O que é meu é seu, pode ser?


             

Você emprestaria o carro para o seu vizinho por uma ou duas horas? Ou trocaria aquele velho e querido aparelho de som por um celular ou uma coleção de livros? Pois saiba que, ultimamente, essa simpática prática – bastante antiga também, o escambo – tem se tornado o negócio do futuro e já é mais usual do que se imagina. Tem até nome: consumo colaborativo.

Nos Estados Unidos, terra do consumo exagerado, não se fala de outra coisa e é uma tendência que movimenta muitas pessoas e empresas. Roo Rogers, um eco-empresário novaiorquino e co-autor do livro What´s mine is yours – The rise of collaborative consumption (“O que é meu é seu – A ascensão do consumo colaborativo”, em português) diz que trata-se de um sistema de troca, compartilhamento e doação, mas em grande escala. É um contraponto, um antídoto para o que ele chama em seu livro de “hiperconsumo”, ou o consumo doentio de nossos dias.

Para impulsionar essa nova rede de negócios recursos modernos como a internet são grandes aliados. Há vários sites de comunidades de troca e compartilhamento de qualquer coisa como o Freecycle, ou o Paper Back Swap, para troca de livros, ou até mesmo de aluguel e empréstimo de automóveis a preços baratíssimos e especificamente para o horário que se quiser usá-lo, como o Zipcar. Temos um similar no Brasil, o Zazcar.

A ideia é ainda mais abrangente. Vale também para prestação de serviços. Exemplo: um jardineiro pode oferecer-se para cuidar do jardim de um médico em troca de uma consulta. Para organizar essas demandas foi criado em Nova Iorque o Time Bank, ou “banco de tempo”. Você abre uma conta e administra seus créditos e débitos de tempo disponível para pequenas tarefas.

Recentemente, a ideia do banco de tempo também chegou no Brasil com o Timerepublik. Trata-se de um portal onde pessoas cadastradas do mundo inteiro podem permutar serviços sem ter que gastar um tostão sequer. Assim, se você é um veterinário, pode oferecer algumas horas para tratar do pet de alguém da vizinhança em troca do trabalho de um contador que faça a sua declaração de imposto de renda.

O primeiro banco de tempo exclusivamente brasileiro foi criado no final de 2012 e chama-se Winwe. Um ano antes, o Descolaí já estava no ar para promover troca de bens como livros, DVDs, CDs, games e eletrodomésticos. Bom sinal de que essa é realmente uma tendência que veio para ficar.

 É um retorno às saudáveis práticas comunitárias, mas com o olhar para um futuro mais humano, menos predadorRealiza-se uma volta ao passado, onde as pessoas de uma comunidade se ajudavam mutuamente com a prática do escambo de bens e serviços. Só que com uma boa pitada de modernidade. Além de fazer uso das redes sociais, qualquer iniciativa que iniba o consumo compulsivo será muito bem-vinda neste século em que enfrentamos a escassez de recursos naturais e as mudanças climáticas. Sem contar que essa nova comunidade que partilha seu tempo, talento e especialidades agora assume dimensões globais.

Imagem – Detalhe da capa do livro What´s mine is yours – The rise of collaborative consumption.

Fonte: Planeta Sustentável