Horta Caseira – Um novo despertar para a saúde e a natureza.


A industrialização do setor alimentício trouxe a tona novos hábitos alimentares que vem impactando de forma desastrosa na saúde publica mundial. Em poucas palavras, a obesidade, a desnutrição e a falta de conscientização nutricional tomou conta das sociedades, causando preocupações até mesmo para a Organização Mundial de Saúde (OMS). Nesse ínterim, uma das práticas mais louváveis têm sido as hortas caseiras, uma técnica simples e que vem lentamente crescendo. Abrindo os nossos olhos para o grande monopólio que se tornou a alimentação mundial. Tudo que comemos e bebemos são designados por poucas, mas gigantescas corporações que se baseiam no lucro e produtividade e não na saúde e muito menos no meio ambiente.

 

            

Em um mundo onde não se tem mais tempo para muita coisa, a alimentação industrializada surgiu como uma forma de simplificar a rotina familiar, trazendo praticidade e conforto para o dia a dia das pessoas. Mas apesar de termos diminuído o tempo que gastamos na cozinha, parece que esse movimento fast food acabou por tomar o lugar da boa culinária, trazendo inúmeras conseqüências desastrosas. Passamos a comer enlatados e pré-cozidos com venenos, remédios, anabolizantes (!) e outras infinidades de suplementos utilizados pela agricultura moderna onde o valor estético está acima do valor nutricional.

Por tal, a educação alimentar é um dos pontos que mais vem preocupando os governos, que cada vez mais tem discutido o tema na tentativa de ensinar as pessoas que a importância de uma boa alimentação é fundamental. Isso inclui uma alimentação balanceada, o que alia, principalmente, legumes, verduras e frutas. Em contra partida, é o próprio governo que autoriza e financia tais indústrias alimentícias. Acredito que a solução não está no sistema que nos rege, mas sim em cada um despertar para este grande problema mundial e fazer a sua parte na hora de colocar para dentro do corpo o que realmente ele precisa, comida de qualidade, nutrientes potentes, e não venenos e muito lixo alimentar que vendem nas prateleiras dos supermercados envoltos em marketing de alta qualidade e embalagens que fazem nos olhos brilharem.

As hortas domésticas ou comunitárias, então, se mostram como a melhor solução. A produção caseira de alimentos propicia uma alimentação mais saudável, economia doméstica, e uma mudança na mentalidade familiar. No mais, o contato com a terra traz não só um melhor conhecimento sobre a origem do que se está consumindo, mas uma profunda sensação de bem estar. Mas para resultados realmente recompensadores, o ideal é que o plantio de sementes e mudas esteja de acordo com a necessidade pessoal e a disponibilidade de cuidar realmente daquele espaço, pois requer o mínimo de trabalho e cuidado.

               

É possível o cultivo de temperos, legumes, verduras e frutas em várias dimensões de espaços e de diversas maneiras. Cada vegetal tem suas particularidades que devem ser pesquisadas, como o espaço ideal para o plantio e a quantidade de regas necessárias na semana. Desde que a horta seja bem tratada, a natureza se encarrega de fazer a parte mais complexa. O melhor é que com um investimento pequeno é possível ter alimentos crescendo livres de conservantes e agrotóxicos.

Além do mais, essa é uma função quase que terapêutica também, e por tal tem sido adotada por muitas pessoas que moram nas grandes cidades – uma válvula de escape para acalmar-se depois de um dia de compromissos e afazeres. Em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo já existe um vasto número de hortas comunitárias, onde a quantidade de pessoas cada vez maior se reúne para plantar e trocar experiências a respeito do cultivo da terra. Uma nova conscientização começa a aparecer.

             

Como se observa, o plantio caseiro aparece como a solução mais barata e inteligente para a questão. Qualquer pedacinho de quintal ou até mesmo vasos são espaços que já podem ser utilizados para se começar a buscar direções mais saudáveis. No mais, o planeta agradece também, uma vez que a produção e o consumo de subsistência livram o produto de ter que ser conservado e transportado até a venda final, reduzindo as emissões de gases poluentes e a utilização de recursos naturais que geralmente são utilizados nas embalagens e nos processos de logística e transporte. Enfim, transformar a alimentação em saudável e sustentável é possível.

Ao ser questionada sobre os altos preços dos orgânicos nos mercados, sempre respondo que o valor investido em saúde nunca é demais. Além do que, o sabor é realmente diferente, sem contar que de fato quando consumimos orgânicos, estamos consumindo nutrientes em alto potencial e não um legume ou verdura oco como diz no vídeo abaixo o Engenheiro Agrônomo Edson Hiroshi da Ecovila Clareando, que possuem beleza e tamanho, mas em contra partida são pobres em nutrientes.

E ter a consciência de que se está consumindo algo verdadeiro, que não foi modificado e não agrediu o meio ambiente de forma tão danosa é compensador, pois a mudança que queremos para o mundo começa dentro de casa, mudando a nós mesmos.

Fonte: Naturalmente orgânicos

Laísa Mangelli

 

Natureza tem patamar de sujeito de direitos


É importante mencionar a questão dos recursos naturais no ordenamento jurídico equatoriano, pois pela nova Constituição apresenta-se pela 1ª vez na América uma virada do biocentrismo. (Divulgação)

Sébastien Kiwonghi Bizawu* e Lorena Belo**

É importante resgatar a história dos povos indígenas, mesmo que seja de uma maneira sucinta, para conhecer melhor o seu modo de vida, a relevância de suas relações com a natureza e de sua organização em comunidade. Procura-se, nesse texto, destacar alguns aspectos fundamentais da vida dos povos indígenas ou comunidades tradicionais do Equador.

Quanto a sua organização geopolítica, de acordo com a sua Constituição de 2008, o Equador é um Estado constitucional de direitos e justiça, social, democrático, soberano, independente, unitário, intercultural, plurinacional e laico. É organizado como República e governado de forma descentralizada. A soberania reside no povo, cuja vontade é o fundamento da autoridade e é exercida através dos órgãos do poder público e das formas de participação direta previstas na Constituição.

É importante destacar que a Constituição da República do Equador de 2008 também trouxe inovações no que diz respeito ao reconhecimento da natureza como a razão de ser do povo e do Estado. Tal prestígio pode ser percebido no preâmbulo do texto constitucional, em que a natureza é intitulada Pacha Mama, tendo em vista a decisão de “construir uma nova forma de convivência cidadã, na diversidade e em harmonia com a natureza, para alcançar o bem viver”

É necessário apontar, também, que a questão das terras indígenas, na América Latina, está intrinsecamente ligada à história da colonização, que trouxe indizível sofrimento aos povos tradicionais e comunidades indígenas pela usurpação das riquezas de suas terras, pelos horrores inimagináveis a que foram submetidos.

