pontes vivas também foram erguidas em outras partes do mundo, como na América do Norte e na Austrália, mas, infelizmente, ainda não existe este tipo de construção no território brasileiro.


Foto: Zwarts & Jamsa Architects/Divulgação

Um dos exemplos mais bem sucedidos a aderirem a este tipo de construção é o Parque Nacional Banff, no Canadá, com um total de 41 ecodutos, locais em que circulam mais de dez variedades de espécies diferentes de grandes mamíferos acima da TransCanada, movimentada rodovia do país norte-americano.

As pontes verdes não só trazem ganhos para o meio ambiente, como também para quem circula sob elas, uma vez que, quanto maior a presença de vegetais na paisagem, menor o estresse dos usuários, que passam a estabelecer maior contato com a natureza – logo, não é exagero dizer que estas estruturas reduzem direta e indiretamente os acidentes de trânsito.


Foto: bean MOST/Flickr

Para concretizar a alternativa sustentável, os arquitetos e engenheiros sempre precisam observar as camadas de pedra da base da estrutura, respeitar as características do solo, o clima e a vegetação do local. A via de travessia precisa ser coberta por diversas espécies de plantas da flora nativa, a fim de evitar desequilíbrios ambientais de todos os níveis.

Fonte: CicloVivo

Emissões de carbono quadruplicam


Setor energético brasileiro quadruplica emissões de carbono, revela relatório

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Setor de energia inclui produção e consumo de combustíveis e eletricidade
Foto: Cathy/Flickr/CC

O setor de energia (que inclui produção e consumo de combustíveis e energia elétrica) brasileiro quadruplicou seus níveis de emissões dos gases de efeito estufa entre 1970 e 2013, respondendo ao final deste período por 29% do total de CO2 despejado na atmosfera pelo País. Os dados constam de uma análise ampliada divulgada nesta terça-feira, 11 de agosto, pelo Observatório do Clima (OC) ‒ rede que reúne 37 entidades da sociedade civil com o objetivo de discutir as mudanças climáticas no contexto nacional.

Segundo o OC, nenhum outro setor teve crescimento tão acelerado e em níveis tão altos de emissão. A análise permite traçar uma curva de emissões brasileiras em toda a economia e projetá-las para os próximos anos. O resultado é preocupante: embora o Brasil ainda tenha chance de cumprir a meta proposta em 2009 (de reduzir suas emissões em 2020 em relação à tendência), tudo indica que daqui a cinco anos essa trajetória será ascendente.

Isto é: o país estará na contramão da recomendação da ciência de declínio das emissões para evitar os piores efeitos do aquecimento global. Caso o desmatamento na Amazônia saia do controle, nem a meta de 2009 será cumprida.

Os dados foram levantados pelo SEEG, o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa, plataforma de acesso aberto criada pelo OC. Além de relatórios analíticos com informações atualizadas sobre as emissões de cinco setores da economia (agropecuária, energia, processos industriais, mudança de uso da terra e tratamento de resíduos), o SEEG também lançou hoje um documento-síntese, que identifica alguns dos principais desafios do Brasil para reduzir os gases que provocam o aquecimento global. Dessa forma, procura auxiliar na contribuição do País para um futuro novo acordo climático global, a ser firmado na COP21, que será realizado em Paris, em dezembro.

Só nos últimos cinco anos, as emissões da área energética aumentaram 34%

“É muito importante que o Brasil volte ao seu papel de protagonista nas discussões climáticas mundiais. Com essa análise em mãos, a sociedade terá melhor condição de cobrar das lideranças brasileiras a proposição de metas adequadas à realidade do país”, afirma André Ferretti, gerente de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima.

Só nos últimos cinco anos, as emissões da área energética aumentaram 34%. “A expansão se deve à queda da participação do etanol, ao aumento do consumo de gasolina e diesel, além do incremento de geração termelétrica no Brasil”, informa Carlos Rittl, secretário-executivo do OC. Para ele, essa tendência é alarmante, mesmo quando comparada àquele que ainda é o pior vilão das emissões brasileiras, o desmatamento (que respondeu por 35% do total dos GEE do Brasil em 2013).

Montanha-russa de números
O relatório do SEEG traz conclusões positivas, pelo menos, à primeira vista. Por exemplo, o setor de mudança no uso do solo (desmatamento) apresentou uma redução de mais da metade de participação nas últimas duas décadas — de 70%, nos anos 1990, caiu para 35% em 2013. Essa queda, somada a um cálculo inflado de aumento do PIB, foi a principal responsável por colocar o Brasil no trilho de cumprir a meta de reduzir emissões em 36,1% a 38,9% em 2020 em relação à tendência.

