Muitas vezes ficamos centrados nos estudos científicos sobre o clima e em números de variação de temperatura ou nos bilhões de dólares em prejuízos que este ou aquele fenômeno causaram e perdemos um pouco a real noção dos impactos das mudanças climáticas na vida das pessoas.
É com a intenção de chamar a atenção para esta realidade que a ONG britânica Environmental Justice Foundation (EJF) lançou no Dia dos Direitos Humanos (10 de dezembro) o relatório "A Nation Under Threat" (Uma Nação Ameaçada), que detalha como milhões de pessoas em Bangladesh já sofrem com as consequências das mudanças climáticas.
O documento aponta, por exemplo, que depois de afetadas por desastres naturais, a recuperação nas áreas rurais demora muito para acontecer, sendo que as taxas de desemprego seguem altas por até 18 meses.
As mudanças climáticas também têm tornado cada vez mais difícil a sobrevivência pela agricultura, uma vez que a imensa maioria dos produtores de Bangladesh não possui acesso a tecnologias modernas de plantio. Assim, qualquer chuva ou seca um pouco mais intensa causa a perda total das lavouras.
Outro dilema, que, segundo a EJF, é o maior desafio atual para os direitos humanos e para o desenvolvimento econômico é a intrusão de água salgada nas fontes potáveis. Muitas comunidades rurais estariam se tornando insustentáveis porque não possuem mais acesso à água para o consumo e para irrigação.
Todos esses problemas se somam e são os principais fatores para a migração de pessoas das áreas rurais para as urbanas. A capital, Daca, apresenta uma taxa de crescimento populacional de 966% nos últimos 30 anos.
Para piorar, as pessoas que vão para as cidades acabam tendo que viver de forma marginal, em periferias perigosas do ponto de vista da criminalidade e da saúde pública. Também são geralmente áreas de risco para desastres naturais. Barracos que mal podem ser chamados de casas se amontoam perto de rios que enchem ou em morros que desmoronam na primeira chuva mais forte.
“Nós fomos para casa e vimos que não havia restado nada. Não havia uma única residência na qual as pessoas poderiam morar. Somente as casas construídas aproveitando a proteção de árvores ficaram de pé, porém não estavam habitáveis. Todas as casas de pau-a-pique se foram”, disse Ataur Rahman, descrevendo o cenário após mais um ciclone assolar o país.
COP 18
Apesar de na Conferência do Clima de Doha (COP 18), que terminou no último sábado (8), os países mais ricos terem concordado em incluir no texto final que é preciso começar a liberar recursos para os mais vulneráveis se recuperarem dos impactos das mudanças climáticas, pouco de concreto foi feito.
“As negociações não foram ambiciosas o suficiente. Os delegados falharam ao não criar um caminho para facilitar a ajuda para os países mais pobres que já sofrem com as mudanças climáticas”, declarou Steve Trent, diretor do EJF.
O relatório sobre Bangladesh destaca que uma resposta mais sofisticada e coordenada da comunidade internacional é necessária. Segundo o documento, seria fundamental passar a olhar as mudanças climáticas como um drama humano, com o mesmo interesse que é dado para questões envolvendo os direitos humanos.
“Nossas falhas para lidar com as mudanças climáticas possuem um grande impacto na segurança alimentar, saúde pública e bem-estar, que são direitos essenciais de todas as pessoas. Os refugiados climáticos não possuem nenhum tipo de reconhecimento ou proteção. Precisamos identificar áreas e populações em risco climático e estudar como as estruturas ligadas aos direitos humanos podem ajudar”, afirmou Trent.
Esta visão é compartilhada por Rizwana Hasan, da Associação dos Advogados de Direito Ambiental de Bangladesh. “A mudança climática é um fenômeno que vem agravar problemas já existentes. A comunidade internacional deve buscar um novo conjunto de leis para lidar com esse desafio e com os refugiados, que vão aumentar ainda mais no futuro.”
“Acredito que toda a questão das mudanças climáticas costumava parecer algo difícil de entender, algo distante da realidade e por isso era ignorada. Mas estamos vendo sinais cada vez mais evidentes de seus impactos e temos que nos tornar mais conscientes e responsáveis pelo bem das futuras gerações”, concluiu a atriz Ashley Jensen, apoiadora da EFF.
Fonte: Instituto Carbono Brasil