Pra onde vai o lixo que você produz?


"Aumentando a escala e a cobertura da reciclagem, abrindo novas frentes de reaproveitamento do lixo, inclusive o orgânico, São Paulo avança no enfrentamento de um dos maiores desafios ambientais de nossas cidades", escreve Raquel Rolnikurbanista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, em artigo publicado por Mercado Ético25-06-2014.

       

Eis o artigo.

Muita gente já separa em casa o lixo seco do lixo orgânico, mas pouco sabemos que destino têm esses materiais, o quanto de fato é aproveitado para reciclagem, se é possível aproveitar o lixo orgânico pra alguma coisa… Enfim, a destinação final do lixo que produzimos é uma das grandes preocupações de nossas cidades hoje. A maior parte do lixo ainda vai para aterros sanitários, cada vez mais distantes e com enorme impacto sobre as áreas onde estão instalados. Afinal, quem quer conviver com um aterro do lado de casa ou do trabalho?

Para se ter uma ideia, na cidade de São Paulo, hoje, temos coleta seletiva em 46% dos domicílios, mas menos de 2% do nosso lixo é de fato reciclado. Ou seja, não adianta ter coleta seletiva se não reaproveitamos de fato esse material. Com o objetivo de aumentar nossa capacidade de reciclar, a prefeitura de São Paulo inaugurou, no início deste mês, a primeira central de triagem mecanizada de resíduos recicláveis da América Latina, na Ponte Pequena, região do Bom Retiro, com capacidade para processar até 250 toneladas de lixo reciclável por dia.

Um dos grandes limites para a ampliação da reciclagem é justamente o acúmulo do material reciclado e a dificuldade de encaminhá-lo para reuso, por ser muito volumoso. Se ele fica acumulado em grandes quantidades em centrais de reciclagem, sejam estas de cooperativas de catadores ou de empresas, isso também limita enormemente o potencial de expansão da capacidade de reciclar da cidade. Com a mecanização, o lixo separado é prensado mecanicamente, diminuindo de volume e, assim, podendo ser transportado mais facilmente.

A receita gerada pela comercialização dos materiais processados pela central constituirá o Fundo Municipal deColetiva Seletiva, Logística Reversa e Inclusão de Catadores. Este fundo viabilizará a contratação de cooperativas de catadores que atuarão dentro da central – na triagem dos materiais e na operação das máquinas, por exemplo – e, ainda, permitirá parcerias com outras cooperativas, que continuarão atuando externamente na coleta seletiva. A gestão do fundo será feita por um conselho formado por 9 integrantes, sendo três da sociedade civil, três do governo municipal e três das cooperativas de catadores.

Ao incorporar as cooperativas na implementação deste novo sistema de coleta seletiva, espera-se melhorar as condições de trabalho dos catadores e, ainda, aumentar sua remuneração. A partir da instalação da central, a expectativa é ampliar o percentual de lixo reciclado em São Paulo para 10% até 2016. Além disso, até esta data, a prefeitura tem como meta fazer com que a coleta seletiva atinja todos os domicílios da cidade.

Ainda sobre esta questão da destinação do lixo, uma outra boa notícia recente é o lançamento do projeto Composta São Paulo, iniciativa da sociedade civil, encampada pela Prefeitura, que distribuirá inicialmente para dois mil domicílios composteiras domésticas, mais conhecidas como minhocários. Estas composteiras transformam o lixo orgânico em adubo e podem ser acondicionadas em quintais, áreas de serviço, garagens e mesmo em cozinhas.

Essa é uma iniciativa importantíssima se considerarmos que 51% do lixo produzido em nossas casas são resíduosorgânicos, ou seja, que não podem ser reciclados e vão direto para os aterros sanitários. Para participar do projeto e receber a composteira é necessário se cadastrar no site até o dia 27 de julho: www.compostasaopaulo.eco.br. O projeto prevê também oficinas de compostagem e plantio.

Aumentando a escala e a cobertura da reciclagem, abrindo novas frentes de reaproveitamento do lixo, inclusive o orgânico, São Paulo avança no enfrentamento de um dos maiores desafios ambientais de nossas cidades.

Fonte: IHU – Unisinos

Saiba como resolver o problema do lixo orgânico em sua casa de forma sustentável


Já utilizada há muitos anos no meio rural, pela agricultura familiar, a compostagem com minhocas (vermicompostagem) através do uso de minhocários parece agora atrair o gosto de moradores de grandes centros urbanos. Essa forma de lidar com o material orgânico de forma sustentável recebe diversos nomes, como compostagem doméstica, caseira, residencial, e é indicada como uma possível solução para a problemática dos resíduos sólidos (veja aqui matéria sobre o uso da compostagem em grandes cidades).

