Meio físico e meio ambiente


                          

O meio físico representa o substrato físico onde a vida se desenvolve. O grande diferencial no estudo do meio físico é o fator tempo. O planeta terra tem aproximadamente 4,5 bilhões de anos. Para medir o tempo geológico são utilizados elementos radioativos contidos em certos minerais.

Estes elementos são os relógios da terra, pois sofrem um tipo especial de transformação que se processa em ritmo uniforme. Por este processo chamado radioatividade, algumas substâncias se desintegram, transformando-se em outras. Medindo as duas substâncias na rocha, podemos saber com precisão a idade.

Pela teoria mais aceita, estima-se que a formação do sistema solar teve início há seis bilhões de anos, com a contração das nuvens gasosas da Via Láctea. A poeira e os gases desta nuvem se aglutinaram pela força da gravidade, e a cerca de 4,5 bilhões de anos formaram-se várias esferas, que giravam em torno de uma esfera maior de gás incandescente que deu origem ao sol.

As esferas menores formaram os planetas, dentre eles a Terra. Devido à força da gravidade, os elementos químicos mais pesados, como o ferro e o níquel concentraram-se no núcleo, enquanto os mais leves como o silício, o alumínio e os gases permanecerem na superfície. Estes gases foram em seguida varridos da superfície do planeta por ventos solares.

Antigamente se dizia que o meio físico não tinha vida, mas após a tectônica de placas fica sem sentido dizer que a terra é inanimada. A terra pode ser comparada com um ovo. Um ovo tem gema, clara e casca, enquanto a terra tem um núcleo central equivalente à gema, uma porção intermediária denominada manto, que equivale à clara do ovo e uma última porção externa, chamada crosta, que equivale à casca do ovo.

Assim, foram sendo separadas as camadas com propriedades químicas e físicas distintas no interior do globo terrestre. Há cerca de 4 bilhões de anos, formou-se o núcleo, constituído por ferro e níquel no estado sólido, com um raio de 3.700 km. Em torno do núcleo formou-se uma camada denominada Manto, que possui aproximadamente 2.900km de espessura, constituída de material em estado pastoso, constituída por silício e magnésio.

Após, cerca de 4 bilhões de anos atrás, gases do manto se separam, formando uma camada ao redor da Terra, denominada Atmosfera, com características muito semelhantes com as atuais. Na última fase, cerca de 3,7 bilhões de anos atrás, solidifica-se uma fina camada de rochas, denominada Crosta. Este material não é homogêneo. Embaixo dos oceanos tem aproximadamente 7 km de espessura, e é constituída por rochas de composição semelhante ao manto, de composição ferro-magnesiana. Nos continentes, a espessura da crosta aumenta para 30 a 35 km, sendo composto por rochas formadas por silício e alumínio e, portanto mais leves que nos fundos de oceanos.

As transformações da Terra são causadas por movimentos que ocorrem na estrutura da terra, que comparamos a um ovo. No núcleo da terra, em função do decaimento radioativo dos elementos químicos, ocorre grande produção de calor. Esta energia produz correntes de convecção no manto da terra. Estas correntes produzem lavas nas margens de construção de continentes, que movimentam as placas continentais, subaéreas ou subaquáticas.

As correntes de convecção no manto, produzidas pelo aquecimento a partir do Núcleo, movimentam os continentes num processo denominado DERIVA CONTINENTAL.

O estudo do fundo do oceano Atlântico mostrou a existência de uma enorme cadeia de montanhas submarinas, formadas pela saída de magma do manto. Este material entra em contato com a água resfria torna-se sólido e dá origem a um novo fundo submarino, e à medida que cresce empurra o continente africano para leste e o continente americano para oeste, por exemplo. Este fenômeno é conhecido como expansão do fundo oceânico, e ocorre nas chamadas margens construtivas de placas.

Este mesmo processo ocorre em outras partes do planeta e faz com que os continentes se movimentem como objetos em uma esteira rolante. Para compensar a criação de placas na margem construtiva ocorre a destruição de placas nas chamadas margens destrutivas, onde as placas se chocam e as rochas de suas bordas sofrem enrugamentos e dobras sob condições de altas temperaturas e pressões, originando terremotos, dobramentos e falhamentos.

Com base nestes estudos e considerando as datações radiométricas, imagina-se que os continentes da terra estivessem agrupados há cerca de 200 milhões de anos atrás numa massa continental denominada Pangea. Então, movidas pelo processo de dinâmica interna, as placas teriam se movimentado lentamente, com a razão mínima de 2 cm/ano a 7 cm/ano até atingir a situação atual.

O movimento das placas é causado pelo vulcanismo, que se origina pela saída de rochas fundidas, denominadas Magmas, nas fissuras meso-oceânicas das denominadas margens criativas ou de construção.

No Brasil, também ocorrem terremotos e vulcões. Os terremotos são muito raros e de pequena intensidade, e somente são encontrados restos de vulcões extintos. Isto ocorre devido à localização do Brasil, que se situa distante das margens construtivas ou cadeias meso-oceânicas e longe das margens destrutivas ou zonas de subdução ou colisão.

Texto escrito por Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

 

Fonte: EcoDebate

Ama o ambiente como a ti mesmo


 

Ama o ambiente como a ti mesmo. Artigo de Gianfranco Ravasi

 

A encíclica papal Laudato si' nos desafia a superar um excessivo antropocentrismo, sem por isso diminuir a missão humana na criação e sem cair em uma santificação do mundo.

A opinião é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado no jornalIl Sole 24 Ore, 10-01-2016. A tradução é deMoisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Já se passaram vários meses desde junho passado, quando foi publicada a encíclicaLaudato si' do Papa Francisco. Nesse período, eu tentei acompanhar, inclusive através de clipagens da imprensa, o mar midiático das reações. Um mapeamento é praticamente impossível, mas é evidente que o setor mais amplo é ocupado pelas resenhas ecológico-econômico-políticas, justificadas também pelo espaço reservado a tais questões no documento.

Menor e às vezes nuançadas até a evanescência espiritualista são as de marca mais claramente teológica, embora na consciência do fato de que o segundo e o sexto capítulos são definidos justamente segundo tal perspectiva.