No entanto, Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, alerta que não dá para deitar nos louros. “As emissões ligadas à mudança do uso da terra atingiram seu valor mais baixo em 2012 (32%), mas, em 2013, voltaram a subir (para 35%). O principal motivo foi o aumento do desmatamento na Amazônia”, argumenta Azevedo. Como medida elementar para auxiliar na desaceleração do aquecimento global, ele frisa que “é imprescindível acabar com o desmatamento, ilegal e legal”.

Já na área energética, André Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), explica que se registrou no período em foco uma evolução das emissões por fonte primária, com amplo predomínio do petróleo (72% em 2013), seguido do gás natural (17%) e do carvão (6%). “Ao mesmo tempo, a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira, que nos 1990 chegou a superar 50%, caiu para 41% em 2013”.

Panorama total
agropecuária aparece como a terceira maior responsável pelas emissões do Brasil, com 27% do conjunto. Desde 1970, a taxa já cresceu 160%. Os principais contribuintes são o metano emitido pelo gado e o uso de fertilizantes nitrogenados. A grande oportunidade aqui está no manejo correto e na recuperação das pastagens degradadas. “Quando bem manejados, mesmo os pastos podem ajudar a neutralizar carbono, sem dizer que as técnicas acabam por proporcionar um crescimento considerável da produção”, explica Marina Piatto, do Imaflora, que analisou essas estimativas.

Processos industriais é o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no ultimo ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas. Com base nisso, André Ferreira, do Iema, assegura que “a queda dessas emissões depende de aumentos da eficiência energética, inovações em processos, a exemplo do uso de carvão vegetal na siderurgia”.

País não aproveita as oportunidades e as vantagens únicas que uma economia de baixo carbono pode oferecer

setor de resíduos responde pela menor parcela de emissões no Brasil com 3% do total em 2013. A cifra representa um crescimento de 300% desde 1970, porém, com números totalizados muito menores dentro do conjunto de emissões do país. O tratamento correto de resíduos tende, no primeiro momento, a acelerar as emissões, por envolver processos que potencializam as emissões de metano (de lixão para aterro controlado, por exemplo). “Para uma maior eficiência, é necessário universalizar o tratamento biológico de resíduos sólidos e esgoto no Brasil com o aproveitamento do biogás e dos materiais recicláveis”, assinala Igor de Albuquerque, do Iclei, que coordenou o relatório analítico do setor.

Pará, campeão nacional de emissões
Na versão mais recente do SEEG foi possível alocar mais de 90% das emissões de gases de efeito estufa nos Estados brasileiros ao longo de todo o período estudado. Focando em 2013, Pará e Mato Grosso figuram como os maiores emissores do país, devido ao desmatamento e à atividade pecuária. Logo em seguida vêm São Paulo e Minas Gerais, onde predominam emissões do setor de energia (especialmente o transporte) e, no caso mineiro, o gado leiteiro.

Embora o Brasil tenha passado por avanços importantes no que diz respeito às políticas públicas voltadas às mudanças climáticas, as análises do SEEG indicam que o País ainda não incorporou uma estratégia de desenvolvimento que leve em conta o controle das emissões de gases do efeito estufa. “As inciativas do governo federal, derivadas da Política Nacional sobre Mudança Climática, de 2009, têm escala muito tímida, e são frequentemente atropeladas por outras, como os subsídios à gasolina e o incentivo ao carro”, pondera Carlos Rittl. “É como se houvesse dois governos em ação: um que elabora políticas avançadas de descarbonização e outro que sabota sistematicamente essas políticas.”

O resultado é que o País não aproveita as oportunidades e as vantagens únicas que uma economia de baixo carbono pode oferecer. “A governança que sustenta as políticas públicas brasileiras relacionadas às mudanças climáticas não é claramente estabelecida. O País ainda não possui um sistema claro de monitoramento e avaliação para todas as políticas públicas ou para o conjunto de iniciativas sobre mudanças do clima e de cada um dos planos setoriais”, finaliza Rittl.

Sobre o SEEG
O SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) é uma iniciativa do Observatório do Clima que compreende a produção de estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, documentos analíticos sobre a evolução das emissões e um portal na internet para disponibilizar, de forma simples e clara, os métodos e dados gerados no sistema.

As informações são sistematizadas de acordo as diretrizes do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), com base em Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa — elaborado pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) — e em dados obtidos junto a relatórios governamentais, institutos, centros de pesquisa, entidades setoriais e organizações não governamentais.

Entre meados de 2014 e meados de 2015, foi desenvolvida a segunda versão do SEEG que, além de revisar as estimativas para o período 1990-2012 e incluir as estimativas de emissões para o ano de 2013, acrescenta as estimativas de emissões nacionais desde 1970 e, pioneiramente, apresenta uma primeira aproximação da distribuição das emissões por unidade da federação ao longo de todo o período.