O problema ambiental do lixo

Diariamente, é gerada uma enorme quantidade de lixo nas grandes cidades. Segundodados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 52% do volume total de resíduos produzidos no Brasil é de material orgânico. E tudo isso vai parar em aterros sanitários, onde tais resíduos são depositados com os demais tipos de lixo e não recebem nenhum modo de tratamento, o que gera a emissão de gás metano (CH4), um gás cerca de 25 vezes mais nocivo e agressivo para o meio ambiente do que o gás carbônico ou dióxido de carbono (CO2). A compostagem pode evitar a emissão e lançamento do gás metano na atmosfera, diminuindo sua contribuição para o desequilíbrio do efeito estufa e as mudanças climáticas, além de diminuir o volume de lixo destinado a aterros sanitários e lixões, o que geraria uma economia para o Estado e aumentaria o tempo de vida desses aterros.

A compostagem pode ser vista como uma forma de reciclagem de matéria orgânica. A fração do lixo que é orgânica é tratada naturalmente e se transforma em uma biomassa altamente nutritiva, que pode ser aplicada em jardins e hortas, como adubo. Veja o que é, como fazer e o passo a passo de como funciona esse método sustentável e saudável de reaproveitamento da matéria orgânica.

O que é a vermicompostagem?

Desde os primórdios o homem aprendeu a observar a natureza e tirar proveito de seus recursos. Logo, foram desenvolvidas técnicas para diferenciar solos pobres de solos férteis, e um dos principais elementos que ajudava nessa percepção era a presença de minhocas. O termo vermicompostagem é usado para denominar o processo de transformação biológica de resíduos de origem orgânica, em que as minhocas são responsáveis por acelerar o processo de decomposição da matéria orgânica. O uso do vermecomposto ou húmus, nome dado ao produto gerado pelas minhocas, tem se mostrado uma forma eficiente, relativamente barata, sustentável e de baixa agressividade para a melhora da qualidade e fertilidade do solo.

As minhocas

Uma parte importante da vermicompostagem é feita pelas as minhocas. Acredita-se que, no mundo todo, existam mais de 8 mil espécies diferentes de minhocas. No Brasil, são conhecidas mais ou menos 260 espécies – em sua maioria nativas. A espécie mais indicada para a produção de húmus é a Eisenia fetida Savigny, mais conhecida como minhoca vermelha-da-califórnia –  isso se deve a sua capacidade de se adaptar facilmente às condições de cativeiro, à grande produção de húmus e à  alta velocidade de reprodução; mas não acredite na lenda de que, quando cortada, a minhoca se regenera dando origem a duas minhocas – dependendo do lugar do corte, a minhoca pode até morrer.

Ao contrário do que muitos pensam, as minhocas não são animais sujos e nem transmitem doenças, e podem ser utilizadas no seu lar sem gerar problemas (veja mais aqui). Criar minhocas pode ser como criar um animal de estimação qualquer, sendo que ainda lhe oferecem uma contribuição valiosa no apoio à decomposição de seus resíduos.

Na cidade

Com o aumento da conscientização ambiental, o mercado conseguiu adaptar-se às novas exigências e desejos do consumidor, criando novas tecnologias que cabem no dia a dia corrido das grandes cidades. Hoje, existem no mercado diferentes tipos decomposteiras disponíveis, para todos os gostos, bolsos e tamanhos de família.

Uma boa alternativa que pode ser utilizada na sua casa ou apartamento é composta por uma tampa e três ou mais caixas empilháveis de plástico opaco. A quantidade  de caixas e sua dimensão depende diretamente da demanda familiar, sendo as duas que ficam no topo e que são chamadas de digestoras, com furos no fundo – onde acontece toda a "mágica"; há também uma caixa coletora, a base, que serve para armazenar o chorume produzido no processo. É um método prático e simples de se compostar material orgânico (veja aqui um Guia de Compostagem com mais informações sobre métodos de compostagem).

Como funciona?

As duas primeiras caixas servem para para deposição dos resíduos orgânicos. Cerca de 200 minhocas ficam divididas entre os dois recipientes. Dependendo da quantidade de alimento disponível e do espaço, as minhocas conseguem auto-regular sua população. Na caixa do topo, você deve adicionar os restos de comida, como cascas de legumes, frutas; evite colocar alimentos com muita gordura, laticínios, espinhos de peixe, ossos, excesso de frutas cítricas (que em grande quantidade pode alterar o pH e acidificar o composto – ruim para as minhocas e para as plantas), carnes e frutos do mar (veja aqui o que pode e não pode ir na sua composteira à base de minhocas). 