"Deus escreveu um livro estupendo, cujas letras são representadas pela multidão de criaturas presentes no universo", afirma-se no número 85, referindo-se diretamente a uma citação de João Paulo II, mas aludindo também a um dossiê bíblico que se move nessa linha e que fundamenta a aplicação da "analogia" teológica segundo a qual, a partir da criação, é possível ascender indutivamente ao Criador.

Lapidar, a esse respeito, é o livro bíblico da Sabedoria, retomado, aliás, também por São Paulo na Carta aos Romanos (1, 19-20): "A grandeza e a beleza das criaturas fazem, por comparação, contemplar o Autor delas" (13, 5).

Até agora, a criação era adotada na teologia segundo essa perspectiva dentro de um tratado tradicional e emblematicamente denominado De Deo creante, ou era assumida em chave moral e, portanto, antropológica pelo chamado "cuidado da criação". Um dado, este último, relevante na encíclica, mas já basilar na própria Bíblia desde as suas páginas de abertura, muitas vezes incompreendidas e criticadas.

Significativo a esse respeito é a passagem do Gênesis 1, 28, no qual o Criador se dirige ao homem convidando-o a "submeter a terra" e a "dominar" sobre os seres vivos terrestres. Na realidade, os dois verbos hebraicos usados exigem uma semântica mais nuançada e até sugestiva: kabash-submeter originalmente remete ao assentamento em um território que deve ser vasculhado e conquistado, enquanto radah-dominar é o verbo do pastor que guia o seu rebanho.

O homem, por isso, receberia de Deus uma delegação que é expressa no Gênesis 2, 15 com outro par verbal significativo: o Criador o colocou sobre a terra "para que a cultivasse e a guardasse". Curiosamente, os dois verbos hebraicos usados, 'abad e shamar, designam também o serviço cúltico e a observância da lei divina, fundamento da aliança entre Deus e o Seu povo. Portanto, há uma aliança sagrada primordial entre criação e criatura humana.

Essa centralidade do homem na visão bíblica, se tem o mérito de desmitificar a natureza, redirecionando-a à sua realidade imanente e não panteísta, e, portanto, de exaltar o compromisso do trabalho e da ciência, porém, tendencialmente redimensionou a natureza, funcionalizando-a às finalidades do homem. Muitas vezes, este se esqueceu da sua "fraternidade" com a terra, isto é, a sua "materialidade" reiterada pelo Gênesis 2, 7: "O Senhor Deus modelou o homem com a argila do solo…", e se comportou não como delegado-tutor divino, mas como tirano, a tal ponto que o próprio Gênesis deve registrar a devastação ambiental através da imagem de um panorama do estepe povoado de espinhos e cardos e grama selvagem (3, 18).

Esse antropocentrismo, exasperado por uma certa teologia e prática pastoral, solicitou, com o florescimento da sensibilidade ecológica moderna, um ato de acusação contra a concepção judaico-cristã, vista como a causa da crise ambiental. A líder dessa denúncia foi Lynn White, em um artigo que apareceu na revista Science de 1967, traduzido em italiano na revista Il Mulino de 1973, com um título eloquente: "As raízes históricas da nossa crise ecológica".

Dentre outras coisas, observava-se, por parte de alguns, que na própria arte cristã a paisagem era apenas funcional ao protagonismo humano, ao contrário das própria ações, parábolas e metáforas de Jesus, que, embora estando finalizadas a uma mensagem teológica, apresentavam uma natureza e uma corporeidade dotadas de uma densidade própria.

Muitos viram uma reviravolta durante o Renascimento, por exemplo na enigmática Tempestade, de Giorgione (imagem acima), onde as criaturas humanas são encaixadas em uma paisagem que é predominante. É interessante notar que, na Teoria da natureza atribuída a Goethe (alguns, porém, atribuem o ensaio a um cientista contemporâneo dele,Georg Christoph Tobler), observava-se que "a matéria não existe nem jamais pode ser eficaz sem o espírito, e o espírito, sem a matéria".

Ora, para voltar à teologia cristã, depois da encíclica do Papa Francisco, deveria ser mais bem reconstruída a reflexão sobre a criação, considerando-a mais em si mesma e não como mero cenário da humanidade. Santo Agostinhoconvidava a "venerar a terra", certamente sem idolatrá-la, mas lhe atribuindo uma identidade própria.

Superar, portanto, um excessivo antropocentrismo, sem por isso diminuir a missão humana na criação e sem cair em uma santificação do mundo. Ainda em 1993, a Associação Teológica Italiana tinha publicado as atas de um congresso seu sob o título A criação. Além do antropocentrismo? (Ed. Messaggero, Pádua). Seria importante, consequentemente, inserir no discurso teológico – mesmo que acordo de acordo com as específicas epistemologias – temas levantados pelos âmbitos científicos, filosóficos e socioeconômicos, como fez o próprio Papa Francisco.

A sua encíclica vai provocar, portanto, uma série de reflexões teológicas mais articuladas a respeito, para além das primeiras reações gerais às quais se mencionava, muitas vezes apenas parenéticas.

Por enquanto, devemos assinalar que alguns teólogos, com modalidades diferentes, já sublinharam a urgência de uma ecologia teológica. Na Itália, destacou-se, em nível metodológico, Franco Giulio Brambilla, atualmente bispo de Novara, que esboçou uma Teologia da Natureza dentro de um tratado, porém, ainda, de antropologia. Ele se movia no rastro de dois importantes teólogos protestantes, Jürgen Moltmann e Christian Link, que dedicaram textos significativos à questão. Outros também intuíram a necessidade de uma revisão teológica nos seus tratados sobre a criação, mas sem proceder a um projeto novo e sistemático.

Concluamos ainda com uma referência à encíclica que, mesmo sem elidir a peculiaridade e a responsabilidade do ser humano e sem cair na divinização panteísta da natureza, declara: "Sendo criados pelo mesmo Pai, estamos unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal, uma comunhão sublime que nos impele a um respeito sagrado, amoroso e humilde" (n. 89).