No caso do Equador, ocorre uma verdadeira simbiose, um binômio ser humano e natureza, quando se trata dos povos indígenas, pois eles fazem parte da natureza e cuidam dela, sendo povos, “depositários de conhecimentos tradicionais sobre as características e o uso da rica diversidade biológica”.

Não há como olvidar os problemas ambientais da Amazônia ao falar do Equador, pois não são apenas problemas dos Estados-membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), mas de interesse mundial, uma vez que as riquezas naturais e diversidade social e cultural da região pan-amazônica têm chamado a atenção e despertado a cobiça de muitas nações e empresas multinacionais. Para cada país da OTCA, a abordagem da região amazônica se faz segundo os critérios ecológico (ou biogeográfico), hidrográfico e político-administrativo, destacando-se os direitos da natureza contidos na Constituição da Equador (2008), partindo dos recursos naturais (hídricos, minerais e biológicos) e das áreas ambientalmente protegidas, com ênfase no patrimônio cultural natural, nas terras indígenas e no meio ambiente.

Assim, observa-se a preocupação do governo equatoriano, considerando a característica da multiculturalidade oriunda de suas populações, para elevar a natureza ao patamar de sujeito de direitos. Todavia, salienta-se da falta de soluções efetivas para vários problemas da região, por exemplo, no âmbito da saúde para os povos indígenas com alto índice de mortalidade infantil; a falta de compartilhamento dos avanços tecnológicos, científicos ou educacionais entre alguns Estados-membros; e a promoção do desenvolvimento sustentável e do crescimento econômico.

Quanto à legislação constitucional e infraconstitucional do Equador, um dos Estados-membros da América do Sul que constituem a Pan-Amazônia, faz-se o levantamento dos  direitos socioambientais que envolvem a região, tendo em vista a importância da proteção e conservação do meio ambiente com base nos objetivos traçados pelo Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), celebrado pelo Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, e pela OTCA.

A preocupação com a preservação e conservação do meio ambiente desde a declaração de Estocolmo (1972) tornou-se uma bandeira global; e não pode ser diferente, quando se trata do cumprimento dos acordos entre os Estados-partes do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA). Em uma época em que se procura despertar a consciência ecológica mundial sobre a necessidade de preservar os recursos naturais e minimizar os riscos do aquecimento global, torna-se imperativo estudar uma série de questões sobre o Equador, relativas à demarcação e à preservação das terras indígenas e reservas de preservação ambiental; às legislações referentes à economia extrativista; à exploração dos recursos biológicos e genéticos; à proteção das águas e à proteção da fauna e flora, especialmente das espécies animais e vegetais ameaçadas.

O Equador, cuja capital é a cidade de Quito, é denominado oficialmente República do Equador. Os espanhóis foram responsáveis pela colonização do país e também “pela dizimação de boa parte da população indígena, seja pelo contágio de doenças, seja pelo extermínio deliberado pelos colonizadores. Trata-se, na realidade, de uma violência baseada no preconceito, uma vez que os indígenas eram vistos como seres inferiores e os espanhóis supervalorizavam a cultura europeia, dando-se o direito de desprezar as crenças dos outros povos.

É importante mencionar a questão dos recursos naturais no ordenamento jurídico equatoriano, pois pela nova Constituição apresenta-se pela primeira vez na América Latina uma virada calcada no biocentrismo. São introduzidos os conceitos de direitos da natureza e direito à sua restauração. Uma nova articulação é gerada com os saberes tradicionais tanto com a natureza como com a Pacha Mama, e oferece ainda um contexto para as políticas e a gestão ambiental baseado na boa vida (sumak kawsay) e em novas estratégias de desenvolvimento, como bem sublinha Gudynas (2009), consoante a Constituição de 2008, a qual estipula que “os recursos naturais não renováveis do território do Estado pertencem a seu patrimônio inalienável, irrenunciável e imprescritível”.

Percebe-se, no entanto, uma preocupação do povo equatoriano não só em restaurar os recursos naturais propriamente ditos, mas também em eliminar ou reduzir as consequências ambientais dos danos causados pela exploração deles. Nesse sentido, pode-se afirmar que essa preocupação com a restauração e reparação de danos à natureza também é uma das maneiras de reconhecimento da Pacha Mama como sujeito de direitos. Conforme o artigo 313 da Constituição do Equador, os recursos naturais são considerados setores estratégicos para o país e, como tais, devem ser administrados, regulados, controlados e geridos pelo Estado.

O artigo 12 da Constituição já consagra a água como um direito fundamental e irrenunciável. Além disso, dispõe que “a água constitui patrimônio nacional estratégico de uso público, inalienável, imprescritível, inembargável e essencial para a vida”. Com relação à exploração dos recursos minerais, o Equador conta com uma lei específica sobre mineração, intitulada Ley de Minería, de 2009. Tal legislação regulamenta o exercício dos direitos soberanos do Estado do Equador para administrar e gerir o setor estratégico da mineração, com a observância dos princípios da sustentabilidade, precaução, prevenção e eficiência.

A lei, a seu turno, estabelece alguns dispositivos sobre a preservação do meio ambiente, tendo em vista os danos que a atividade mineradora pode gerar. Para promover tal preservação, o artigo 78 impõe a obrigação de se efetuarem e apresentarem estudos de impacto ambiental e auditorias ambientais antes do início das atividades de exploração dos recursos minerais.

***Este texto é o quarto da série de nove artigos sobre jurisdição ambiental dos países que compõem a Pan-Amazônia. A versão integral do livro Pan-Amazônia: O ordenamento jurídico na perspectiva das questões socioambientais e da proteção ambiental está disponível gratuitamente no site da Editora Dom Helder. Leia nesta segunda (21) texto de Márcio Luís de Oliveira e Franclim Jorge Sobral de Brito sobre a Guiana.

Leia também:

*Sébastien Kiwonghi Bizawu é mestre e doutor em Direito Internacional pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Professor de Direito Internacional na Dom Helder Escola de Direito e pró-reitor do Programa de Pós-Graduação em Direito. Membro do Núcleo Docente Estruturante (NDE) e membro do Grupo de Pesquisa Estratégica sobre a Pan-Amazônia da Dom Helder Escola de Direito.

**Lorena Belo é especialista em Direito Público, graduada em Direito pela Dom Helder Escola de Direito e membro do CEBID-Dom Helder.

As commodities ambientais e a financeirização da natureza


Entrevista especial com Amyra El Khalili

“A financeirização da natureza é a ação de tornar financeiro aquilo que é eminentemente econômico. Isso porque a melhora da qualidade de vida também é uma questão econômica”, propõe a economista.

Foto: teleport2001.ru

De acordo com o Ministério da Agricultura, durante o ano de 2013 o agronegócio brasileiro atingiu a cifra recorde de 99,9 bilhões de dólares em exportações. Soja, milho, cana ou carne ganham os mercados externos na forma de commodities: padronizadas, certificadas e atendendo a determinados critérios e valores regulados internacionalmente.

