Saiba como resolver o problema do lixo orgânico em sua casa de forma sustentável


Já utilizada há muitos anos no meio rural, pela agricultura familiar, a compostagem com minhocas (vermicompostagem) através do uso de minhocários parece agora atrair o gosto de moradores de grandes centros urbanos. Essa forma de lidar com o material orgânico de forma sustentável recebe diversos nomes, como compostagem doméstica, caseira, residencial, e é indicada como uma possível solução para a problemática dos resíduos sólidos (veja aqui matéria sobre o uso da compostagem em grandes cidades).

O problema ambiental do lixo

Diariamente, é gerada uma enorme quantidade de lixo nas grandes cidades. Segundodados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 52% do volume total de resíduos produzidos no Brasil é de material orgânico. E tudo isso vai parar em aterros sanitários, onde tais resíduos são depositados com os demais tipos de lixo e não recebem nenhum modo de tratamento, o que gera a emissão de gás metano (CH4), um gás cerca de 25 vezes mais nocivo e agressivo para o meio ambiente do que o gás carbônico ou dióxido de carbono (CO2). A compostagem pode evitar a emissão e lançamento do gás metano na atmosfera, diminuindo sua contribuição para o desequilíbrio do efeito estufa e as mudanças climáticas, além de diminuir o volume de lixo destinado a aterros sanitários e lixões, o que geraria uma economia para o Estado e aumentaria o tempo de vida desses aterros.

A compostagem pode ser vista como uma forma de reciclagem de matéria orgânica. A fração do lixo que é orgânica é tratada naturalmente e se transforma em uma biomassa altamente nutritiva, que pode ser aplicada em jardins e hortas, como adubo. Veja o que é, como fazer e o passo a passo de como funciona esse método sustentável e saudável de reaproveitamento da matéria orgânica.

O que é a vermicompostagem?

Desde os primórdios o homem aprendeu a observar a natureza e tirar proveito de seus recursos. Logo, foram desenvolvidas técnicas para diferenciar solos pobres de solos férteis, e um dos principais elementos que ajudava nessa percepção era a presença de minhocas. O termo vermicompostagem é usado para denominar o processo de transformação biológica de resíduos de origem orgânica, em que as minhocas são responsáveis por acelerar o processo de decomposição da matéria orgânica. O uso do vermecomposto ou húmus, nome dado ao produto gerado pelas minhocas, tem se mostrado uma forma eficiente, relativamente barata, sustentável e de baixa agressividade para a melhora da qualidade e fertilidade do solo.

As minhocas

Uma parte importante da vermicompostagem é feita pelas as minhocas. Acredita-se que, no mundo todo, existam mais de 8 mil espécies diferentes de minhocas. No Brasil, são conhecidas mais ou menos 260 espécies – em sua maioria nativas. A espécie mais indicada para a produção de húmus é a Eisenia fetida Savigny, mais conhecida como minhoca vermelha-da-califórnia –  isso se deve a sua capacidade de se adaptar facilmente às condições de cativeiro, à grande produção de húmus e à  alta velocidade de reprodução; mas não acredite na lenda de que, quando cortada, a minhoca se regenera dando origem a duas minhocas – dependendo do lugar do corte, a minhoca pode até morrer.

Ao contrário do que muitos pensam, as minhocas não são animais sujos e nem transmitem doenças, e podem ser utilizadas no seu lar sem gerar problemas (veja mais aqui). Criar minhocas pode ser como criar um animal de estimação qualquer, sendo que ainda lhe oferecem uma contribuição valiosa no apoio à decomposição de seus resíduos.

Na cidade

Com o aumento da conscientização ambiental, o mercado conseguiu adaptar-se às novas exigências e desejos do consumidor, criando novas tecnologias que cabem no dia a dia corrido das grandes cidades. Hoje, existem no mercado diferentes tipos decomposteiras disponíveis, para todos os gostos, bolsos e tamanhos de família.

