Clima: as cidades cada vez mais inóspitas para os jogos de inverno


Apenas metade das cidades que sediaram os Jogos De Inverno entre 1924 e 2010 será beneficiada por um “clima confiável” em 2050, diz um estudo

            

As mudanças climáticas tornarão impossível a organização dos Jogos Olímpicos de Inverno, mesmo em Grenoble e Vancouver onde já ocorreram, revelou um estudo realizado pela universidade de Waterloo.

Em 2080, o número será ainda mais restrito. Não restará mais que seis cidades, dentre as que já recepcionaram os jogos na hipótese do alto cenário do aquecimento global; um aumento de 4,4º C.

 “Simplesmente não haverá frio nos locais internacionais de renome, para acolher com confiança os jogos”, explicou o estudo, dirigido por Daniel Scott, que preside a cadeira de turismo e mudanças climáticasna Universidade de Waterloo, em Ontário.
 

Sotchi e Grenoble na cabeça

Os locais mais afetados são Sotchi, na Rússia, Grenoble na França, Garmisch-Partenkirchen na Alemanha e Chamonix na Suíça. Além de Vancouver no Canadá, Squaw Valley nos Estados Unidos, e ainda Sarajevo, Bósnia e Áustria.
 

No entanto, os Jogos Olímpicos de Inverno poderiam voltar a ser realizados nas instalações da Albertville (1992), Calgary (1988), Cortina d'Ampezzo, Itália (1956), St. Moritz, Suíça (1928 , 48), Salt Lake City, Estados Unidos (2002), Sapporo, Japão (1972), embora o termômetro sobe acima de 4 ° C.
 

O estudo observa que as cidades-sede dos Jogos Olímpicos estão lutando há décadas para se proteger contra os caprichos do tempo.
Gradualmente, desde os anos 50 , o hóquei no gelo, patinagem artística e curling foram realizadas em arenas fechadas, luge e bobsled movidos em pistas refrigeradas e nos anos 80, neve artificial apareceu nas faixas.
Ao mesmo tempo , a temperatura média durante o dia, em fevereiro tem vindo a aumentar nos locais que hospedam os Jogos Olímpicos : o termômetro foi de 0,4 ° C entre 20 e 50 anos, e 3,1 ° C entre 60 e 90. No início do século XXI, esse valor era de 7,8 ° C.

Uma pequena parte deste aumento é devido ao aquecimento global, o outro pelo fato de que o Comitê Olímpico Internacional (COI) está mais inclinado a dar os Jogos para as cidades, onde é mais quente.
Krasnaya Polyana estação de esqui de Sotchi, localiza-se a 568 metros acima do nível do mar, tornando-se o quinto lugar entre os mais baixos da história dos Jogos de Inverno.
O estudo é baseado em cenários do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). A extremidade inferior, 2050, é um aumento de temperatura de 1,9° C em relação à média de 1981-2010, a alta é de 2,1° C e para 2080 é entre 2,7° C e 4,4 ° C.

Fonte: http://www.ledevoir.com/environnement/actualites-sur-l-environnement/398986/climat-des-villes-de-plus-en-plus-inhospitalieres-pour-les-jo-d-hiver

Publicado em 4 de fevereiro de 2014.

Tradução: Matheus Lima.

 

Entenda a segunda parte do 5º. relatório do IPCC


 

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O IPCC (Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da ONU) divulgou neste domingo, em Yokohama no Japão, a segunda parte do 5º Relatório de Avaliação sobre as Mudanças Climáticas Globais que trata dos impactos, vulnerabilidade e adaptação, conforme publicamos aqui.

