Pressão pública leva grandes empresas de alimentos a melhorar suas políticas


 
A mobilização de centenas de milhares de pessoas fez com que nove das dez maiores empresas de alimentos e bebidas em todo o mundo melhorassem políticas de compras com impactos sociais e ambientais em suas cadeias de fornecimento ao longo dos últimos doze meses, declara a Oxfam, organização não governamental internacional que combate a pobreza.

A avaliação do primeiro ano do ranking de políticas empresariais da campanha Por trás das Marcas, lançado pela organização em 26 de fevereiro de 2013, mostrou que algumas empresas líderes do setor alimentício fizeram grandes avanços para a melhoria de políticas de compras de matérias primas envolvendo toda a cadeia de fornecimento, com impacto nos direitos à terra, direitos das mulheres e na redução das emissões de carbono. Mas, de maneira geral, as “Dez Grandes” evoluíram pouco como grupo, desmotivadas sobretudo por empresas que não demonstram interesse ou vontade de mudar.

 
 
Por trás das Marcas é um ranking que classifica as “Dez Grandes” de acordo com suas políticas sobre transparência (origem de suas matérias primas), gênero (situação das mulheres produtoras), trabalhadores (condições de trabalho), agricultores impactados, acesso a terras, à água e impactos no clima. Nove delas melhoraram no decorrer dos últimos doze meses. A General Mills, dona das marcas Haagen-Dazs e Nature Valley, entre outras, foi a única exceção, caindo para a última posição.
 
 
As três empresas com melhor desempenho – a Nestlé (1o lugar), a Unilever (2o lugar) e a Coca-Cola (3o lugar) – alcançaram suas posições com as melhores margens, respectivamente 10, 14 e 13%. A ABF, Associated British Foods (9o lugar) e a Kellogg’s (8o lugar) melhoraram significativamente, com 8 e 6%, respectivamente. As empresas com desempenho mediano– a Danone (6o lugar, empatado), a Mars (6o lugar, empatado), a Mondelez (4o lugar, empatado) e a PepsiCo (4o lugar, empatado) – também melhoraram, mas pouco, e precisam fazer muito mais.  
 
 
Para Simon Ticehurst, diretor da Oxfam no Brasil, “essas mudanças nas políticas são um primeiro passo rumo a melhores práticas e menos fome, menos pobreza e menos danos ambientais, impactando as comunidades envolvidas na cadeia de fornecimento das empresas do setor alimentício”.
 
Prioridade a mulheres e direito à terra
 
 
Em 2013, Por Trás das Marcas concentrou suas ações de mobilização pública especialmente nos temas terras e gênero, questões até então amplamente ignoradas pelas “Dez Grandes”. Em março, a Oxfam fez campanha para que a Mars, a Mondelez e a Nestlé, gigantes do chocolate, mudassem suas políticas e ajudassem a acabar com a desigualdade enfrentada por mulheres no campo – com sucesso.
 
 
Em outubro, apontamos para a Coca-Cola, a Pepsi e a ABF práticas que colaborariam com o fim das apropriações injustas de terras em suas cadeias de suprimento. A Coca-Cola, em particular, agiu rápido, e anunciou globalmente uma nova política de tolerância zero à apropriação injusta de terras. A ABF também aderiu a novas políticas, que começam a abordar a questão. A Oxfam está em diálogo com a Pepsi para obter um comprometimento semelhante.
 
 
“A maioria das Dez Grandes está na direção certa, agora que centenas de milhares de consumidores e investidores que controlam trilhões em ativos estão exigindo que o modo tradicional de conduzir os negócios seja repensado”, diz Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam Internacional.
 
 
“Algumas empresas mostraram liderança, mas outras parecem precisar ser empurradas. Vai levar tempo para reverter 100 anos de história, em que se dependeu de terra e mão-de-obra baratas, com um alto custo socioambiental, para se produzir em massa a lucros astronômicos. Foi dada a largada para a corrida rumo ao topo, e há tanto líderes quanto retardatários muito bem identificados.”
 
 
Novas políticas de seis das Dez Grandes endossam o princípio da Consentimento Livre Prévio e Informado, que ajuda a garantir que as comunidades locais sejam consultadas e deem seu consentimento antes de que as terras utilizadas por elas possam ser vendidas ou utilizadas em grandes empreendimentos.
 
 
Sete empresas já assinaram também os Princípios de Empoderamento da Mulher, da ONU, um compromisso de alto nível para que empresas melhorem as condições das mulheres impactadas por seus negócios. As três maiores empresas de cacau – Nestlé, Mondelez e Mars – lançarão, em maio de 2014, um plano de ação detalhado para lidar com a desigualdade de gênero em suas cadeias de suprimento. Oito empresas melhoraram suas políticas com impacto no clima, principalmente por meio de uma divulgação mais ampla sobre suas emissões de carbono e os riscos relacionados a mudanças climáticas.
 
Empresas estão preocupadas com a opnião do consumidor
 
 
“A grande lição do primeiro ano de Por trás das Marcas é que as empresas respondem de maneira rápida e eficaz quando os consumidores exigem métodos de produção mais responsáveis. Nas cadeias de suprimento, já vemos produtores e comerciantes agrícolas começando a melhorar suas práticas para não perder negócios com as “Dez Grandes”, suas maiores compradoras. Precisamos que números ainda maiores de consumidores se manifestem.”
 
 
 

Ranking completo em: http://www.behindthebrands.org/pt-br/ranking

 

Fonte: ImaFlora