Poderíamos, então, conjugar o célebre preceito bíblico do amor ao próximo – como sugeriu Enzo Bianchi, o prior daBose – também em outra direção: "Ama a terra como a ti mesmo".

Fonte: IHU

Aumentam os apelos para que se evite um fracasso da COP25


Ativistas climáticos protestam na Conferência sobre Mudança Climática da ONU COP25, em Madri (AFP)

De Greta Thunberg ao Greenpeace, os apelos para que o lema da COP25, “Hora de Agir”, não fique apenas no papel se multiplicaram nesta quarta-feira em Madri, onde a comunidade internacional prossegue discutindo a crise climática.

Até sexta-feira, cerca de 200 países estão convocados a impulsionar o Acordo de Paris, concluindo aspectos técnicos importantes, como o funcionamento dos mercados de carbono, além de mostrar sua disposição de fazer mais para limitar o aquecimento a menos de +2 graus e, se possível, + 1,5 grau.

Mas a falta de progresso da comunidade internacional diante da emergência climática decretada pelos cientistas e a mobilização dos cidadãos provocaram discursos raivosos em Madri.

Thunberg, nomeada nesta quarta-feira “Personalidade do ano” pela revista Time, lamentou que “nada esteja sendo feito” e, o que é pior, acusou os países ricos de enganar com metas ambiciosas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

A maioria dos estados trabalha com objetivos de redução de emissões de médio prazo e uma das questões centrais das negociações é a necessidade de aumentar a ambição de cada um.

“Um punhado de países ricos prometeu reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em X por cento nesta ou naquela data, ou alcançar a neutralidade do carbono em X anos”, afirmou a jovem militante sueca.

“Pode parecer impressionante à primeira vista (…), mas isso não é liderança, é engodo, porque a maioria dessas promessas não inclui a aviação, transporte ou importação e exportação de mercadorias. Em vez disso, incluem a possibilidade de que os países compensem suas ambições fora de suas fronteiras”, denunciou, lembrando as disposições do Acordo de Paris.

Thunberg pediu aos países ricos que assumam sua responsabilidade e atinjam a meta de “zero emissões de uma maneira muito mais rápida e depois ajudem os mais pobres a fazer o mesmo”.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Clima parece ter se tornado “uma oportunidade para os países negociarem brechas legais e evitarem maiores ambições”.

Uma manifestação de ONGs e ativistas foi convocada nesta quarta-feira na COP25 para reivindicar “soluções reais” aos países ricos.

Onde estão os adultos?

Os mais velhos compartilham da mesma preocupação.

“Participei da COP durante 25 anos: nunca vi uma lacuna tão grande entre o que acontece dentro e fora destas paredes”, afirmou Jennifer Morgan, diretora do Greepeace International.

“As soluções são acessíveis e estão diante de nossos narizes”, acrescentou. “Mas onde estão os líderes, os adultos?”, questiona.

“O coração de Paris (o acordo) continua batendo, não abandonem”, implorou.

Dados científicos sugerem que qualquer atraso agravará o aquecimento, com consequências catastróficas para o planeta.

As emissões de CO2 aumentaram 0,6% em 2019 em todo o mundo, de acordo com o balanço anual do Global Carbon Project (GCP).

Questão de necessidade

Os dados contrastam com o que, segundo a ONU, teria que ser feito a partir de 2020 para atingir o objetivo de +1,5 grau: reduzir as emissões de gases de efeito estufa de 7,6% ao ano até 2030.

No ritmo atual, a temperatura mundial poderá subir para 4 ou 5°C no final do século em comparação com a era pré-industrial.

Na tentativa de impulsionar as negociações, a ministra espanhola da Transição Ecológica, Teresa Ribera, nomeada “facilitadora” na reta final da COP25, afirmou que “não é mais uma questão de ambição”. “É uma questão de necessidade. Uma necessidade comum de agir”, destacou.

“Se alcançarmos um resultado ruim no final da semana (…), enviaremos um sinal terrível ao mundo”, disse Alden Meyer, da União de Cientistas Preocupados, com sede nos Estados Unidos.

AFP

Grupo de 87 empresas cobram país sobre desmate na Amazônia


O acordo é considerado um mecanismo importante para conter o avanço do desmatamento na Amazônia (Reuters)

Um grupo de 87 companhias europeias, que juntas administram ativos superiores a 2,5 bilhões de libras, escreveu uma carta para o governo brasileiro pedindo a interrupção do desmatamento na Amazônia para a produção de soja. Entre elas estão alguns dos maiores produtores de alimentos, gestores de ativos e redes de supermercados do continente, como Tesco, Aldi, Asda e Carrefour.

O documento pede a extensão da moratória da soja na Amazônia (ASM, na sigla em inglês), acordo assinado em 2006 pelas empresas para impedir o uso de novas terras para a produção de commodity, que é usada como alimento para humanos e é matéria-prima para ração de gado. O acordo é considerado um mecanismo importante para conter o avanço do desmatamento na Amazônia. “Queremos poder continuar a buscar ou investir na indústria brasileira de soja, mas se a ASM não for mantida isso colocará em risco nossos negócios com a soja brasileira”, destaca a carta. Esse texto foi coordenado pela Iniciativa de Risco e Retorno de Investimento em Animais Agrícolas.

“O objetivo da carta foi assegurar aos nossos membros que a moratória da Amazônia não vai acabar”, explicou a consultora de políticas de sustentabilidade Leah Riley Brown, do Consórcio Britânico de Varejo (BRC, na sigla em inglês, que reúne 70% do setor no Reino Unido).

O documento foi enviado no dia 2 para o embaixador do Brasil em Londres, Fred Arruda. Ele informou, dois dias depois, que dividiu as preocupações dos signatários com autoridades domésticas e salientou que o Brasil desenvolveu uma estrutura legal, além de políticas concretas, para mapear a produção e garantir a proteção da vegetação nativa, que cobre 66% do território nacional.

Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) ressaltou a importância da moratória, que tem sido “fundamental para atender às exigências dos mercados consumidores quanto à sustentabilidade da soja brasileira e garantir o reconhecimento internacional do agronegócio brasileiro”.