 

Se a primeira parte do relatório, que tratava sobre ciência do clima, demostrava que o aquecimento global sem precedentes é um fato e as emissões de gases de efeito estufa (GEE) são a principal causa, o segundo relatório mostra que as alterações do clima provocadas por este aquecimento (eg. aumento do nível do mar, acidez dos oceanos e redução da extensão e espessura do gelo nos polos) já estão causando impactos significativos para a vida das pessoas e o ambiente natural tais como perda de produtividade agrícola, aceleração da extinção e deslocamento de espécies, ampliação de danos à infraestrutura e economia por extremos de chuva e seca.

 

O painel de cientistas alerta ainda para o fato de os impactos se agravarem, intensificarem e ampliarem nas próximas décadas caso não tenhamos sucesso em reduzir drasticamente as emissões de GEE.

 

A quantidade de documentação científica disponível para revisão neste 5º relatório do Grupo 2 do IPCC dobrou em relação ao relatório anterior, permitindo aos cientistas aumentar de forma considerável o nível de confiança nos dados do relatório.

 

Este estudo é mais uma peça da mais extensa, completa e profunda revisão do estado da ciência do clima já produzido e deve ser revista e considerada pelos tomadores de decisão nos setores público e privado para que se estabeleçam ações para mitigar as emissões e adaptar as nossas atividades, negócios, infraestrutura e todos aspectos de nossas vidas.

 

A seguir as principais mensagens do Relatório do Grupo II do IPCC:

 

OS IMPACTOS JÁ OBSERVADOS

Nas ultimas décadas, as mudanças climáticas causaram impactos nos sistemas naturais e humanos em todos os continentes e em todos os oceanos. Os impactos nos ecossistemas são mais fortes e abrangentes atualmente, já os impactos nos humanos são mais difíceis de isolar de outros fatores.

 

A figura abaixo mostra os tipos de impactos observados na América Latina. O relatório traz a descrição de impactos para todos os continentes e oceanos. Clique na imagem para ampliar.

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– Em muitas regiões, mudanças na precipitação e no derretimento de neve e gelo estão alterando o sistema hidrológico, alterando a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos;

 

– Várias espécies terrestres, aquáticas e marinhas alteraram sua distribuição geográfica, rotas migratórias, calendário biológico, abundância e até mesmo sua interação com outras espécies, em resposta às mudanças do clima. Os fitoplanctons, por exemplo, têm se deslocado cerda de 400 km por década em busca de águas mais frias;

 

– O impacto das mudanças climáticas sobre a produtividade das principais culturas agrícolas tem sido principalmente negativo, ainda que certas culturas possam até se beneficiar em algumas regiões temperadas. Em geral, os ganhos anuais de produtividades da atividade agrícola caíram de 2% para 1% nas últimas duas décadas. Para algumas culturas, como a do milho, a produtividade já esta caindo;

 

– O impacto das mudanças climáticas observado sobre ocorrência e características de doenças em humanos ainda é pequeno se comparado com outros fatores de estresse e estudos nesta área. Então, precisam ser aprofundados.

 

A NOSSA VULNERABILIDADE

O grau de vulnerabilidade e exposição aos impactos das mudanças climáticas derivam de fatores não climáticos muito comumente relacionados às desigualdades do processo de desenvolvimento. Estas diferenças são determinantes para entendermos os riscos de sermos mais ou menos atingidos pelas mudanças climáticas.

 

O relatório completo, com suas mais de duas mil páginas é recheado de exemplos de impactos relacionados a extremos climáticos recentes como ondas de calor, secas, enchentes, ciclones, incêndios florestais que revelam a vulnerabilidade e exposição de muitos ecossistemas e da infraestrutura humana para lidar com a variabilidade climática atual.

 

Outra constatação importante é que os conflitos violentos aumentam a vulnerabilidade às mudanças climáticas, pois a infraestrutura, as instituições, o capital social e disponibilidade dos recursos naturais são necessários à adaptação aos impactos. E este é um processo que pode se retroalimentar uma vez que estes impactos podem exacerbar situações de conflito.

