Cada vez mais a sustentabilidade nas construções está deixando de ser novidade em obras de luxo e está se tornando comum em edificações para o público de baixa renda. Recentemente visitei um condomínio de prédios residenciais voltado para a classe média baixa e notei que as descargas dos vasos sanitários eram de duplo acionamento, o piso do estacionamento era do tipo intertravado vazado e os blocos das paredes eram de tijolos ecológicos, que são secados naturalmente, sem precisar de fornos.
Muitas habitações do Projeto “Minha casa minha vida” também seguem uma série de procedimentos construtivos que prezam pelos princípios ecologicamente corretos. Tanto é assim que a Caixa Econômica Federal, financiadora dos empreendimentos, criou o Programa de Construção Sustentável, que, segundo o site da Caixa, “traz o desafio de construir cidades sustentáveis que proporcionem a inclusão de todos os seus moradores com boas condições de vida”. Dentre várias ações executadas em prol de minimizar os impactos ambientais das atividades construtivas, destaca-se a criação do Selo Casa Azul Caixa, um sistema de classificação de sustentabilidade na obra, semelhante ao LEED, Acqua, etc., porém mais voltado para a realidade das peculiaridades das construções habitacionais no Brasil.
E é muito fácil de entender o motivo deste ramo da construção civil estar sendo contemplado pelos preceitos sustentáveis. Basta tomarmos conhecimento dos números que expressam o crescimento de projetos habitacionais de baixa renda nos últimos anos no Brasil. Houve um aumento de 37,5% em crédito imobiliário no ano passado, segundo a Caixa, e os empresários envolvidos nesta fatia do mercado sabem que andar na contra-mão da tendência “verde” é perder dinheiro e credibilidade, por isso estão priorizando projetos de casas que incluam materiais ecologicamente corretos, além de sistemas de uso racional e econômico da água e energia, como kits de captação e reaproveitamento de água de chuva e aquecedores solares.
Mas a popularização das casas sustentáveis, por enquanto, é o que podemos chamar de tendência, não é ainda uma realidade, pois, infelizmente, o custo de se construir uma casa nos moldes tradicionais ainda é mais barato, em torno de 10 a 15%, em relação a uma obra que adota medidas que se importam com o meio ambiente. Porém, tudo indica que esta diferença deve cair e assim tornar o uso racional dos recursos naturais na construção tão popular quanto o carnaval e o futebol, dois ícones amados pelos brasileiros que não eram nada populares quando começaram a existir em nosso país.
Ivana Jatobá é Engenheira Civil graduada na Universidade Católica do Salvador, especializada em Gerenciamento da Construção Civil pela Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia e Mestre em Gerenciamento de Engenharia Ambiental pela University of Technology, Sydney, Austrália. Atua como consultora em implantação de sistema de qualidade ISO 9001 e Meio Ambiente ISO 14000 em canteiros de obras.
Ivana Jatobá escreve às quintas no Universo Jatobá, que é fonte desta notícia.