Relatório prevê investimentos bilionários no pré-sal e coloca o Brasil como uma das principais referências de produção e consumo de energia do mundo
A Agência Internacional de Energia (IEA) divulgou hoje o World Energy Outlook 2013 (WEO 13), documento que estuda as principais questões de política energética mundial. Como é de praxe, a IEA escolhe anualmente um país com importante papel na produção e consumo de energia para ser destaque no relatório; este ano, foi a vez do Brasil. O relatório estipula que a demanda energética brasileira duplique em vinte e dois anos, atingindo 940 TWh.
Segundo o WEO 13, a demanda central de energia está mudando para as economias emergentes, particularmente China, Índia, Oriente Médio e Brasil. Estima-se que os países emergentes corresponderão a mais de 90% do crescimento da demanda energética até 2035. No caso brasileiro, por exemplo, grande parte desse aumento será proveniente da expansão do setor de transportes, com crescimento previsto em 77%.
Os combustíveis fósseis continuam compondo parte dominante da demanda mundial energética, o que implica em questões que relacionam energia, ambiente e mudanças climáticas. O pré-sal brasileiro ilustra bem essas relações: a produção de petróleo, segundo o relatório, triplicará até 2035, colocando o Brasil entre os seis maiores produtores do mundo.
Entretanto, o reflexo dessa atividade pode ser mais grave do que o WEO 13 prevê. No cenário da IEA, o Brasil, mesmo com o pré-sal, continuaria a ser um dos menores emissores per capita de carbono do mundo, alcançando 3 toneladas de CO2 em 2035. Por outro lado, o relatório “Caminho Sem Volta”, lançado no começo deste ano pelo Greenpeace, estima que mais de 660 milhões de toneladas de CO2 sejam emitidas anualmente até 2035, apenas no setor de óleo.
É preciso considerar também o risco da exploração em águas profundas: o plano de contingência em caso de vazamento lançado pelo governo brasileiro ainda é um esboço e não contém as ações exatas para conter possíveis acidentes. Os detalhes só virão em 6 meses.
A análise do IEA aposta no potencial hídrico e de gás no Brasil para 2035. O primeiro, estimado em 245 GW, perde confiança e não deve ser totalmente explorado, considerando que esse potencial se encontra na Amazônia, região de unidades de conservação e terras indígenas. E o segundo, representando 40 GW, está diretamente ligado à exploração de óleo. Mas o relatório peca em não considerar os impactos sociais e ambientais das hidrelétricas na Amazônia e a restrição do uso de gás devido à logística e aos altos custos.
Para as novas fontes renováveis, como a solar, eólica e biomassa, o WEO 13 prevê uma expansão mundial de 45%, ultrapassando a produção de gás natural. A IEA estipula o potencial teórico de 350 GW em energia eólica no Brasil, mas deixa de lado a capacidade solar nacional. Em termos de biocombustível, a projeção é excessiva: fica claro que o etanol corresponde a grande parte da demanda do setor de transportes, mas as políticas atuais cerceiam investimentos na área há cinco anos. Enquanto para a indústria do gás e do óleo é previsto 75% dos investimentos planejados, segundo o Plano Decenal de Energia (2013-2022), o setor de biocombustível receberá 5%, e as fontes eólica e de biomassa, meros 3%.
De acordo com a IEA, os investimentos necessários para o Brasil figurar entre liderança energética mundial são estipulados em US$ 90 bilhões de dólares por ano, sendo dois terços desse investimento direcionados ao setor de óleo. O país dependeria, em grande parte, dos investimentos da Petrobrás. O Greenpeace, com o relatório [R]evolução Energética, prevê que o Brasil poderia economizar US$ 12 bilhões por ano até 2050 se o gasto com combustíveis fósseis para térmicas fosse direcionado para mais energias renováveis.
Fonte: http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Analise-global-de-energia-foca-no-Brasil/