Mandela e a sustentabilidade


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"Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar” – Nelson Mandela (18/07/1918 – 05/12/13)

 

Um dos maiores símbolos da luta contra o preconceito em toda a história da humanidade, o líder sul-africano Nelson Mandela, de 95 anos, morreu na quinta-feira, 5 de dezembro, devido a complicações de uma infecção pulmonar. O primeiro presidente negro da história da África do Sul dedicou 67 anos de sua vida por um mundo mais justo, por meio do serviço público, como advogado de direitos humanos, prisioneiro de consciência e pacificador internacional.

HISTÓRIA DE VIDA

Mandela nasceu na aldeia de Mvezo, na Província de Eastern Cape. Filho de um chefe da tribo Tembo, recebeu o nome de Rolihlahla. Passaria a ser chamado de Nelson anos mais tarde, em uma escola de religiosos anglicanos. Se tornou bacharelado em Direito em 1943, em Johanesburgo. No mesmo ano, formou a Liga da Juventude do CNA, com os amigos Oliver Tambo e Walter Sisulu. Eleito secretário-geral no ano seguinte, casou-se com Evelyn Mase, com quem teve quatro filhos – apenas um continua vivo.

Em 1948, Mandela coordenou a chamada 'Campanha de Desafio', contra o Apartheid (regime de segregação racial da África do Sul), durante a qual cerca de 8.500 ativistas foram presos. Em 1956, o líder se divorciou de Evelyn. Em 1958, casou-se novamente, com Winnie Mandela, com quem teve duas filhas. No mesmo ano foi preso junto com outros 156 companheiros, acusado de traição – acabou absolvido em 1961 da acusação de traição e passou a atuar na clandestinidade, contudo, voltou à prisão em agosto de 1962.

Era julho de 1964, quando Mandela foi condenado à prisão perpétua (ficou na prisão de Robben Island). Em 1976, no chamado Levante de Soweto, dez mil estudantes negros realizaram uma passeata pacífica. A polícia reagiu abrindo fogo contra as pessoas. O massacre deixou 566 mortos. Em março de 1982, o líder foi transferido para a prisão de Pollsmoor. Até 1986, diversas revoltas contra o Apartheid tomaram conta da África do Sul – o governo de minoria branca decretou estado de emergência. Mandela rejeitou a liberdade condicional proposta pelo presidente Pieter Botha.

LIBERTAÇÃO DE MANDIBA

Em 1987, a CNA e ativistas brancos antiapartheid assinaram um manifesto pela libertação de Mandela. Todavia, só em 11 de fevereiro de 1990 o governo de Frederik de Klerk apresentou medidas liberalizantes e anunciou a liberdade do líder, que deixou a prisão. O fim do Apartheid acabou decretado em 17 de novembro de 1993 – Mandela divide com De Klerk o prêmio Nobel da Paz. Em abril de 1994, Mandela venceu a primeira eleição multirracial da África do Sul e se tornou o primeiro presidente negro do país. Ficou no poder até 1999.

Já em 1998, Mandela se casa com Graça Machel. No mesmo ano, faz um discurso na Universidade de Harvard, nos EUA, e é muito aplaudido. Em 2004, ele anuncia que se retira da vida pública. Sua última aparição pública se dá em abril de 2013. Após sair do hospital em Pretória, onde ficou internado por conta de uma infecção pulmonar, é filmado ao lado do atual presidente sul-africano, Jacob Zuma.

LEGADO DE SUSTENTABILIDADE

O dia 05 de dezembro é conhecido internacionalmente como o dia do voluntário. Do dicionário, ser voluntário significa fazer algo sem coação e nem imposição de ninguém. É servir ao próximo, é fazer além daquilo que está legalmente instituído, é, enfim, ser a mudança que se espera do mundo. Todos aqueles que atuam em áreas relacionadas à sustentabilidade se sentem um pouco dessa forma: parte de uma mudança pretendida.

Nelson Mandela, um dos símbolos da liberdade, justiça social, direitos humanos e da paz, que naturalmente lutou como voluntário, foi a mudança que desejou ver no mundo. No dia do voluntário, passa para uma nova fase. Deixa as lutas diárias e de ser referência viva na luta pela paz e liberdade, para ser símbolo eterno das mudanças que desejou.