Para a economista Amyra El Khalili, no entanto, as monoculturas extensivas não deveriam ser a única alternativa de produção brasileira. A movimentação econômica envolvendo as commodities tradicionais exclui do processo os pequenos e médios produtores, extrativistas, ribeirinhos e as populações tradicionais. Sem grandes incentivos governamentais, sem investimento para atingir os elevados padrões de qualidade nacionais e internacionais ou capacidade produtiva para atingir os mercados, estes permanecem sempre à margem do sistema.

Foi com base no raciocínio da inclusão que a economista de origem palestina criou o conceito de commodity ambiental. Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, ela aborda a polêmica dos créditos de carbono (uma “comoditização da poluição”), questiona o fornecimento de créditos por Redução de Emissões por Desmatamento (Redd) para o agronegócio e descreve o conceito inicial criado por ela. “Uma commodity tradicional é a matéria-prima extraída do ecossistema, que é manufaturada, padronizada por um critério internacional de exportação adotado entre transnacionais e governos”. Por outro lado, a commodity ambiental “também terá critérios de padronização, mas adotando valores socioambientais e um modelo econômico totalmente diferente”.

Khalili, que durante mais de 20 anos atuou como operadora de ouro no mercado financeiro, relata que o termo commodity é usado como uma provocação. O conceito está em permanente construção, mas atualmente representa o produto manufaturado pela comunidade de forma artesanal, integrada com o ecossistema e que não promove impacto ambiental.

A commodity convencional privilegia a monocultura, a transgenia e a biologia sintética, com seus lucros concentrados nos grandes proprietários. A ambiental é pautada pela diversificação de produção, pela produção agroecológica e integrada, e privilegia o associativismo e o cooperativismo.

Amyra El Khalili é economista graduada pela Faculdade de Economia, Finanças e Administração de São Paulo. Atuou nos Mercados Futuros e de Capitais como operadora da bolsa, com uma carteira de clientes que ia do Banco do Brasil à Bombril S/A e o Grupo Vicunha. Abandonou o mercado financeiro para investir seu tempo e energia no ativismo. É fundadora e idealizadora da Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais, do Movimento Mulheres pela P@Z e editora da Aliança RECOs (Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras). Khalili ministra cursos de extensão e MBA em diversas universidades, por meio de parcerias entre a rede, entidades locais e centros de pesquisa. É autora do e-book gratuito Commodities Ambientais em missão de paz – novo modelo econômico para a América Latina e o Caribe (São Paulo: Nova Consciência, 2009).

Confira a entrevista.

Foto: Editora Fórum

IHU On-Line – Existe diferença entre comoditização da natureza e financeirização da natureza? Quais?

Amyra El Khalili – Existe, mas uma acaba interferindo na outra. A comoditização da natureza é transformar o bem comum em mercadoria. Ou seja, a água, que na linguagem jurídica é chamada de bem difuso, deixa de ser bem de uso público para ser privatizada, para se tornar mercadoria. A financeirização é diferente, é a ação de tornar financeiro aquilo que é eminentemente econômico.

Isso porque a melhora da qualidade de vida também é uma questão econômica. Uma região onde as pessoas conseguem conviver com a natureza e tem acesso à água limpa, por exemplo, oferece um custo financeiro melhor, onde você vive melhor e gasta menos. Isso também tem fundamento econômico.

IHU On-Line – No caso da financeirização da natureza, o que se encaixaria nessa descrição?

Amyra El Khalili – A nossa obrigação de pagar por serviços que a natureza nos faz de graça e que nunca foram contabilizados na economia, como sequestrar o carbono da natureza, por exemplo. As árvores sequestram o carbono naturalmente, mas para ter qualidade de ar daqui para frente é preciso pagar para respirar. Nessa lógica, aquele que respira precisa pagar pelo preço daquele que poluiu, enquanto este deixa de ser criminalizado e recebe flexibilidade para não ser multado.

IHU On-Line – Você foi a criadora do conceito de commodities ambientais, que é bem diferente da comoditização da natureza. Qual era a sua proposta inicial para o termo?

Amyra El Khalili – Uma commodity tradicional é a matéria-prima extraída do ecossistema, que é manufaturada, padronizada por um critério internacional de exportação adotado entre transnacionais e governos. Os pequenos e médios produtores, os extrativistas e ribeirinhos, entre outros, não participam dessas decisões. O ouro, minério, não é uma commodity enquanto está na terra, é um bem comum. Ele torna-se uma quando é transformado em barras, registrado em bancos, devidamente certificado com padrão de qualidade avaliado e adequado a normas de comercialização internacional.

A commodity ambiental também terá critérios de padronização, mas adotando valores socioambientais e um modelo econômico totalmente diferente. O conceito está em construção e debate permanente, mas hoje chegamos à seguinte conclusão: a commodity ambiental é o produto manufaturado pela comunidade de forma artesanal, integrada com o ecossistema e que não promove o impacto ambiental como ocorre na produção de commodities convencionais.

A convencional (soja, milho, café, etc.) é produzida com monocultura e a ambiental exige a diversificação da produção, respeitando os ciclos da natureza de acordo com as características de cada bioma. A convencional caminha para transgenia, para biologia sintética e geoengenharia; a outra caminha para a agroecologia, permacultura, agricultura alternativa e de subsistência, estimulando e valorizando as formas tradicionais de produção que herdamos de nossos antepassados. A convencional tende a concentrar o lucro nos grandes produtores, já a ambiental o divide em um modelo associativista e cooperativistas para atender a maior parte da população que foi excluída do outro modelo de produção e financiamento.

O Brasil concentra sua política agropecuária em cinco produtos da pauta de exportação (soja, cana, boi, pinus e eucaliptos). A comoditização convencional promove o desmatamento, que elimina a biodiversidade com a abertura das novas fronteiras agrícolas. Nós somos produtores de grãos, mas não existe apenas essa forma de geração de emprego e renda no campo. Quantas plantas nós temos no Brasil? Pense na capacidade da riqueza da nossa biodiversidade e o que nós poderíamos produzir com a diversificação. Doces, frutas, sucos, polpas, bolos, plantas medicinais, chás, condimentos, temperos, licores, bebidas, farinhas, cascas reprocessadas e vários produtos oriundos de pesquisas gastronômicas. Sem falar em artesanato, reaproveitamento de resíduos e reciclagem. O meio ambiente não é entrave para produzir, muito pelo contrário.

IHU On-Line – Como é possível transformar em commodity algo produzido de forma artesanal?