Movimento

A manifestação europeia ocorre em meio a um movimento no Brasil que pede o fim da moratória. O pedido é encabeçado pela Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), que diz contar com apoio de pelo menos um representante do governo federal. Em novembro, representantes do setor de produção receberam sinalização positiva do secretário especial da Casa Civil para Relacionamento Externo, Abelardo Lupion, na articulação para tentar rever a moratória.

O presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, afirmou em novembro que os produtores já cumprem as regras. “Não há produção de soja no mundo próxima da sustentabilidade que tem a nossa, que protege Reserva Legal e Área de Preservação Permanente. Não precisamos de mais imposição”, disse Braz. Para ele, segundo destacou na oportunidade, se a Europa não quiser mais soja da Amazônia, há o mercado asiático.

O governo está atento às reações internacionais. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem conversado com outros ministérios e o receio é de que as ameaças, que têm se avolumado se tornem boicotes reais.

Agência Estado

Gente e ambiente: sinônimos de qualidade


 

“O supermercado, em parceria com o fornecedor, deve conscientizar o consumidor sobre os produtos. Educá-lo para que saiba o que e porque ele o está adquirindo”, Julio Erthal, executivo da Sustentax

Discutir sustentabilidade está na moda tanto dentro das empresas quanto na mídia. Diferentes estudos apontam que o consumidor está disposto a pagar mais por um produto sustentável. Varejistas dizem ter práticas ambientais. Afinal, será que varejo e cliente sabem o que realmente significa ser sustentável e como usar desta prática?

Pensando nisso, a Associação Brasileira da Indústria, Equipamentos e Serviços Para o Varejo (ABIESV) realizou o 10º Backstage do Varejo – Sustentabilidade e Gestão de Ativos. O evento aconteceu na quarta-feira, dia 14, e contou com a presença de 40 representantes varejistas.

Os palestrantes foram Julio Erthal, executivo da empresa Sustentax, Katia de Assis, superintendente de Serviços Hospital Albert Einstein, Marcelo Nakamura, Diretor Executivo Connect The Dots, e Andrea Vaine, presidente do Grupo Brasileiro de Serviços (GAS).

Quem dá início ao encontro é Julio Takano, presidente da ABIESV e sócio diretor da Kawara Takano – Soluções para o Varejo. Em entrevista, ele fala da maneira de conscientizar os varejistas sobre sustentabilidade criando novos termos técnicos.

“A prevenção e a manutenção preventiva, e não corretiva, ajudam na sustentabilidade do negócio. Numa loja de roupas, por exemplo, o departamento de compras é chamado de setor produtivo, nós, de ‘setor improdutivo’, porque somos despesa. Imagina uma rede aonde os ganhos no final do ano são de 3% e você ainda pode economizar 10% disso. Aí o mundo se volta pra sustentabilidade de negócio”, afirma Julio.

Seguindo este pensamento, Julio Erthal é o primeiro palestrante do evento. “Sustentabilidade do varejo existe quando o negócio é rentável e tem perenidade. O varejista precisa atrair o cliente e garantir melhor experiência de compra”. O momento crucial é sobre os diferenciais competitivos para o varejo baseados na tríade: aprazibilidade, oferta consciente e valor agregado.

“A aprazibilidade é a sensação de bem-estar proporcionada por um ambiente agradável”. Este sentimento descrito por Julio é ligado à loja, não ao produto. Ele pode – e deve – ser transmitido ao consumidor, para que ele volte por sentir-se bem, mesmo sem a intenção de comprar, e ao funcionário, para que ele tenha maior produtividade.

Oferta consciente é a disponibilização de informação sobre os produtos disponibilizados, independente do segmento ao qual ele faz parte. “As empresas focam na origem e deixam de lado o benefício que o item pode fazer ao consumidor. Qualidade, saúde, toxicidade são itens que devem ser explicados ao cliente. O varejista tem a responsabilidade de informar”.

Em meio a necessidade de explicar ao consumidor sobre os produtos, Julio mostra a diferença entre ecológico, verde e sustentável. “Ser ecológico é preservar o ambiente o mais intacto possível; verde são os menores impactos ambientais, saúde humana, como por exemplo, as geladeiras com selo Procel; e sustentabilidade é desejável, não faz mal a saúde e é acessível”.

E o terceiro da tríade: valor agregado. “É a relação custo x benefício. Preço, qualidade, atendimento, comodidade e economia de tempo são os itens que fidelizam os clientes”.

Sustentabilidade em gestão de estrutura e manutenção predial
Ser sustentável na gestão de estrutura está ligado a uma expressão algébrica de dois termos: manutenção predial – gente, gestão e tecnologia – e sustentabilidade – meio ambiente, economia e o homem.

Segundo Marcelo Nakamura, diretor executivo da Connect The Dots – empresa de gestão em infraestrutura e manutenção – a manutenção predial está ligada, diretamente, à produtividade, qualidade e sustentabilidade. “O tripé, gente, gestão e tecnologia garante o foco em preventivas, retroalimentação do processo”. E garante, “gestão sustentável é prática possível”.

A primeira fase do tripé – gestão – é o processo de qualidade: plano de manutenção, gestão de ocorrência com visão do antes e depois e procedimentos operacionais, além de gestores preparados e pró-ativos, planejamento e logística. A terceira parte – tecnologia – é baseada em software de gestão através de serviço, acesso web e móbile, plano de manutenção, ocorrências, relatórios e indicadores.

A segunda parte – gente – é como a base do tripé. “Profissionais bem treinados técnica e legalmente, programas de incentivo ao ensino especializado e superior, bem remunerados e motivados trabalham melhor”, afirma Nakamura. O diretor executivo comenta que salários acima da base sindical, planos de saúde, seguros, bonificação por resultado e plano de desenvolvimento individual são diferenciais aplicáveis e que geram um resultado positivo ao colaborador e à empresa.