 

A EXPERIÊNCIA COM ADAPTAÇÃO

Apesar do tom contundente e que fala dos impactos, riscos e vulnerabilidades às mudanças climáticas, o relatório ao tratar da adaptação apresenta elementos para a construção de uma visão mais otimista.

 

É destacado que, ao longo da história, indivíduos, comunidades e sociedades têm se ajustado para se adaptar a mudanças nas condições, variabilidade e extremos climáticos com variados graus de sucesso. A diferença para o processo atual é que os impactos em escala global atingem uma proporção muito maior em um intervalo relativamente pequeno de tempo (algumas décadas).

 

O relatório indica que a adaptação, ainda que de forma limitada, está começando a ser incorporada nos processos de planejamento, especialmente ao analisar opções tecnológicas. Por outro lado, a percepção da importância das tecnologias sociais, arranjos institucionais e adaptações ecossistêmicas cresceram na última década.

 

O relatório descreve dezenas de politicas e casos de adaptação como recuperação e ampliação de ecossistemas de mangue para proteção da costa no Pacífico, instalação de diferentes sistemas de alerta de eventos extremos, programas de pesquisa em adaptação climática de culturas agrícolas, entre outros. Quase um cardápio para planejadores do setor público e privado!

 

OS RISCOS DE IMPACTOS FUTUROS

A avaliação dos riscos de impactos futuros derivados das mudanças climáticas é a parte mais complexa do relatório. O risco de impacto é resultado da interação de três fatores principais:
– a ameaça em questão (ex. aumento do nível do mar; seca severa etc),
– o grau de exposição do ambiente ou população (ex. proximidade ao local da ameaça) e
– o grau de vulnerabilidade (ex. acesso a infraestrutura disponível para enfrentar períodos de seca).

 

A exposição e a vulnerabilidade podem ser alterados ao longo do tempo de acordo com as condições econômicas e sociais, decisões de investimentos e até como consequência de conflitos. Este sistema dinâmico é representado no relatório pela figura abaixo. Clique nela para ampliar.

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Para lidar com esta complexidade de forma didática, desde o 3º relatório do IPCC, as informações de risco são organizadas a partir do conjunto de cinco Razões para Preocupação (RFCs – do termo em inglês – reasons for concern):

(i) Sistemas únicos e ameaçados;
(ii) Eventos climáticos extremos;
(iii) Distribuição de impactos;
(iv) Impacto global agregado e
(v) Eventos singulares de larga escala (ou causadores de pontos de ruptura irreversíveis).

 

A figura abaixo mostra, do lado esquerdo, os cenários mais otimista e mais pessimista para a trajetória de aquecimento global (resultado do relatório do Grupo 1 sobre ciência do clima) e o aumento do risco nas cinco dimensões de RFCs. Clique na imagem para ampliar.

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Os cientistas do IPCC também apresentam análise detalhada dos riscos relacionados a diferentes setores/temas como recursos hídricos, ecossistemas terrestres, sistemas marinhos, zona costeira, produção de alimentos, áreas urbanas, áreas rurais, economia, serviços, saúde humana, segurança e pobreza. E aqui não há boa noticia!

 

O quadro abaixo ilustra os principais riscos e o potencial de adaptação para a América Latina. A mesma informação é apresentada no relatório para todas as regiões do planeta. Clique na imagem para ampliar.

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GERENCIAR RISCOS E CONSTRUIR RESILIÊNCIA

O relatório é categórico em afirmar que a forma mais efetiva de reduzir os riscos é evitar o aquecimento, ou, em outras palavras, reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

 

Mesmo que tenhamos sucesso em reduzir drasticamente as emissões, ainda teremos riscos importantes de impacto derivados das emissões históricas acumuladas e, portando, é preciso gerenciar estes riscos e aumentar a resiliência dos ambientes e sociedade.

 

O relatório propõe princípios e recomendações para ações de adaptação efetivas e, em ultima instância, indica que o aumento de nossa resiliência aos riscos climáticos está diretamente ligado à nossa capacidade de tomar decisões que aumentem nosso espaço de manobra entre as pressões sociais e as pressões do meio físico.