Amyra El Khalili – O termo é justamente uma provocação. Na commodity ambiental utilizamos critérios de padronização reavaliando os critérios adotados nas commodities tradicionais. Por isso cunhei o termo para explicar a “descomoditização”. No entanto, diferentemente das convencionais, os critérios de padronização podem ser discutidos, necessitam de intervenções de quem produz e podem ser modificados. Nas commodities ambientais, o excluído deve estar no topo deste triângulo, pois os povos das florestas, as minorias, as comunidades que manejam os ecossistemas é que devem decidir sobre esses contratos, critérios e gestão destes recursos, uma vez que a maior parte dos territórios lhes pertence por herança tradicional.

Com objetivo de estimular a organização social, cito um exemplo de comercialização associativista e cooperativista bem-sucedida. É o caso dos produtores de flores de Holambra (SP). Além de produzirem com controle e gestão adequados às suas necessidades, a força da produção coletiva e o padrão de qualidade fizeram com que o seu produto ganhasse espaço e reconhecimento nacional.

Hoje você vê flores de Holambra até na novela da Globo. Essa produção, porém, ainda está no padrão de commodities convencional, pois envolve o uso de agrotóxicos. Mesmo assim conseguiu adotar outro critério para decidir sobre a padronização, comercialização e precificação, libertando-se do sistema de monocultura. A produção de flores é diversificada, o que faz com que o preço se mantenha acima do custo de produção, auferindo uma margem de lucro para seus produtores.

Inspirados no exemplo de comercialização da Cooperativa Agrícola de Holambra com o sistema de Leilão de Flores (Veiling), desenvolvemos um projeto de comercialização das commodities ambientais, além de novos critérios integrados e participativos de padronização com associativismo. No entanto, o governo também precisa incentivar mais esse tipo de produção alternativa e comunitária. A Anvisa, por exemplo, exige normas de vigilância sanitária e padrões de industrialização que tornam inacessível para as mulheres de Campos dos Goytacazes colocarem suas goiabadas nos supermercados brasileiros (para além de sua cidade). Quem consegue chegar aos supermercados para vender um doce? Só a Nestlé, só as grandes empresas.

E o questionamento que está sendo feito é justamente esse. Abrir espaço para que pessoas como as produtoras de doces saiam da margem do sistema econômico. Que elas também possam colocar o seu doce na prateleira e este concorra com um doce industrializado, com um preço que seja compatível com sua capacidade de produção. Não é industrializar o doce de goiaba, mas manter um padrão artesanal de tradição da goiabada cascão. Se nós não tivermos critérios fitossanitários para trazer para dentro essa produção que é feita à margem do sistema, elas vão ser sempre espoliadas e não terão poder de decisão. O que se pretende é que se crie um mercado alternativo e que esse mercado tenha as mesmas condições, e que possam, sobretudo, decidir sobre como, quando e o que produzir.

IHU On-Line – O termo commodities ambientais é por vezes utilizado de maneira distorcida, como que fazendo referência às commodities tradicionais, mas aplicada a assuntos ambientais, como os créditos de carbono. De que modo foi feita essa apropriação?

Amyra El Khalili – Ele foi apropriado indevidamente pelos negociantes do mercado de carbono. Eles buscavam um termo diferente da expressão “créditos de carbono”, uma palavra que já denuncia um erro operacional. Afinal, se você quer reduzir a emissão, por que creditar permissões para emitir? Contadores, administradores de empresa e pessoas da área financeira não entendiam como se reduz emitindo um crédito que entra no balanço financeiro como ativo e não como passivo.

Como o nome créditos de carbono não estava caindo na graça de gente que entende do mercado, eles pegaram a expressão commodities ambientais para tentar justificar créditos de carbono. Porque na verdade estavam comoditizando a poluição e financeirizando-a. É o que consideramos prática de assédio conceitual sub-reptício: quando se apropriam das ideias alheias, esvaziam-nas em seu conteúdo original e preenchem-nas com conteúdo espúrio. É importante salientar que esse “modus operandi” está ocorrendo também com outras iniciativas e temas como a questão de gênero e étnicas. Bandeiras tão duramente conquistadas por anos de trabalho e que nos são tão caras.

IHU On-Line – Os defensores da Redução Certificada de Emissão promovida pelos Créditos de Carbono afirmam que apesar desse recurso oferecer aos países industrializados uma permissão para poluir, o governo estabelece um limite para estas transações. Você concorda com tal afirmação?

Amyra El Khalili – Esse controle tanto não é feito de maneira adequada, que desde 2012 há uma polêmica no parlamento europeu de grupos que exigem que a Comunidade Europeia retenha 900 milhões de permissões de emissão autorizadas após o mercado ter sido inundado por estas permissões (cap and trade). São permissões auferidas pelos órgãos governamentais que foram vendidas quando a cotação dos créditos de carbono estava em alta e agora caíram para quase zero.

Então na teoria pode ser muito bonito, mas entre a teoria e a prática há uma distância oceânica. Há também o seguinte: ainda que você tenha o controle regional, a partir do momento que um título desses vai ao mercado financeiro e pode ser trocado entre países e estados em um sistema globalizado, quem controla um sistema desses? Se internamente, com os nossos títulos, às vezes ocorrem fraudes e perda de controle tanto com a emissão quanto com as garantias, como se vai controlar algo que está migrando de um canto para outro? É praticamente impossível controlar volumes vultosos de um mercado intangível e de difícil mensuração.

IHU On-Line – A China e a Califórnia planejam utilizar os arrozais como fonte para créditos de carbono, o que levou a uma reação da comunidade ambiental com o movimento No-Redd Rice. Em que consiste o movimento e por que ele é contrário a este acordo?

Amyra El Khalili – O REDD, a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, é a compra de um título em créditos de carbono sobre uma área de floresta que deve ser preservada. Trata-se de mais um exemplo de financeirização da natureza, pois vincula a comunidade local a um contrato financeiro em que ela fica impedida de manejar a área por muitos anos, enquanto a outra parte do contrato continua produzindo e emitindo poluição do outro lado do mundo.

No caso do arroz com REDD, acontece o seguinte: com o entendimento de que uma floresta sequestra carbono, e que é possível emitir créditos de carbono sobre uma área preservada de floresta, o argumento é que a plantação também sequestra. O transgênico inclusive sequestra mais carbono do que a agricultura convencional, porque a transgenia promove o crescimento mais rápido da planta e acelera o ciclo do carbono. Então qualquer coisa que você plantar na monocultura intensiva, como a cana ou a soja, vai sequestrar carbono também. E, por isso, o agronegócio deseja emitir créditos de carbono também para a agricultura. Podemos dizer que não sequestra? Não, realmente sequestra, mas e quanto aos impactos ambientais?

O movimento internacional contra REDD com Arroz está se posicionando porque isso pressionará toda produção agropecuária mundial, colocando os médios e pequenos produtores, populações tradicionais, populações indígenas novamente reféns das transnacionais e dos impactos socioambientais que esse modelo econômico excludente está causando, além de afetar diretamente o direito à soberania alimentar dos povos, vinculando o modelo de produção à biotecnologia e com novos experimentos bio-geo-químicos.