Prática sustentável – Case
A superintendente de serviços do Hospital Albert Einstein, Kátia de Assis, apresentou a prática realizada no setor de rouparia e tecidos fornecidos aos pacientes.  “Passamos a reutilizar tecidos danificados: lençóis rasgados são transformados em fronhas, toalhas manchadas são cortadas, devidamente higienizadas e voltam como panos para o centro cirúrgico”, conta.

O hospital mobilizou funcionários e o fornecedor dos tecidos, “o plástico que envolve o material é recolhido pelo fornecedor e transformado em bobinas, os uniformes são produzidos de acordo com a atividade desenvolvida por cada colaborador. Desta forma, houve uma economia de R$260mil para a instituição”, declara Kátia.

GAS
O Grupo de Administradores de Serviços existe desde 1983 e é formado por 33 empresas tomadoras de serviços, é informal e sem fins lucrativos. As metas do GAS são desenvolver indicadores, gerar conteúdo referencial e fortalecer o grupo no mercado para estímulo.

“Incentivar, viabilizar e ser reconhecido pelas práticas responsáveis sociais e sustentáveis são os objetivos dos Facility Managers do grupo”, explica  Andreia Vaine da Costa, presidente do grupo. “São realizadas 11 reuniões ao ano para discutir práticas mundiais que podem se estabelecer. Cada empresa participante do Grupo sedia o espaço para uma reunião”.

O grupo é formado por colabores de empresas como a Natura, GE, Hospital Albert Einstein, Alergan, C&A, Dupont, Unilever, Novartis, Santander, Redecard, Tam e Pepsico.

Fonte: Consumidor Consciente

Manifestação contra a mudança climática na Austrália


Cerca de 20.000 manifestantes protestam em Sydney exigindo ação climática urgente do governo da Austrália, já que a fumaça de um incêndio que sufocava a cidade fez com que os problemas de saúde aumentassem (AFP)

Cerca de 20 mil pessoas pediram, nesta quarta-feira, ao governo de Sydney que tome medidas urgentes para combater as mudanças climáticas, num momento em que a capital experimenta picos de poluição relacionados aos incêndios florestais.

Sydney está envolvida há semanas numa névoa de fumaça tóxica ligada a centenas de incêndios que assolaram o leste da Austrália.

Na semana passada, os hospitais da maior cidade do país registraram um aumento de 25% nas internações de emergência.

Na terça-feira, a fumaça acionou os detectores de incêndio em toda a megalópole e os edifícios tiveram que ser evacuados.

Algumas conexões de balsa foram canceladas e, durante o recreio, os alunos tiveram que ficar dentro das escolas.

Esses incêndios devastadores evidenciaram a questão da mudança climática. Os cientistas acreditam que este ano aconteceram particularmente cedo e têm sido intensos devido à seca prolongada e ao aquecimento global.

A manifestação desta quarta-feira reuniu cerca de 15 mil pessoas, segundo a polícia, cerca de 20 mil, de acordo com os organizadores.

“O país está pegando fogo”, explicou Samuel Wilkie, de 26 anos, que participou pela primeira vez em uma manifestação contra o aquecimento global. Segundo ele, a resposta dos políticos é “patética”.

“Nosso governo não faz nada a respeito”, lamentou Zara Zoe, paisagista de 29 anos.

O primeiro-ministro Scott Morrison, fervoroso defensor da indústria de mineração, não falou muito sobre as fumaças tóxicas, preferindo se concentrar nos municípios rurais afetados pelas chamas.

A fumaça dos incêndios florestais é uma das principais causas da poluição atmosférica na Austrália.

Libera partículas finas que podem se alojar profundamente nos pulmões e ter, a longo prazo, consequências “sérias” para a saúde, segundo o cientista Mick Meyer, do CSIRO, um organismo de pesquisa científica financiado pelo governo.

“Na maioria das pessoas, causa sintomas leves”, disse Richard Broome, diretor do Departamento de Saúde. “No entanto, em pessoas com asma, enfisema e angina de peito podem desencadear sintomas”, acrescentou.

AFP

Confraternização encerra o Movimento Ecos de 2019 com muito entusiasmo


Mais um ano se encerra com o sentimento de dever cumprido. Nesta quarta-feira (11), foi realizada a confraternização dos ganhadores das atividades do Movimento Ecos 2019. Estiveram presentes os alunos das Equipes Ecos das E. E. Guimarães Rosa, E. E. Dr. Lucas Monteiro Machado, E. E. Geraldo Jardim Linhares e E. E. Caio Nelson de Sena, além dos professores orientadores, nucleadores e a coordenação do movimento.

Alegres com o reconhecimento do trabalho, os alunos conheceram o Campus III, da Dom Helder Escola de Direito e Escola de Engenharia de Minas Gerais (EMGE), apoiadoras do projeto.

Francisco Haas, coordenador geral do Ecos, traduz a confraternização como um momento de “comemoração diante das conquistas dos alunos”. Ao fazer um balanço do projeto em 2019, classificou como um ano “de muito trabalho, aprendizado e conquistas”.

Junto ao Movimento Ecos, os alunos conseguiram arrecadar mais de 200 toneladas de lixo reciclado, reduzir 35% do consumo de água em relação a 2018 e uma redução para 0,6 Kwh/mês por pessoa. Tudo isso gerou uma economia de R$ 150 mil. Além disso, devido ao trabalho desenvolvido nas escolas públicas de Belo Horizonte e Região Metropolitana, o Ecos recebeu o prêmio de Cidadania Metropolitana da RMBH em 2019.

Veja também:

Caminhada Ecológica e premiação

Vale lembrar que no dia 22 de novembro foi realizada a Caminhada Ecológica do Movimento Ecos, que precede o grande encerramento do projeto. Com trajeto saindo da Praça Raul Soares, passando pela Av. Olegário Maciel até a Praça da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, a caminhada reuniu mais de 20 mil pessoas entre alunos e cidadãos belo-horizontinos.

