Megaprojetos de infraestrutura e mineração poderiam "multiplicar" os efeitos das mudanças climáticas na América Central, altamente vulnerável a desastres naturais, assegurou nesta terça-feira um estudo do Programa Salvadorenho de Pesquisas sobre o Desenvolvimento e o Meio Ambiente (Prisma).
"Os impactos ligados a grandes obras de infraestrutura e a projetos de mineração, assim como à manutenção de um modelo agroindustrial predatório podem ser multiplicados pelas mudanças climáticas", advertiu a pesquisa do Prisma.
O estudo destacou que esta situação expõe as pessoas a eventuais desastres humanos e ambientais, principalmente no chamado "Corredor Seco Centro-Americano", que abarca Guatemala, El Salvador, Honduras e Nicarágua.
De acordo com o estudo, esses países têm 1,9 milhão de pequenos produtores de grãos básicos, o que ameaça seriamente a segurança alimentar de suas populações e da região.
O informe destacou a existência de planos na Nicarágua e na Guatemala para a construção de canais "que, embora cercados de fortes dúvidas sobre a factibilidade de sua implementação, desencadeiam processos de especulação de terras só com os projetos", destacou.
O governo da Nicarágua concedeu à empresa chinesa HKDN os direitos para construir, a um custo estimado em 40 bilhões de dólares, e administrar um canal interoceânico durante um século. O polêmico projeto é rejeitado por setores ambientalistas, que o consideram perigoso para o Lago Cocibolca e em outras extensas áreas com ecossistemas.
Na Guatemala, o governo declarou em 2013 "de interesse nacional" um projeto multimilionário que existe há dez anos – embora ainda não tenha sido implementado – para construir um "canal seco" que una o Pacífico ao Caribe por uma estrada de quatro faixas de 371 km, com oleoduto e ferrovias.
Além disso, o relatório deu como exemplo de "fortes implicações" nos recursos naturais a construção em El Salvador da estrada Longitudinal do Norte, com mais de 100 km, que atravessa todo o país.
O estudo destacou que, quanto à mineração, nas últimas duas décadas desenvolveu-se na América Central uma "nova capacidade de extração em larga escala nunca antes vista", o que provoca, entre outros problemas, "desmatamento, erosão, sedimentação dos solos, deterioração da qualidade e da quantidade da água".
"Os efeitos das mudanças climáticas poderão se agravar como consequência de uma série de megaprojetos implantados pelos governos no passado, mas que hoje representam desafios enormes para os líderes que estão tentando implementar um desenvolvimento sustentável na região", alertou o diretor adjunto do Prisma, Nelson Cuéllar.
A pesquisa estabelece a necessidade de se criar políticas, leis e normas que, segundo Cuéllar, assegurem "a promoção do desenvolvimento, a redução da vulnerabilidade às mudanças climáticas e que garantam melhores condições de vida para a população".
Fonte: AFP