IHU On-Line – O problema é que, se o crédito de carbono foi criado com o objetivo de diminuir os impactos ambientais, não se pode colocar sob uma monocultura que gera impactos da mesma forma a possibilidade de solução do problema, correto?

Amyra El Khalili – Exatamente. Outra coisa importante é que, mesmo com o conceito commodity ambiental estando em construção coletiva e permanentemente em discussão, hoje nós temos a certeza do que não é uma commodity ambiental. Elas não são transgênicas, nem podem ser produzidas com derivados da biotecnologia — como biologia sintética e geoengenharia. Não são monocultura, não podem se concentrar em grandes produtores, não causam doenças pelo uso de minerais cancerígenos (amianto), não usam produtos químicos, nem envolvem a poluição ou fatores que possam criar problemas de saúde pública, pois estes elementos geram enormes impactos ambientais e socioeconômicos.

A produção agrícola, como é feita hoje, incentiva o produtor a mudar sua produção conforme o valor pago pelo mercado. Então se a demanda for de goiaba, só se planta goiaba. Nas commodities ambientais, não. Não é o mercado, mas o ecossistema que tem o poder de determinar os limites da produção. Com a diversificação da produção, quando não é temporada de goiaba é a de caqui, se não for caqui na próxima safra tem pequi e na seguinte melancia. Se começarmos a interferir no ecossistema para manter a mesma monocultura durante os 365 dias do ano, vamos gerar um impacto gravíssimo.

IHU On-Line – O que é a água virtual e como esse conceito se encaixa na discussão de commodities?

Amyra El Khalili – A água virtual é a quantidade de água necessária para a produção das commodities que enviamos para exportação. No Oriente Médio, ou em outros países em crise de abastecimento, como não há água para a produção agrícola extensa a alternativa é importar alimento de outros países. Quando se está importando alimento, também se importa a água que este país investiu e que o outro deixou de gastar.

O que se defende na nossa linha de raciocínio é que, quando exportamos commodities tradicionais (soja, milho, boi, etc.), se pague esta água também. No entanto, não é paga nem a água, nem a energia ou o solo gasto para a produção daquela monocultura extensiva. A comoditização convencional, no modelo que temos no Brasil há 513 anos, é altamente consumidora de energia, de solo, de água e biodiversidade, e esse custo não está agregado ao preço da commodity. O produtor não recebe este valor, pois vende a soja pelo preço formado na Bolsa de Chicago. Quem compra commodity quer pagar barato, sempre vai pressionar para que este preço seja baixo.

Ainda sobre a água, se é na escassez dos recursos que estes passam a ser valorizados como mercadoria, quais as perspectivas de uma crise mundial no abastecimento hídrico?

Amyra El Khalili – Eu considero a questão hídrica a mais grave e mais emergencial no mundo. Sem água não há vida, ela é essencial para a sobrevivência do ser humano e de todos os seres vivos. A falta de água é morte imediata em qualquer circunstância. No Brasil não estamos livres do problema da água. Muita dessa água está sendo contaminada com despejo de efluentes, agrotóxicos, químicos e com a eminência da exploração de gás de xisto, por exemplo, onde a técnica usada para fraturar a rocha pode contaminar as águas subterrâneas.

Os pesquisadores e a mídia dão ênfase muito grande para as mudanças climáticas, que é a consequência, sem aprofundar a discussão sobre as causas. Dão destaque para o mercado de carbono como “a solução”, sem dar prioridade para a causa que é o binômio água e energia. O modelo energético adotado no mundo colabora para esses desequilíbrios climáticos, se não for o maior responsável entre todos os fatores. Nós somos totalmente dependentes de energia fóssil, e no Brasil temos um duplo uso da água: para produzir energia (hidrelétricas) e para produção agropecuária e industrial, além do consumo humano e de demais seres vivos.

E por que é necessário produzir tanta energia? Porque nosso padrão de consumo é altamente consumidor. Seguimos barrando rios e fazendo hidrelétricas, e quando barramos rios, matamos todo o ecossistema que é dependente do ciclo hidrológico. Caso o binômio água e energia seja resolvido, também será resolvido o problema da emissão de carbono. Quando se resolve a questão hídrica, recompomos as florestas, as matas ciliares, a biodiversidade. O fluxo de oxigênio no ambiente e a própria natureza trabalhará para reduzir a emissão de carbono. Se não atacarmos as causas ficaremos circulando em torno das consequências, sem encontrarmos uma solução real e eficiente para as presentes e futuras gerações.

(Por Andriolli Costa)

Fonte: IHU – Unisinos

 

 

“Ações e Cases de Natureza Socioambiental”


Roberta Romão, do Consumidor Consciente

                             

As Lojas Americanas e a B2W Digital acabam de ser agraciadas com o Prêmio Socioambiental Chico Mendes, na categoria “Ações e Cases de Natureza Socioambiental”. O case apresentado trata do “Comitê Companhia Verde”, que desenvolve diversas iniciativas com foco no consumo consciente, como a educação ambiental, consumo racional de água, energia e suprimentos, entre outros.

Além de preencherem um criterioso questionário com as iniciativas na área de sustentabilidade, foram enviados Relatório de Sustentabilidade e Código de Ética. No resultado final, um dos destaques foi a gestão social, na qual 94% dos requisitos exigidos foram atendidos.

Durante um ano, as Companhias poderão utilizar o Selo Verde, que ajuda o consumidor a distinguir as empresas que possuem boas práticas de responsabilidade socioambiental.

A premiação é promovida pelo Instituto Internacional de Pesquisa e Responsabilidade Socioambiental Chico Mendes. A organização não governamental sem fins lucrativos foi fundada em março de 2004. Seu objetivo é desenvolver ações que contribuam com a conservação e a proteção ambiental, proteção humana e inclusão social.

As metas são realizadas por intermédio de geração de renda, difusão de técnicas e conhecimentos, eventos, pesquisas e projetos de ação.

(Consumidor Consciente)

Fonte: Mercado Ético

Grupo de 87 empresas cobram país sobre desmate na Amazônia


O acordo é considerado um mecanismo importante para conter o avanço do desmatamento na Amazônia (Reuters)

Um grupo de 87 companhias europeias, que juntas administram ativos superiores a 2,5 bilhões de libras, escreveu uma carta para o governo brasileiro pedindo a interrupção do desmatamento na Amazônia para a produção de soja. Entre elas estão alguns dos maiores produtores de alimentos, gestores de ativos e redes de supermercados do continente, como Tesco, Aldi, Asda e Carrefour.