Já na Praça Carlos Chagas, no anfiteatro da ALMG, foram realizadas as finais do Concurso de Fotografia Garota e Garoto EcoDom e Concurso de Dança EcoDom revelando os grandes ganhadores. Confira abaixo a classificação:

Concurso de Dança EcoDom

1º lugar: E. E. Guimarães Rosa

2º lugar: E. E. Padre João Botelho

3º lugar: E. E. Carmo Giffoni

4º lugar: E. E. Caio Nelson de Sena

5º lugar: E. E. General Carneiro

 

Concurso de Fotografia Garota e Garoto EcoDom

1º lugar Garota: Beatriz Alves Dias Santos – E. E. Caio Nelson de Sena

1º lugar Garoto: Felipe Santos Chagas – E. E. Caio Nelson de Sena

2º lugar Garota: Mariana Eugência de Castro Santos – Colégio Tiradentes – Unidade Contagem

2º lugar Garoto: André Tavares Viana – Colégio Tiradentes – Unidade Contagem

3º lugar Garota: Helena de Freitas Monteiro – Colégio Tiradentes – Unidade Argentino Madeiro

3º lugar Garoto: Miguel Rute dos Santos Barbosa – E. E. Professor Clóvis Salgado

4º lugar Garota: Karine Ferreira da Silva – E. E. Professor Clóvis Salgado

4º lugar Garoto: Augusto Alves Pinto de Paula Batista – E. E. Doutor Lucas Monteiro Machado

5º lugar Garota: Juliana de Aquino Corrêa de Oliveira – E. E. Doutor Lucas Monteiro Machado

5º lugar Garoto: Pedro Paulo Carvalho de Souza – Colégio Tiradentes – Unidade Argentino Madeiro

Também foram reveladas as 12 escolas com melhor Pegada Ambiental em 2019. São elas: E.E. Bolivar Tinoco Mineiro, E.E. Coronel Adelino Castelo Branco, E.E. Domingas Maria de Almeida, E.E. General Carneiro, E.E. Imperatriz Pimenta, E.E. Manoel Martins de Melo, E.E. Maria Floripes Nascimento Alves, E.E. Mendes Pimentel, E.E. Professor João de Arruda Pinto, E.E. Professora Alaíde Lisboa de Oliveira e Cesec Clemente de Faria.

E a grande campeã do dia, ganhadora do Projeto Socioambiental 2019, foi a E. E. Guimarães Rosa. A professora orientadora da escola, Ana Cláudia Cardoso, contou que a instituição participa do movimento desde 2018, ressaltando o constante aprendizado por parte dos alunos. “Foram ganhos muito grandes para a escola em vários sentidos, não só ambientais, mas físicos e disciplinares também. Houve mudanças de postura, de hábitos por parte dos alunos, não só daqueles que fizeram parte da Equipe EcoDom, mas da escola como um todo. Nós percebemos que toda a escola está se atentando mais às questões ambientais”, diz.

Premiação

Os alunos vencedores dos concursos e professores orientadores foram premiados durante o churrasco de confraternização com um smartphone. Além disso, os ganhadores da Pegada Ambiental também receberam uma viagem ao arquipélago de Fernando de Noronha (PE).

Beatriz Alves, do terceiro ano do ensino médio da E. E. Caio Nelson de Sena, também futura aluna do Direito Integral da Dom Helder, agradeceu a oportunidade de participar do Movimento Ecos 2019, e disse que o projeto foi muito importante para o amadurecimento dos alunos. Segundo ela, foi uma experiência diferente. Em nome da escola, declara: Nós batalhamos bastante, porque sabíamos que era uma oportunidade real de entrar em uma instituição de ensino superior. Nós só temos a agradecer ao Movimento Ecos e à Dom Helder e EMGE pela oportunidade”.

Bárbara Teixeira – Equipe EcoDom

Emissões de gases de efeito estufa subiram 1,6% ao ano entre 2008 e 2017


Com as políticas atuais em vigor, o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3,5 °C neste século. Foto: PNUMA

A ONU Meio Ambiente divulgou no fim de setembro (22) uma retrospectiva de dez anos de seu Relatório de Emissões — uma publicação que compara os níveis de emissão de gases de efeito estufa para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.

O mundo parece ter passado a última década fazendo exatamente o oposto do que deveria. Apesar dos avisos nos relatórios anuais, as emissões de gases de efeito estufa cresceram a uma média de 1,6% ao ano entre 2008 e 2017. De fato, essas emissões são agora quase exatamente o que os primeiros relatórios projetavam para 2020 se o mundo não alterasse seus modelos de crescimento insustentáveis e poluentes.

Com as políticas atuais em vigor, o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3,5°C neste século, em comparação com os níveis pré-industriais. Isso está muito além dos objetivos do Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, ou pelo menos bem abaixo de 2°C.

Se este mundo mais quente se concretizar, todas as previsões de impactos climáticos catastróficos se tornarão realidade. Elevação do nível dos mares, eventos climáticos extremos e danos incalculáveis ​​às pessoas, prosperidade e natureza.

“A última década não trouxe a queda nas emissões de gases de efeito estufa que queríamos, isso é verdade. Mas, de várias maneiras, estamos em um lugar melhor do que há dez anos”, afirmou a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen.

“Grandes avanços na conscientização, na tecnologia e na vontade de agir significa que agora estamos prontos para reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa”, acrescentou.

Uma plataforma para ação

O resumo de dez anos apresenta uma série de desenvolvimentos encorajadores que ocorreram: o foco político na crise climática é o mais alto de todos os tempos, inclusive por meio do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, e os eleitores e manifestantes, principalmente os jovens, estão deixando cada vez mais claro que a crise climática é a prioridade número um.

Cidades, regiões e empresas não estão esperando imposições de governos centrais. Cerca de 7.000 cidades de 133 países, 245 regiões de 42 países e 6.000 empresas com receita de pelo menos 36 trilhões de dólares se comprometeram a reduzir suas emissões.

Além disso, a tecnologia para reduzir de forma rápida e econômica as emissões melhorou significativamente. A energia renovável é um exemplo. Crescimento explosivo significa que a energia limpa evitou a emissão de aproximadamente 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono em 2017, pois forneceu cerca de 12% do suprimento global de eletricidade. A instalação de tecnologias agora está mais barata do que nunca.