Ícone dos séculos XX e início do XXI, fora homenageado pelas Nações Unidas, quando esta declarou o 18 de julho como o “Dia Internacional de Nelson Mandela” – a data, aliás, corresponde ao seu aniversário. Madiba, como também era chamado, desempenhou diversos papéis: de advogado, de prisioneiro político, de pacificador e de primeiro presidente democraticamente eleito na África do Sul, sempre de maneira voluntária, por vontade própria.

Por esses e outros motivos, deixa o seu legado para a humanidade e para a sustentabilidade, pois lutar por igualdade e direitos fundamentais também é pensar no futuro comum, no bem do próximo e daqueles que ainda virão.

Fonte: EcoDesenvolvimento e Pegada Sustentável

Perto dos 25 anos da morte de Chico Mendes, a luta do ambientalista pouco avançou


              

Quando foi enviado ao Acre para cobrir o assassinato de Chico Menos pelo Jornal do Brasil, o jornalista Zuenir Ventura tinha 33 anos de carreira, um currículo invejável e, conta-se a lenda, nenhum centímetro de simpatia pelo movimento ambientalista.

Na volta, um mês depois, não estava somente completamente convertido à causa, como também escreveu uma série de reportagens suficientes para levar o maior prêmio de jornalismo do ano, o Esso, conteúdo que resultou ainda em um livro considerado uma das maiores obras do jornalismo literário brasileiro: Chico Mendes: crime e castigo.

Zuenir Ventura participou no dia 14 de novembro de um Café Literário na XI Bienal Internacional do Livro da Bahia. Ao lembrar um pouco do seu primeiro best-seller 1968: o ano que não terminou – escrito um pouco antes da morte de Chico Mendes -, Zuenir comentou sobre as manifestações de junho e a importância do otimismo nos jovens.

“Os jovens de junho queriam quebrar paradigmas. Será uma pena se aquelas manifestações não forem retomadas, pois a pior coisa que pode acontecer na juventude é o desencanto”, declarou ele, que também criticou a violência empregada pelos Black Blocks. “Em 68, não tinha ninguém de cara escondida e o contexto era bem pior – não só se poderia ir preso, como torturado”.

             

Legado

Com pouco menos de um mês para o aniversário do assassinato de Chico Mendes (22 de dezembro de 1988), Zuenir conversou com o EcoD sobre o legado do líder ambientalista. “O Chico (Mendes) foi realmente o protomártir dessa luta pelo meio ambiente, sobretudo pela preservação da Amazônia. Ela escreveu a questão amazônica na pauta da agenda mundial”, afirma.

“Por que logo ele? A pergunta, meio desconfiada, foi seu único gesto de resistência, ao ouvir a encomenda. A resposta era fácil. Porque era o melhor repórter disponível para a empreitada (…) Topou com meia dúzia de piadas, como é de seu estilo. E seu trabalhou saiu muito mais sério do que a encomenda, como também é de estilo. Foi ao Acre por quatro ou cinco dias. Ficou um mês. Ao voltar, não trazia só a reportagem que no fim do ano ganharia o prêmio Esso. Trouxe mais. Trouxe um modelo de cobertura jornalística que, sem ter uma linha de isenção, conseguia mostrar todos os lados de uma história que, no fundo, tinha um lado só”
(Marcos Sá Correia, editor do Jornal do Brasil à época, no posfácio do livro).

Para o autor, embora haja uma maior consciência ambiental atualmente, pouco se avançou nessas duas décadas e meia na principal luta travada pelo líder seringueiro: a conservação da Floresta Amazônica. “Apesar de tudo [de Chico ter deixado uma grande lição e uma grande discípulo, Marina Silva] ainda há muito a se fazer pela preservação da Amazônia”, acredita ele.

“Ontem eu vi uma manchete afirmando que cresceu o desmatamento na Amazônia. Ou seja, tudo que ele não queria, tudo pelo qual ele morreu. Se por um lado hoje há uma consciência na sociedade – quando ele morreu ninguém sabia nem quem era ele direito – por outro lado há essa complacência com a destruição de nossas florestas”, completa Zuenir.

               

Fonte: http://www.ecodesenvolvimento.org/

Laísa Mangelli