O documento pede a extensão da moratória da soja na Amazônia (ASM, na sigla em inglês), acordo assinado em 2006 pelas empresas para impedir o uso de novas terras para a produção de commodity, que é usada como alimento para humanos e é matéria-prima para ração de gado. O acordo é considerado um mecanismo importante para conter o avanço do desmatamento na Amazônia. “Queremos poder continuar a buscar ou investir na indústria brasileira de soja, mas se a ASM não for mantida isso colocará em risco nossos negócios com a soja brasileira”, destaca a carta. Esse texto foi coordenado pela Iniciativa de Risco e Retorno de Investimento em Animais Agrícolas.

“O objetivo da carta foi assegurar aos nossos membros que a moratória da Amazônia não vai acabar”, explicou a consultora de políticas de sustentabilidade Leah Riley Brown, do Consórcio Britânico de Varejo (BRC, na sigla em inglês, que reúne 70% do setor no Reino Unido).

O documento foi enviado no dia 2 para o embaixador do Brasil em Londres, Fred Arruda. Ele informou, dois dias depois, que dividiu as preocupações dos signatários com autoridades domésticas e salientou que o Brasil desenvolveu uma estrutura legal, além de políticas concretas, para mapear a produção e garantir a proteção da vegetação nativa, que cobre 66% do território nacional.

Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) ressaltou a importância da moratória, que tem sido “fundamental para atender às exigências dos mercados consumidores quanto à sustentabilidade da soja brasileira e garantir o reconhecimento internacional do agronegócio brasileiro”.

Movimento

A manifestação europeia ocorre em meio a um movimento no Brasil que pede o fim da moratória. O pedido é encabeçado pela Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), que diz contar com apoio de pelo menos um representante do governo federal. Em novembro, representantes do setor de produção receberam sinalização positiva do secretário especial da Casa Civil para Relacionamento Externo, Abelardo Lupion, na articulação para tentar rever a moratória.

O presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, afirmou em novembro que os produtores já cumprem as regras. “Não há produção de soja no mundo próxima da sustentabilidade que tem a nossa, que protege Reserva Legal e Área de Preservação Permanente. Não precisamos de mais imposição”, disse Braz. Para ele, segundo destacou na oportunidade, se a Europa não quiser mais soja da Amazônia, há o mercado asiático.

O governo está atento às reações internacionais. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem conversado com outros ministérios e o receio é de que as ameaças, que têm se avolumado se tornem boicotes reais.

Agência Estado

Krajcberg – A arte a favor da Natureza


Frans Krajcberg é um artista ímpar, suas obras refletem o grito urgente da natureza. Adotou o Brasil como casa, e a biodiversidade daqui o encantou. Suas obras retratam a paisagem brasileira, em especial a floresta amazônica, denunciando constantemente sua degradação veloz e covarde.

                          

Ao longo de sua carreira, Krajcberg se mantém fiel a uma concepção de arte relacionada diretamente a elementos da natureza. Como matéria prima, utiliza árvores de áreas de queimadas, distorcidas e negras. Faz da arte um grito de protesto, que quase sempre é ignorado pela ganância do homem em pensar que os recursos naturais são infinitos, pensamento esse que desrespeita o equilíbrio natural do ciclo da vida, pondo em xeque a saúde da Terra e tudo mais que ela nos oferece.

Nascido na Polônia, onde perdeu toda a família na guerra nazista, veio para o Brasil sozinho na década de 70. Krajcberg mantém no sul da Bahia o seu ateliê no Sítio Natura, no município de Nova Viçosa. Chegou ali o convite do amigo e arquiteto Zanine Caldas, que o ajudou a construir sua habitação inusitada: uma casa, a sete metros do chão, no alto de um tronco de pequi com 2,60 metros de diâmetro. À época, Zanine sonhava em transformar Nova Viçosa em uma capital cultural e a sua utopia chegou a reunir nomes como os de Chico Buarque, Oscar Niemeyer e Dorival Caymmi.

Mesmo com 92 anos, o artista plástico nunca interrompe sua produção, em seu sítio e em galerias ao redor do mundo está conservada uma vasta coleção de suas obras belíssimas esculpidas e pintadas como protesto à ação devastadora do homem na natureza.

Há dois meses, nosso artista foi internado depois de um infarto e passou por cirurgia no Hospital Espanhol em Salvador. Com saúde delicada em idade já avançada, Krajcberg não pára de surpreender, se recuperou e rapidamente voltou a produzir suas fotografias, esculturas e pinturas.

Reconhecido internacionalmente, o projeto para a criação da Função Museu Artístico Frans Krajcberg foi aprovado este ano e reunirá toda sua obra para exposição permanente no estado da Bahia. “Quero que tudo o que eu fiz fique no estado da Bahia para sempre e crescendo, para lutar pela saúde do planeta. A Bahia é importante porque minha luta começou aqui, acho que deve continuar e eu já estou com 92 anos.”

Para conhecer melhor esse artista excepcional, existem vários documentários sobre sua vida e obra, entre eles o Krajcberg, o Poeta dos Vestígios, produzido pelo amigo íntimo de Krajcberg, Walter Salles, de 1987 e o Socorro Nobre Filme Brasileiro também produzido por Salles em 1995.

Assista ao vídeo de Frans Krajcberg em visita ao Museu de Arte Contemporânea:

Fonte: Frans Krajcberg ; Mercado e Arte

Laísa Mangelli

 

 

Secretário-geral da ONU cobra ações contra aquecimento na COP25


“A água já cobre grande parte de nosso território em algum momento do ano. Nos recusamos a morrer”, afirmou em um vídeo a presidente das Ilhas Marshall Foto (AFP)

Os pedidos de ação urgente e resoluta para salvar a humanidade dos problemas provocados pela mudança climática se multiplicaram nessa segunda-feira (2) na abertura da COP25 em Madri, ante temores de que a reunião possa ficar abaixo das expectativas. Desde o ano passado, os países signatários do Acordo de Paris são alvo de uma pressão sem precedentes, resumida na hashtag escolhida para as duas semanas de reunião: #TimeforAction. Os apelos por ação urgente foram repetidos no dia de abertura da 25ª Conferência do Clima da ONU (COP25).

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“Realmente queremos entrar para a história como a geração que agiu como o avestruz, que brincava enquanto o mundo queimava?”, questionou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Diante dos representantes de quase 200 signatários do Acordo de Paris, entre eles 40 chefes de Estado ou de governo, Guterres pediu uma escolha entre a “esperança” de um mundo melhor e a tomada de ações, ou a “capitulação”.

Na cerimônia de inauguração do evento, que acontece em Madri depois que o Chile desistiu de abrigar a reunião em consequência da revolta social no país, Guterres destacou sua “frustração” com a lentidão das mudanças, insistindo na necessidade de atuar de forma urgente. “O ponto de não retorno não está longe no horizonte, conseguimos ver e se aproxima a toda velocidade”, declarou Guterres no domingo (1).

