Tartarugas de couro podem estar extintas em 20 anos


No Pacífico, as populações das gigantescas tartarugas de couro, conhecidas pela sua árdua jornada de 9,5 mil km da costa oeste dos Estados Unidos até os locais de reprodução na Indonésia, podem ser extintas dentro de 20 anos se continuarem a declinar, alertam cientistas.

“As tartarugas marinhas estão aí há cerca de 100 milhões de anos e sobreviveram à extinção dos dinossauros, mas estão lutando para sobreviver ao impacto humano”, comentou o biólogo Thane Wibbels, da Universidade do Alabama em Birmingham (UAB), membro de um grupo de pesquisadores que estuda o destino destes répteis.

As tartarugas de couro – as maiores tartarugas do mundo – podem crescer até 2 metros de comprimento e pesar até 900 kg. Um estudo publicado nesta semana no periódico Ecosphere, da Sociedade Ecológica da América, estima que agora apenas cerca de 500 tartarugas de couro desovam no último grande local de reprodução no Pacífico, antes eram milhares. O estudo rastreou o declínio das populações desde 1980.

“Se a queda continuar, as tartarugas de couro serão extintas no Oceano Pacífico dentro de 20 anos”, comentou Wibbels.

A brava jornada destes animais atravessa todo o Pacífico em uma das mais longas migrações. Especialistas dizem que a sua existência está ameaçada por perigos como mudanças climáticas, poluição por plásticos, métodos de pesca, predação e caça pelos humanos.

Nos últimos 27 anos, o número de tartarugas de couro do oeste do Pacífico caiu em 78%, passando a ser criticamente ameaçadas, disse Ricardo Tapilatu, pesquisador da UAB e da Universidade Estadual de Papua, na Indonésia. Ele estudou as tartarugas em seu último refúgio, a remota Península Cabeça de Pássaro na Nova Guiné.

Mais de 75% dos ninhos do oeste do Pacífico ocorrem na península, somando 489 tartarugas de couro na última estação reprodutiva, disseram os pesquisadores. Os animais forrageiam ao longo do Pacífico chegando até locais tão longínquos quanto a costa dos estados da Califórnia, Oregon e Washington.

O grupo científico também inclui pesquisadores da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), Serviço Nacional de Pesca Marina e WWF Indonésia.

As tartarugas podem mergulhar até 1,2 km. Para sobreviver às profundesas congeladas, as tartarugas de couro podem controlar a sua temperatura, se mantendo mais aquecidas do que o água ao seu redor. Elas se alimentam de águas vivas, comendo centenas por dia.

A carapaça das tartarugas de couro tem textura similar a um pneu, sendo muito distinta das outras que tem a carapaça rígida.

A sua expectativa de vida é desconhecida, mas acredita-se que tenha duração de 80 anos. É difícil de determinar, pois os machos nunca retornam às praias, vivendo apenas no mar.

Dos quatro principais locais de desova do Pacífico no século passado, a população malásia está extinta, e as mexicanas e da América Central decaíram 95%.

Perigo constante

A tartaruga de couro é a única tartaruga marinha que vive em oceano aberto, enfrentando inúmeras ameaçadas ao longo do caminho. “Elas migram 9,5 mil km em sete meses, e então voltam, atravessando águas territoriais de pelo menos 20 países. O perigo de serem capturadas e mortas é constante”, lamentou Tapilatu, nativo da Nova Guiné.

Por exemplo, os espinhéis e as redes de arrasto dos pescadores podem apanhar as tartarugas, afogando estes répteis que precisam emergir para respirar. Os humanos também introduzem porcos selvagens e cães nas praias que elas colocam os ovos. Os porcos são predadores especialmente vorazes dos ovos.

Próximo dos locais de desova, pescadores locais ainda capturam e matam tartarugas de couro para consumir a sua carne. Historicamente, uma tribo local caçou cerca de 100 tartarugas ao ano, assim como seus ovos.

Em algumas praias, apenas cerca de 20% dos ovos eclodem devido ao aumento da temperatura da areia, que pode piorar com as mudanças climáticas, comentou Tapilatu. A temperatura da areia determina o gênero dos recém-nascidos, quanto mais altas, favorecem as fêmeas.

Há esperança de restauração das populações de répteis ameaçados, afirmam os pesquisadores. A tartaruga de couro do Atlântico, que é geneticamente diferente das do Pacífico, reverteu a sua situação devido a acordos entre países para proibir a caça de indivíduos adultos e a coleta de ovos nas praias.

Tapilatu disse que pretende voltar à Nova guiné para ajudar a replicar a história de sucesso para as tartarugas de couro que estão lutando para sobreviver no seu lar no Pacífico.

Fonte: Reuters