 

Foto: Balazs Gardi/Creative Commons

Texto por Tasso Azevedo

Fonte: Planeta Sustentável

Há pouca preparação para conter mudanças climáticas e seus efeitos, aponta relatório do IPCC


No entanto, ainda há tempo para fazer com que impactos não sejam tão severos

 

 

Seres humanos e o meio ambiente já estão sentindo os efeitos das mudanças climáticas e, caso atitudes não sejam tomadas, o pior cenário pode ser catastrófico. A má notícia é que ainda estamos pouco preparados para efetuar essas alterações nos modelos de reprodução social que afetam o planeta. Essas são, resumidamente, as principais novidades divulgadas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) na segunda parte do seu quinto relatório, batizado de "Sumário para Formuladores de Políticas" e que veio a público no último domingo.

 

Os pesquisadores partem do pressuposto de que o mundo já está pagando o preço pelas emissões ocorridas desde a Revolução Industrial, mas afirmam que há possibilidades de os danos serem amenizados. O relatório prevê cenários para os casos mais otimistas e pessimistas. Mas quanto mais tempo as medidas demorarem para serem tomadas, mais problemas ocorrerão – e podem ser irreversíveis.

 

Cenários

Caso não sejam freadas as emissões de CO2 e de demais gases do efeito estufa, o nível do oceano pode aumentar até 82 cm em 2100. Mas caso medidas sejam tomadas, ele pode aumentar "apenas" 26 cm. Já a alta de temperatura pode variar de 2,6ºC a 4,8ºC, até 2100. As geleiras do Ártico podem ser derretidas de 46% a 94%, novamente até 2100.

 

Onde estão os problemas?

Mas além de estimar os danos máximo e mínimo, o relatório também tenta ser mais concreto com relação aos efeitos das mudanças climáticas nos ecossistemas e na vida humana. O infográfico abaixo é a melhor expressão desse esforço. Nele, são mostrados em que medida incêndios, inundações, problemas com a produção de alimentos, entre outros aspectos, foram causados como reflexo das alterações no clima até os dias atuais.

 

 

Foco no humano

Desta vez, as previsões também dão conta de possíveis conflitos que podem ser causados devido aos efeitos climáticos, como falta de segurança alimentar, aumento de preço dos alimentos e escassez de água – crises que já começam a aparecer nos dias de hoje e que podem afetar principalmente a população pobre de países tropicais, como o Brasil.

 

Amazônia e América do Sul

Talvez a melhor notícia seja a de que o risco de savanização da Amazônia diminuiu mesmo com a possibilidade de grande aumento de temperatura. Isso não significa que o bioma não sofra riscos – eles podem ocorrer principalmente devido à mudança no regime de chuvas, mas mesmo que haja mudança na vegetação, não será uma savanização. A América do Sul, de modo geral geral, sofre riscos de chuvas excessivas, com deslizamentos e enchentes, além de mais dias secos e mais calor.

Para acessar o documento (em inglês), clique aqui.

Fonte: ECycle

Balanço do Clima 2013


Por Tasso Azevedo*

 

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Foi um ano sem grandes avanços na politica climática brasileira e global, mas com vários fatos relevantes como o início da divulgação dos relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, a atualização dos dados de emissão de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil e a publicação dos planos setoriais.

Em 09/05, atingimos pela primeira vez 400ppm de concentração de CO2 na atmosfera. Nos últimos três milhões de anos não atingimos uma concentração tão alta! Este é o limite para entrarmos numa zona em que os cenários de limitar o aumento da temperatura média global abaixo de 2oC se tornam muito improváveis.