A umidade é um aspecto dos mais importantes, uma vez que o composto demasiado úmido pode propiciar a formação e retenção de gases e ou mesmo dificultar a mobilidade das minhocas. Equilibrar a matéria orgânica molhada (suas sobras de comida) com matéria orgânica seca (serragem de madeira não tratada, folhas, etc) torna o ambiente ideal para que a composteira funcione e suas minhocas entrem em ação. Depositados os resíduos, cubra-os com o material seco. 

Recomenda-se como que em um passo-a-passo que os resíduos sejam depositados sucessivamente em fileiras (preferencialmente picados) e a seguir em camadas, preservando-se sempre no lado oposto uma camada de composto pronto, húmus livre de resíduos que servirá para o que se chama de "cama". A “cama” é como um local de segurança, onde as minhocas se sentem confortáveis, devendo existir em ambas caixas digestoras. Elas migrarão por todas as caixas, subindo e descendo, sempre usando os furos. Algumas podem, inclusive, ir para a caixa que recolhe o chorume, por isso é importante estar sempre atento para que elas não morram afogadas. Para evitar que isso aconteça, além da supervisão, deposite um pedaço de tijolo em um dos cantos da caixa, assim elas poderão utilizá-lo como escada para subir para a caixa superior. Depois que essa primeira caixa esteja cheia, será preciso trocá-la de lugar com a imediatamente abaixo, de modo que as minhocas possam trabalhar livremente enquanto a outra caixa recebe novos alimentos. Trate de proteger sua composteira do sol, posicione-a na sombra, pois o aquecimento no processo de compostagem ocorre naturalmente e as minhocas ficam bem assim.

Simultaneamente, ocorre a produção do chorume, que escorre das duas primeiras caixas e fica armazenado na última – ela tem uma pequena torneira para facilitar a sua coleta. Esse chorume não é tóxico e nem prejudica o meio ambiente. Trata-se de um líquido orgânico ou biológico, que é um biofertilizante líquido, rico em nutrientes e sais minerais e que também pode ser usado como adubo e pesticida. Basta dilui-lo em água, em uma proporção de 1/5 até 1/10, e borrifar nas folhas de sua horta caseira ou nas plantas de sua casa.

À medida que os alimentos são absorvidos, as minhocas migram para a caixa superior em busca de mais comida. Assim que o ciclo de produção estiver completo,o composto está pronto para ser utilizado em jardins, vasos e horta. Uma caixa digestora cheia leva de 30 a 60 dias para que todo o alimento seja decomposto. Após este período é possível utilizar o húmus nas plantas e liberar a caixa para uma próxima rodada de compostagem. Não devemos esquecer de deixar sempre uma "cama" para as minhocas na caixa vazia, mesmo em razão de que a decomposição não é feita exclusivamente pelas minhocas, mas por toda uma microfauna associada a elas e que garantem presença na "cama".

Para entender melhor o processo você pode curtir o video a seguir que detalha o passo-a-passo sobre como funciona e como fazer sua própria de compostagem doméstica:

             

Matéria originalmente publicada no poral eCycle

Fonte: Cidades Sustentáveis

Em São Paulo, lixo orgânico de feiras livres vai virar adubo.


Projeto quer reutilizar podas das árvores e lixo das feiras livres. O objetivo é construir soluções de coleta e tratamentos para resíduos, ajudar produtores rurais com adubo, diminuir o lixo transportado e aumentar a vida útil dos aterros

                            

A Prefeitura de São Paulo pretende tirar 62 mil toneladas anuais de resíduos orgânicos que hoje são destinados para aterros  e transformar o material em adubo. Hoje, 53% do lixo coletado é orgânico e não é aproveitado. Caso fosse levado para centrais de compostagem, a emissão de gás metano, que gera efeito estufa, diminuiria 20 vezes.

A ideia é criar quatro centrais de compostagem até 2016. Cada uma delas deve ter custo mensal de R$ 500 mil, valor equivalente ao gasto para transportar e enterrar o lixo das feiras livres em aterros. O programa espera economizar 30% na limpeza das feiras.

Em fase de testes

Uma feira livre de São Mateus, zona leste, está servindo como testes para o projeto. Todo o lixo orgânico ali produzido deixou de ser enviado para o aterro que fica na divisa com Guarulhos para compostagem no próprio bairro.

Os próprios feirantes têm colaborado, descartando os restos de frutas e verduras nas caçambas que serão destinadas para compostagem, diminuindo o lixo jogado no chão. A Prefeitura quer transformar 2 garis em agentes ambientais, que vão acompanhar a coleta, transporte e compostagem.

Cerca de 40 agricultores da zona leste já estão aguardando o adubo da feira livre de São Mateus, o que pode baratear a produção e o custo final dos alimentos.

Foto: Ambiental – UFSC

Fonte: Catraca Livre