Cada grau conta

Há alguns dias, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgou um relatório muito duro a respeito da esperança de cumprir o objetivo ideal do Acordo de Paris: limitar o aquecimento a +1,5 grau na comparação com a era pré-industrial. Para alcançar a meta seria necessário reduzir as emissões de CO2 em 7,6% por ano até 2030. Mas não há sinal de queda.

As temperaturas já subiram quase 1 grau, multiplicando as catástrofes climáticas. E cada grau adicional deve aumentar os efeitos. No ritmo atual, a temperatura poderia aumentar 4 ou 5 graus até o fim do século. Mesmo que os Estados cumpram os compromissos atuais, a alta no termômetro pode superar 3 graus.

“Continua faltando vontade política”, lamentou Guterres, antes de afirmar que os maiores emissores de CO2 “não cumprem sua parte”. “Alguns países como China e Japão dão sinais de sua relutância a aumentar sua ambição”, disse Laurence Tubiana, idealizadora do Acordo de Paris.

O governo dos Estados Unidos acaba de confirmar sua retirada do acordo no próximo ano, embora seus cidadãos continuem comprometidos com a luta contra a mudança climática, afirmou a presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, que, em um gesto político, lidera a delegação do Congresso americano em Madri.

Atenção voltada para a UE

Neste contexto, a atenção está voltada para a União Europeia (UE), que tem ampla representação na conferência. “Em uma época marcada pelo silêncio de alguns, a Europa tem muito o que dizer nesta batalha”, afirmou o primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez.

“Porque assim exigem nossas sociedades. Mas também por uma questão de justiça histórica elementar: se a Europa liderou a revolução industrial e o capitalismo fóssil, a Europa tem que liderar a descarbonização”, completou.

Os defensores do planeta esperam que uma reunião europeia em 12 e 13 de dezembro alcance um acordo sobre a neutralidade de carbono até 2050. Mas será necessário esperar até 2020 para que a UE apresente uma revisão de suas ambições a curto prazo.

“Seremos os campeões da transição verde”, garantiu o novo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. “Tivemos a revolução industrial, a revolução tecnológica, está na hora da revolução verde”, completou.

No momento, apenas 68 países se comprometeram a revisar e intensificar os compromissos de redução de emissões de CO2 em 2020, antes da COP26 em Glasglow, mas estas nações representam apenas 8% das emissões mundiais, de acordo com especialista.

Os países do hemisfério sul desejam ser ouvidos e exigem que as nações do norte assumam suas responsabilidades, com ajuda para enfrentar os desastres previstos. “A água já cobre grande parte de nosso território em algum momento do ano. Nos recusamos a morrer”, afirmou em um vídeo a presidente das Ilhas Marshall, Hilda Heine.

AFP

Secretário-geral da ONU: ‘Guerra contra a natureza precisa terminar’


Guterres disse que promessas não são suficientes. (ONU/Jean-Marc Ferré)

O mundo precisa parar uma “guerra contra a natureza” e encontrar mais vontade política para combater as mudanças climáticas, disse o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, neste domingo (1º), às vésperas da cúpula mundial de duas semanas sobre o clima em Madri.

Em todo o mundo, condições climáticas extremas, causando de incêndios florestais a inundações, estão relacionadas com o aquecimento global causado pelo homem, o que exerce pressão sobre a cúpula para reforçar a aplicação do Acordo de Paris de 2015 sobre a limitação do aumento das temperaturas.

“Nossa guerra contra a natureza deve terminar, e sabemos que é possível”, disse Guterres antes da cúpula, que vai de 2 a 13 de dezembro.

“Nós apenas temos que parar de cavar e perfurar e aproveitar as enormes possibilidades oferecidas pelas energias renováveis e as soluções baseadas na natureza”.

Reduções nas emissões de gases estufa que foram acordadas até o momento no Acordo de Paris não são suficientes para limitar o aumento da temperatura em uma meta entre 1,5 e 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais.

Muitos países nem cumprem esses compromissos, e falta vontade política, disse Guterres.

O presidente Donald Trump começou a retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, enquanto o desmatamento da bacia amazônica está acelerando, e a China se inclinou para o construção de mais usinas a carvão.

Setenta países se comprometeram a atingir uma meta de “neutralidade de carbono” ou “neutralidade climática” até 2050.

Isso significa que eles equilibrariam as emissões de gases de efeito estufa, por exemplo, usando tecnologia de sequestro de carbono ou plantio de árvores.

Mas Guterres disse que essas promessas não são suficientes.

“Também vemos claramente que os maiores emissores do mundo, eles não estão fazendo sua parte”, disse ele.

“E, sem eles, nosso objetivo é inatingível.”

Reuters

Prêmio Hugo Werneck Divulga Finalistas


Dezoito projetos dentre 80 selecionados de todo o Brasil disputam o Oscar da Ecologia de 2013

 

A Comissão Avaliadora do IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza acaba de divulgar a lista de finalistas deste ano. Foram escolhidos 18 projetos, dentre um total de 80 selecionados, que ficaram entre os três melhores nas categorias Educação Ambiental, Mobilização Social, Melhor em TI, Melhor em Água, Melhor em Fauna e Melhor em Flora. Os vencedores serão homenageados no dia 9 de dezembro, às 20h, durante cerimônia presidida pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e pelo governador Antônio Anastasia, no Cine Theatro Brasil – Vallourec.

 

Este ano o Prêmio Hugo Werneck, que assim como a Revista Ecológico está passando por um processo de nacionalização, recebeu diversas inscrições de outros estados brasileiros. Projetos do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Distrito Federal, Paraná, Paraíba, Amazonas e Mato Grosso do Sul concorrem com os mineiros, enriquecendo ainda mais a troca de experiências proporcionada pela iniciativa.

 

“O objetivo do prêmio, além de homenagear pessoas e incentivar as boas práticas sustentáveis, é movimentar a indústria verde, também chamada de ‘indústria da esperança’, e o mercado sobre sustentabilidade crescente em nosso meio. Se hoje existem campanhas de publicidade, departamentos e empregos na área ambiental, isso se deve as primeiras ONGs ativistas e ambientalistas, como o Dr. Hugo Werneck”, explica Hiram Firmino, jornalista e ambientalista, coordenador do prêmio.