No segundo semestre deste ano, os dados da 1ª parte do 5º Relatório (AR5) do IPCC apresentou números contundentes sobre a relação das emissões antrópicas de GEE e as mudanças climáticas globais e o orçamento de carbono de 1.000 Gton de emissões de carbono para todo o períodos de 1880 a 2100, para que tenhamos 66% de chance de limitar o aquecimento médio em 2oC até 2100. Deste orçamento, o IPCC informou que já gastamos 73% até 2011 e dispomos de cerca de 270 Gt para o período de 2012 a 2100, o que dá cerca de 3 GtC/ano em média, portanto muito abaixo das atuais emissões que rondam a casa de 10 GtC/ano.

No Brasil, no inicio de setembro, foi lançado o Primeiro Relatório de Avaliação Nacional sobre Mudanças do Clima (RAN1)  publicado pelo Painel Brasileiro sobre Mudanças Climáticas (PBMC). O relatório, fruto do trabalho de três anos de mais de uma centena de pesquisadores brasileiros traz retrato inédito das mudanças climáticas previstas para o Brasil em diferentes cenários de concentração de gases da atmosfera. As noticias não são boas: aumento médio de até 6oC em algumas regiões da Amazônia, mais chuvas concentradas nas regiões hoje castigadas por enchentes emais seca no semiárido nordestino.

As estimativas de emissões globais de gases de efeito estufa, publicadas por diferentes fontes como o Programa EDGAR na Europa, a Agência Internacional de Energia e oPNUD indicam que, em 2012,  atingimos novos recordes de emissão, tanto de energia como do total das emissões de carbono e emissões totais de todos os gases de efeito estufa em carbono equivalente (~51 GtCO2e). Por outro lado, dados publicados peloJoin Research Center da Comunidade Europeia apontam que, em 2012, aconteceu  a primeira desaceleração do crescimento das emissões sem efeito de uma grande crise econômica global. A queda das emissões dos EUA(principalmente devido à substituição de carvão por gás de xisto) e no Brasil estão entre os principais fatores que compensaram o aumento de emissões da China, Índia e outras economia emergentes.

Em junho, nos Estados Unidos, o Presidente Obama lançou o seu Plano Presidencial de Ação Climática, bastante substantivo, com destaque para regras de restrição objetiva às termoelétricas a carvão que deverão atender a rígidas restrições de emissões, que quase as tornam inviáveis, e a um agressivo plano de metas para melhora de eficiência energética nos setores comercial e residencial em 20% até 2020. Do outro lado do planeta a China, maior emissor global de GEE, anunciouplano de restrição das emissões de siderúrgicas e termoelétricas a carvão. Um dos mais fortes sinais – ao lado dos pesados investimentos em energia renovável – de que o país está lentamente buscando o caminho de uma economia de mais baixo carbono.

Apesar destes sinais positivos vindo dos dois principais emissores de GEE, houveretrocessos importantes na politica de clima de países como Japão Austráliaque, baseados em argumentos puramente econômicos, deram passos atrás em relação a seus compromissos de redução de emissões, diminuindo em vez de aumentar suas ambições, na contramão do que demanda os recentes acordos de Durban e Doha (COPs de Clima de 2011 e 2012).

No Brasil, a política de clima anda a passos lentos. Com mais de um ano de atraso, em junho foram publicados os  Planos Setoriais para Mitigação e Adaptação as Mudanças Climáticas (indústria, mineração, transportes, saúde). Os planos são pouco ambiciosos e não contemplam todos os requisitos regulamentares como as metas tri-anuais de redução de emissões.

Em outubro, foi lançado, no site da ICAO (sigla em inglês para a Organização Internacional da Aviação Civil), o Plano de Ação da Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa na Aviação – que, do ponto de vista de conteúdo é, de longe, o melhor planos setorial produzido no Brasil. Curiosamente, esse plano não é reconhecido como um plano setorial pelos organismos envolvidos na governança de clima.

Aliás, em outubro também, foi feito o primeiro acordo setorial global para enfrentamento das mudanças climáticas, justamente no setor da aviação civil no congresso mundial da ICAO.

