Moradora do Morro do Alemão, a aposentada Eunice Danazio Valentin fundou uma associação de moradores e conseguiu levar água, luz e saneamento para a região, além de contribuir para a abertura de uma creche municipal
Felipe Fittipaldi
Durante os Carnavais das décadas de 70 e 80, a então empregada doméstica Eunice Danazio Valentin protagonizava uma cena pitoresca no Complexo do Alemão. Vestida com a fantasia da ala das baianas da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, descia o morro onde morava rumo ao Sambódromo. Naquela época, em que os traficantes ainda não haviam implantado o regime de terror que imperou até a ocupação do território pela polícia, em 2010, o desfile de Eunice era recebido com euforia pela criançada. “Olha a baiana”, gritavam. Com o tempo, o lugar onde ela vivia começou a ser chamado Morro da Baiana, denominação que se mantém até hoje.
Mas a fama de Eunice não decorre apenas de seus desfiles pelo Alemão. Desde que se mudou para lá, em 1968, ela se transformou em uma ativa líder comunitária que não se intimidava ao postar-se em gabinetes de políticos e repartições públicas. Graças a seus esforços como fundadora da associação de moradores, conseguiu levar água, luz e saneamento para a região, além de contribuir para a abertura da Creche Municipal Eliana Saturnino Braga, a primeira e única do Morro da Baiana, que hoje atende 85 crianças. “Bati em centenas de portas e gastei muita saliva. Era o jeito que eu tinha de o poder público me ouvir, e fui ouvida”, diz ela.
Aposentada e com 67 anos, Eunice mora atualmente em Olaria, bairro vizinho ao complexo. Seu trabalho pioneiro foi sucedido por uma série de outras iniciativas semelhantes, principalmente nos últimos três anos, a partir da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora na região.
Isso não significa que ela não mantenha os vínculos com o lugar. Uma simples caminhada a seu lado já revela quanto ela é popular no morro que leva seu apelido, sede de uma das oito UPPs do complexo e de uma estação do teleférico que conecta as diversas favelas. Ali, todos a conhecem e a saúdam respeitosamente quando passa: “Olha a dona Baiana”, dizem.
Fonte: Planeta Sustentável