Tudo isso é um progresso fantástico, mas não chega perto do suficiente. De acordo com o resumo dos dez anos, as nações devem pelo menos triplicar o nível de ambição refletido em suas promessas climáticas sob o Acordo de Paris — conhecidas como contribuições nacionalmente determinadas ou NDCs — para alcançar a meta de um mundo abaixo de 2°C. Devem aumentar a ambição pelo menos cinco vezes para a meta de 1,5°C.

Será crucial uma ação forte dos membros do G20, que juntos representam 80% de todas as emissões de gases de efeito estufa. Essa ação ainda não foi vista, de acordo com um capítulo preliminar do Emission Gap Report, que foca nas maneiras pelas quais o G20 pode aumentar a ambição climática.

Opções para cortes rápidos nas emissões são abundantes

No entanto, como revelam o resumo e o capítulo preliminar, o G20 e outras nações têm dezenas de opções para cumprir as metas de Paris. Ao usar apenas tecnologias comprovadas, o mundo poderia cortar 33 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente por ano até 2030. Isso é mais da metade das emissões globais anuais de gases de efeito estufa atuais. É mais do que suficiente para permanecer no caminho para o objetivo de 1,5 °C.

Cerca de dois terços desse potencial estão disponíveis em áreas onde um rápido progresso é possível: energia solar e eólica, aparelhos eficientes, automóveis de passageiros eficientes, reflorestamento e interrupção do desmatamento. Apenas uma fração desse potencial é capturada em compromissos nacionais sob o Acordo de Paris.

E ainda há muitas outras oportunidades.

O fim dos subsídios aos combustíveis fósseis reduziria as emissões globais de carbono em até 10% até 2030. A redução de poluentes climáticos de curta duração — como fuligem e metano — pode reduzir as temperaturas rapidamente, pois estes não permanecem na atmosfera da mesma maneira que o dióxido de carbono.

Além dessas iniciativas, a Emenda Kigali ao Protocolo de Montreal é um compromisso internacional de reduzir o uso de gases com alto potencial de causar aquecimento, conhecidos como HFCs, na indústria de refrigeração. Esta alteração pode resultar em até 0,4 °C de redução no aquecimento. Se a indústria melhorar a eficiência energética ao mesmo tempo, poderá dobrar os benefícios climáticos.

Mais uma década sem cortes significaria desastre

Em novembro, a ONU Meio Ambiente publicará a décima edição do Emission Gap Report. Ele detalhará o tamanho dos cortes anuais de emissões necessários para permanecer no caminho certo para cumprir as metas do Acordo de Paris. Isso informará os negociadores dos países que se reunirão para a próxima rodada de negociações climáticas sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CQNUMC).

Já sabemos que esses cortes terão de ser significativos. Todo ano de ação atrasada significa que os cortes se tornam maiores, mais caros e mais impraticáveis. Se chegarmos a 20 anos de Emission Gap Report e as emissões ainda não tiverem caído, o mundo enfrentará um desastre. Simplesmente não podemos dispor de mais uma década perdida.

Na Cúpula de Ação Climática, nas negociações climáticas de dezembro em Santiago do Chile, em todos os escritórios do governo, salas de diretoria, empresas e residências todos os dias, precisamos fazer muito mais a respeito da questão climática para garantir a segurança de gerações futuras, alertou a ONU Meio Ambiente.

A agência das Nações Unidas divulgou o resumo de dez anos na Cúpula de Ação Climática da ONU como parte de um pacote que analisa os avanços na ciência climática. O capítulo preliminar do G20 foi lançado de forma independente como mais uma contribuição para a Cúpula.

Para saber mais, visite https://www.unenvironment.org/pt-br/resources/preenchendo-lacuna-aumentando-ambicoes-de-mitigacao-e-acoes-em-nivel-global-e-do-g20

ONU News

COP25 entra em semana decisiva sem sinais de ação ambiciosa


Conferência de imprensa de jovens ativistas pelo clima (AFP)

A segunda semana da 25ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas começa em Madri nesta segunda-feira, com uma enorme lacuna entre as expectativas dos defensores do clima e as intenções dos países mais emissores de gases de efeito estufa.

Os jovens gritam sua raiva, o chefe da ONU repete os avisos cada vez mais preocupantes, mas na COP25 os sinais de uma resposta ambiciosa dos países mais responsáveis pelas mudanças climáticas são fracos.

A lacuna até “cresceu”, estima Jennifer Morgan, diretora do Greenpeace Internacional. “A paralisia dos governos é incrivelmente perturbadora”.

Desta forma, nenhum dos grandes emissores deve fazer um anúncio significativo sobre suas ambições. Obviamente, nem os Estados Unidos que formalizaram sua retirada do pacto climático no próximo ano, nem a China, a Índia, o Japão ou mesmo a União Europeia, que concentra todas as esperanças.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, foi mais claro do que nunca na abertura desta COP. “Esperamos um movimento profundo da maioria dos países do G20, que representam três quartos das emissões globais”, disse aos cerca de 200 signatários do Acordo de Paris, pedindo em particular o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis e descarbonização de setores-chave da energia e transporte.

Mas o Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento a um máximo de +2 graus, prevê que os Estados revisem seus compromissos de redução de emissões somente em 2020, enquanto a maioria deles se concentra na COP26 em Glasgow.

“O grande evento será a COP26, mas não podemos esperar mais”, insistiu a jovem ativista climática Greta Thunberg, que chegou a Madri na sexta-feira e arrastou milhares de manifestantes pelas ruas.

A cinco dias para o final da reunião, “os sinais não são bons”, comentou Alden Meyer, da Union for Concerned Scientists, observadora de longa data das negociações climáticas.

Para China, Índia ou Japão, “se decidirem agir, será mais próximo da COP26”, disse. Quanto à UE, é em Bruxelas que ações podem ser adotadas em uma cúpula na quinta e sexta-feira.

“Recuo”

Enquanto isso, cerca de 70 países comprometidos em aumentar suas ambições de reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2020 se reúnem em Madri na quarta-feira.