Também no segundo semestre de 2013, a primeira proposta de revisão do Plano Nacional de Mudanças Climáticas – lançado originalmente em 2008 com as metas e ações de mitigação do Brasil até 2020 – foi colocada em consulta pública. A revisão, que visava incorporar avanços dos planos setoriais da Política Nacional de Mudanças Climáticas, aprovada em 2009, foi bastante criticada pela inconsistência, falta de avaliação retrospectiva e de cenários futuros e completa falta de ambição.

Mais um ano se passou sem avanços na definição da Estratégia Nacional de REDDque, nos últimos três anos, já teve seu lançamento adiado inúmeras vezes. Em contraste, REDD foi um dos poucos temas de significativo avanço na 19ª Conferencia das Partes da Convenção de Mudanças Climáticas ou COP19 de Clima realizada em Varsóvia, na Polônia, em novembro. O chamado pacote de REDD com quase uma dezena de decisões nos últimos anos foi completado e pode começar a ser operacionalizado no decorrer dos próximos anos.

No setor agrícola, o Programa ABC começou a deslanchar com aplicação de R$ 2,7 bilhões de do programa de safra 2012-2013, em modelos de produção de baixo carbono. Ainda é pouco em relação ao montante total aplicado no Plano Safra(<3%), mas é um avanço importante para o programa iniciado em 2010, com aplicação de apenas R$ 418 milhões. Em 2013, foi implantado o Observatório do Plano ABC, uma plataforma coordenada pelo Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas, que monitora a implantação do programa.

No inicio do ano, foi lançado o Núcleo de Articulação Federativa para o Clima, coordenado pela Casa Civil, com a participação de outros ministérios e os estados, e que tem por objetivo harmonizar as políticas nacional e estaduais de mudanças climáticas. Tendo como ponto de partida um estudo realizado pelo NESA/USP, em parceria como Fórum Empresas pelo Clima, foram estabelecidos dos grupos de trabalho que estão desenvolvendo propostas para harmonizar os sistemas de inventários e relatos de emissões.

Em junho, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT) publicou a atualização dos dados de emissões de GEE no Brasil até 2010  e, em novembro, oObservatório do Clima lançou o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, que apresenta dados das emissões brasileiras de todos os GEE em todos os setores, para o período de 1990 a 2012, tendo como base a metodologia doinventário brasileiro de emissões. Os dados – disponíveis em formato eletrônico e aberto na internet -, apontam um decréscimo das emissões totais do Brasil de 35% entre 2005 e 2012, mas um expressivo aumento das emissões em todos os setores, excetomudança de uso da terra (que inclui desmatamento). As emissões diretas de energia e agropecuária já devem se tornar as principais fontes de emissão nos próximos anos, e a energia deve conquistar o primeiro posto ainda antes de 2015.

Em novembro, sob o impacto de vários eventos climáticos extremos em 2013 (ondas arrasadoras de calor e frio na Europa e EUA, incêndios recordes na Austrália e Costa Oeste Americana e Super Tufão nas Filipinas), os países se reuniram em Varsóvia, naCOP19 do Clima, e não conseguiram avançar na sua principal missão: formular umnovo acordo global de clima a ser acordado e aprovado em 2015 na COP de Paris(leia A conferência Moon Walk  e Alívio no chorinho da prorrogação).

Que 2014 seja um ano de muito mais avanços na agenda climática que nos permitam ser mais ambiciosos, tanto no plano nacional como global de forma compatível com o tamanho do desafio que se agiganta a cada dia mais.

Foto: Daniele Zanni/Creative Commons

*Tasso Azevedo é engenheiro florestal, empreendedor socioambiental e consultor sobre florestas, clima e sustentabilidade. Ele foi diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro e um dos formuladores da Política Nacional de Mudanças Climáticas.

Fonte: Planeta Sustentável