Uma boa alternativa que pode ser utilizada na sua casa ou apartamento é composta por uma tampa e três ou mais caixas empilháveis de plástico opaco. A quantidade  de caixas e sua dimensão depende diretamente da demanda familiar, sendo as duas que ficam no topo e que são chamadas de digestoras, com furos no fundo – onde acontece toda a "mágica"; há também uma caixa coletora, a base, que serve para armazenar o chorume produzido no processo. É um método prático e simples de se compostar material orgânico (veja aqui um Guia de Compostagem com mais informações sobre métodos de compostagem).

Como funciona?

As duas primeiras caixas servem para para deposição dos resíduos orgânicos. Cerca de 200 minhocas ficam divididas entre os dois recipientes. Dependendo da quantidade de alimento disponível e do espaço, as minhocas conseguem auto-regular sua população. Na caixa do topo, você deve adicionar os restos de comida, como cascas de legumes, frutas; evite colocar alimentos com muita gordura, laticínios, espinhos de peixe, ossos, excesso de frutas cítricas (que em grande quantidade pode alterar o pH e acidificar o composto – ruim para as minhocas e para as plantas), carnes e frutos do mar (veja aqui o que pode e não pode ir na sua composteira à base de minhocas). 

A umidade é um aspecto dos mais importantes, uma vez que o composto demasiado úmido pode propiciar a formação e retenção de gases e ou mesmo dificultar a mobilidade das minhocas. Equilibrar a matéria orgânica molhada (suas sobras de comida) com matéria orgânica seca (serragem de madeira não tratada, folhas, etc) torna o ambiente ideal para que a composteira funcione e suas minhocas entrem em ação. Depositados os resíduos, cubra-os com o material seco. 

Recomenda-se como que em um passo-a-passo que os resíduos sejam depositados sucessivamente em fileiras (preferencialmente picados) e a seguir em camadas, preservando-se sempre no lado oposto uma camada de composto pronto, húmus livre de resíduos que servirá para o que se chama de "cama". A “cama” é como um local de segurança, onde as minhocas se sentem confortáveis, devendo existir em ambas caixas digestoras. Elas migrarão por todas as caixas, subindo e descendo, sempre usando os furos. Algumas podem, inclusive, ir para a caixa que recolhe o chorume, por isso é importante estar sempre atento para que elas não morram afogadas. Para evitar que isso aconteça, além da supervisão, deposite um pedaço de tijolo em um dos cantos da caixa, assim elas poderão utilizá-lo como escada para subir para a caixa superior. Depois que essa primeira caixa esteja cheia, será preciso trocá-la de lugar com a imediatamente abaixo, de modo que as minhocas possam trabalhar livremente enquanto a outra caixa recebe novos alimentos. Trate de proteger sua composteira do sol, posicione-a na sombra, pois o aquecimento no processo de compostagem ocorre naturalmente e as minhocas ficam bem assim.

Simultaneamente, ocorre a produção do chorume, que escorre das duas primeiras caixas e fica armazenado na última – ela tem uma pequena torneira para facilitar a sua coleta. Esse chorume não é tóxico e nem prejudica o meio ambiente. Trata-se de um líquido orgânico ou biológico, que é um biofertilizante líquido, rico em nutrientes e sais minerais e que também pode ser usado como adubo e pesticida. Basta dilui-lo em água, em uma proporção de 1/5 até 1/10, e borrifar nas folhas de sua horta caseira ou nas plantas de sua casa.

À medida que os alimentos são absorvidos, as minhocas migram para a caixa superior em busca de mais comida. Assim que o ciclo de produção estiver completo,o composto está pronto para ser utilizado em jardins, vasos e horta. Uma caixa digestora cheia leva de 30 a 60 dias para que todo o alimento seja decomposto. Após este período é possível utilizar o húmus nas plantas e liberar a caixa para uma próxima rodada de compostagem. Não devemos esquecer de deixar sempre uma "cama" para as minhocas na caixa vazia, mesmo em razão de que a decomposição não é feita exclusivamente pelas minhocas, mas por toda uma microfauna associada a elas e que garantem presença na "cama".

Para entender melhor o processo você pode curtir o video a seguir que detalha o passo-a-passo sobre como funciona e como fazer sua própria de compostagem doméstica:

             

Matéria originalmente publicada no poral eCycle

Fonte: Cidades Sustentáveis