Novos membros poderiam se unir a essa aliança, que representa apenas 8% das emissões globais, mas nenhum grande emissor, prevê Alden Meyer.

Neste contexto, muitos contam com o engajamento do setor privado. Um grupo de mais de 600 investidores institucionais que administram cerca de US$ 37 trilhões pediu nesta segunda-feira o fim do carvão e mais ambições dos Estados.

Mas para as regiões na linha de frente dos impactos já devastadores das mudanças climáticas, tudo isso está longe de ser suficiente.

“Algumas partes influentes dificultam os esforços para responder à emergência climática”, disse Janine Felson, representante do grupo dos 44 Estados insulares.

“Vimos recuos de nossos parceiros desenvolvidos” em matéria de “perdas e danos”, lamentou Sonam P. Wangdi, que preside o grupo dos Países Menos Avançados.

De acordo com um relatório recente do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, as famílias rurais de Bangladesh gastam US$ 2 bilhões por ano para reparar os danos causados por ciclones e outros eventos extremos.

AFP

A COP21 e o pesadelo geracional


A COP21 e o pesadelo geracional, artigo de Lucio Carvalho

opiniao

 

[EcoDebate] Há dias que eu tinha em mente um spot que o Greenpeace produziu há alguns anos atrás, sobre as mudanças climáticas e que, ao som de Frank Sinatra cantando My Way, mostrava cenas de inundações, derretimento das calotas polares e outros efeitos visíveis do aquecimento global. Ao fim do spot uma pergunta sobrepunha-se às imagens: “Lembra como sua geração sonhava em mudar o mundo?” e, pouco antes do fim, a resposta: “Parabéns, vocês conseguiram.”

O clipe, no YouTube, pode ser visto aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=8FL2phXalpY

Hoje, percebi que a lembrança me vinha em mente, entre outras razões, em função do começo daCOP 21. E também porque, a despeito do tamanho exíguo, a mensagem do spot é mesmo impactante. Mas, antes de lembrar, estive como imerso numa espécie de pesadelo. Um pesadelo geracional.

O filme, mais claro impossível, depõe contra um sonho geracional deposto, talvez extinto já, de uma fatia da população que, chegando hoje aos 60 ou 70 anos, embalou-se no sonho hippie e contracultural de mudar o mundo e, passado esse tempo todo, eis que nada de se perceber as mudanças decorrentes de um novo modo de vida. Este projeto utópico dos anos 60, se um dia pensou-se revolucionário, acabou por revelar-se mera continuidade do modo de vida precedente de um modo geral no ocidente, nada além disso.

E então, pensando não nos termos de uma análise histórica, mas do mundo ao meu redor, é fácil perceber que o movimento geracional é contínuo e se a geração que viveu a Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos terríveis começa a deixar de existir e dar lugar às pessoas influenciadas pelo sonho de mudança dos anos 60, o legado destes sequer pode ser considerado melhor que o daqueles. Para comprovar isto, basta ver onde estão hoje, no Brasil mesmo, lideranças políticas que viveram no bojo daquele movimento, porque pensar em seu projeto de renovação social seria o mesmo que buscar uma agulha num palheiro, ou pior que isso, nos lamaçais da realidade, sem falar nos simbólicos.

E o pesadelo se torna mais assustador ao concluir-se que mesmo essas pessoas já começam a deixar o poder para outra geração e esta é composta por pessoas que nunca experimentaram os rigores de graves crises econômicas ou o pesadelo político de um regime opressivo, ou ainda a tarefa de reconstruir um mundo minado pela guerra. Seria possível imaginar que essa geração poderá efetivamente resgatar o saldo das anteriores? Mas, pensando-se em perspectiva, será que foram preparadas para isso? É muito difícil saber. O indubitável é que talvez não lhes reste alternativa e, caso tenham habilidade para engendrar relações mais harmônicas com o ambiente e com a sociedade, poderão realizar o que os que apenas sonharam deixaram de fazer ou postergaram. Talvez o façam justamente por ter de fazer, e não por sonhar. Seria uma solução pragmática, embora não se possa garantir que venha a funcionar. Talvez, mais que uma solução, seja uma esperança.

De outra sorte, ao pensar nisso fica claro que convivemos concomitantemente, de certo modo, com todas estas gerações. Confesso que tenho receio de que uma geração que usa mais tempo no Instagram que em bibliotecas e que encontra num clique qualquer informação mas sem ninguém saber ao certo se em condições de interpretá-la, dará conta ou até mesmo se é justo concentrar em seus ombros tal responsabilidade. Talvez, fazê-lo seria apenas adiar as soluções urgentes que o planeta demanda. Todavia, culpá-los por antecedência, porque o poder político ainda não encontra-se em suas mãos, é de uma vileza sem tamanho. A mim parece que, por depormos a falência de uma geração que se mostrou incapaz de engendrar um mundo melhor, não podemos por isso mesmo negligenciar de nossas responsabilidades. Este seria um comportamento a Pôncio Pilatos. E, convenhamos, é o que de menos precisamos.

Usar da consciência e partir racionalmente para soluções que envolvem o meio ambiente é fundamental, mas isso não deve partir de todos? Em caso contrário, como partiria justamente de quem ainda não tem meios de fazer as coisas e teve seu direito a sonhar um mundo diferente e que foi interditado precocemente pelo fracasso dos outros? Essa por óbvio que não é uma questão a ser debatida na COP 21 que começa agora, mas é a questão das questões para o nosso dia a dia e para o futuro dos que virão, do qual todos bem que poderíamos estar mais ocupados em colaborar ao invés de meramente despejar o fracasso anterior. Ou iremos, ao invés de dar continuidade ao sonho, propiciar condições para dar continuidade ao próprio fracasso?

Então, estou esperando pela continuidade do spot do Greenpeace, um que talvez fale sobre pessoas inocentes que podem tomar outros caminhos, mas desde que ninguém os vete antecipadamente.

Lucio Carvalho é autor de Inclusão em Pauta (Ed. do Autor/KDP), A Aposta (Ed. Movimento) e do blog Em Meia Palavra (http://emmeiapalavra.com ).

 

in EcoDebate, 02/12/2015