Confira a lista completa de finalistas

MELHOR EM TI

Projeto ENIAC/Instituto Brasileiro de Turismólogos

Projeto Oráculus/TR Soluções

Projeto TI /Verde/AngloGold Ashanti

 

MELHOR EM ÁGUA

AGB Peixe Vivo

Apolo Heringer, Projeto Manuelzão

Votorantim Metais

 

MELHOR EM FLORA

Arcelor Mittal/Projetos Matas Ciliares

Projeto Inventário Florestal da UFLA/IEF – Reitor Roberto Scolforo

Projeto Oásis/Grupo Fundação O Boticário de Proteção à Natureza

 

MELHOR EM FAUNA

Instituto Felinos do Aguaí

Projeto Malha/Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas/UFLA

Projeto Pato Mergulhão/Terra Brasilis

 

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Eu no Meio/E.E. Raul Teixeira da Costa Sobrinho

ForEA –Forum Regional de Educação Ambiental

Guerreiros da Amazônia

 

MOBILIZAÇÃO SOCIAL

Barqueata Rio Verde

Expedição Rio Paracatu, Movimento Verde/Tonhão

Projeto Manuelzão, “Deixe o Onça beber Água Limpa”

 

Os vencedores nas demais Categorias/indicações (MELHORES DESTAQUES MUNICIPAL, ESTADUAL E NACIONAL/ PARCEIRO SUSTENTÁVEL/EMPRESA/EMPRESÁRIO/POLÍTICO E PERSONALIDADE DO ANO) serão anunciados e conhecidos durante a cerimônia.

 

Mais Informações: www.premiohugowerneck.com.br

Ministra e governador destacam a importância da educação ambiental


Prefeito Marcio Lacerda, ministra Izabella Teixeira, governador Antonio Anastasia e o organizador do evento, Hiram Firmino

Por Patrícia Almada
Repórter DomTotal

A educação ambiental é uma ferramenta essencial para mudar o comportamento das pessoas. A avaliação é da ministra do meio ambiente, Izabella Teixeira que, na segunda-feira (9), esteve em Belo Horizonte para participar da entrega do IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza.

A ministra entende que a educação é a principal arma de conscientização para se criar uma sociedade mais compromissada com a sustentabilidade.  “Só se faz um meio ambiente mais sustentável, mais respeitável, um meio ambiente como escolha para a questão da sustentabilidade e uma vida melhor, se você tiver educação,” ressaltou, em entrevista ao DomTotal.

Para Izabella Teixeira, o próprio Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade reforça a importância da educação no processo de reconhecimento do meio ambiente como parte e pré-condição da qualidade de vida das pessoas. Ela destacou iniciativas que envolvem crianças nesse processo e disse que o governo federal trabalha neste sentido.

“Acho que é uma mudança também do instrumento, um aprimoramento e a política nacional da educação ambiental foi colocada em prática com uma envergadura enorme”, avaliou.

A ministra citou o sucesso de participação dos jovens na Conferência da Juventude e Meio Ambiente, ocorrida recentemente. “Foi a maior conferência já feita de meio ambiente no país, mais de 70% dos municípios brasileiros, ou seja, quatro mil municípios diretamente envolvidos trouxeram a questão da educação ambiental como o eixo central da mudança de comportamento, onde a gente não fala só dos nossos direitos, mas dos nossos deveres”, destacou.

O governador Antonio Anastasia, que participou da premiação, também destacou a função primordial da educação como mecanismo de conscientização coletiva de defesa do meio ambiente. “O papel de defesa do meio ambiente, de defesa da sustentabilidade, não pode ser monopólio do poder público, ao contrário, fundamentalmente deve estar radicado de fato na sociedade como todo, não só nas organizações não-governamentais, mas também nas empresas, no empresariado, nas academias, nas universidades, em todas as forças vivas da nação”, explicou.

O prefeito Marcio Lacerda também prestigiou o evento.

Faculdade sustentável

Um bom exemplo de investimentos em iniciativas de conscientização ambiental e na formação de profissionais ligados ao conceito de sustentabilidade na capital mineira é a Escola Superior Dom Helder Câmara. Além de cursos de mestrado e doutorado voltados para a área do direito ambiental, a instituição possui projetos voltados para a conscientização do meio ambiente e sustentabilidade, denominados Movimento EcosInstituto Socioambiental Dom Helder.

Os alunos participam também de grupos de estudos que debatem e buscam soluções para problemas ambientais da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Atualmente, o grupo “Direito à Cidade e Desenvolvimento Sustentável” acompanha a situação de um trecho de 30 quilômetros do Rio das Velhas que passa por Santa Luzia, cidade da Grande BH.

Sobre o prêmio

Criado em 2010, o Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza é uma iniciativa de ambientalistas históricos ligados à memória de Hugo que significa para Minas e o país, o mesmo que Chico Mendes representa para a Amazônia e o mundo.

Hugo Werneck formou-se dentista de profissão, porém foi um grande defensor das causas ambientais. Foi fundador, há três décadas, do Centro para a Conservação da Natureza, uma das primeiras ONGs na América Latina a empunhar a bandeira do que hoje chamamos de sustentabilidade.

Confira os vencedores em 14 categorias do IV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza:

1 – Melhor em TI

Projeto TI /Verde/AngloGold Ashanti – recebido por Pedro Augusto Mendonça de Oliveira, gerente de tecnologia de informação.

2 – Melhor em água

Votorantim Metais – recebido por Alexandre Gomes, diretor de tecnologia.

3 – Melhor em flora

Projeto Oásis – Grupo Fundação O Boticário de Proteção à Natureza – recebido por Silvia Sprenger, assessora de relações institucionais.

4 – Melhor em fauna

Projeto Pato Mergulhão/Terra Brasilis – recebido por Sônia Rigueira, presidente do Terra Brasilis, e a ornitóloga e bióloga, Livia Vanucci Likns, coordenadora do Projeto.

5 – Educação ambiental

Guerreiros da Amazônia – recebido por Ronaldo Barcelos, Ronaldo Santana e Paulo Coutinho, da RJR Produtora e Editora.

6 – Mobilização social

Expedição Rio Paracatu, Movimento Verde/Tonhão – recebido por Antônio Eustáquio Vieira (Tonhão), presidente da ONG e vice-presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paracatu, Minas Gerais.

7 – Destaque municipal

Guilherme Paculdino, criador e gestor da Célula sustentabilidade/Águas de Santa Bárbara – MG.

8 – Destaque estadual

Berenice Menegale, pianista internacionalmente reconhecida pianista, professora e musicista.

9 – Dstaque nacional

Projeto Sesc Pantanal, recebido por Maron Emile, diretor-geral do Departamento Nacional do Sesc , Waldir Wolfgang, supervisor da Estância Ecológica Sesc Pantanal, e Marcus Willian, – Gerente do Hotel Sesc Porto Cercado.

10 – Destaque especial

Roberto Scólforo, reitor da UFLA, Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais.

11 – Melhor empresa

CEMPRE – Compromisso Empresarial para a Reciclagem.

12 – Melhor empresário

Pedro Luiz Passos, co-presidente da Natura.

13 – Melhor empresa parceira

Gerdau – recebida por Manoel Vitor de Mendonça Filho, vice-presidente executivo.

14 – Personalidade ambiental 2013

Apolo Heringer Lisboa, médico e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, fundador e principal ativista do Projeto Manuelzão.

Fonte: Dom Total