Aquecimento global afeta os alimentos


O tom é sóbrio, e a mensagem, urgente. Em 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) afirmou que ainda era muito cedo para dizer se o aquecimento global afetaria a produção de alimentos. Em 31 de março de 2014, o IPCC declarou provas contundentes de que a produção é, sim, afetada.

De todo modo, a pressão sobre o sistema alimentício foi aumentando ao longo de todos esses anos devido a outros fatores que, combinados, prejudicam muito os limitados recursos do planeta: a pobreza, o crescimento populacional, dietas baseadas em carne e laticínios adotadas por países emergentes, práticas agrícolas não sustentáveis e a concorrência por espaços de terra e água entre produtores de alimentos e de energia. Acrescente o aquecimento global nessa equação e você tem – perdoe o trocadilho – "uma tempestade perfeita". E não é uma mera tempestade num copo d’água pelo seguinte motivo.

Inevitavelmente, algumas regiões do mundo se tornarão hotspots, incapazes de se adaptar às altas temperaturas e à seca, impedindo a produção de alimentos. Isso significa um menor rendimento de culturas, como de trigo e milho, para alimentar as pessoas e, com o tempo, todos os cultivos serão afetados. Um planeta mais quente irá provocar o aumento do preço dos alimentos por volta de 3% a 84% até 2050.

Os avanços da "Revolução Verde" na tecnologia agrícola e o crescimento populacional de 10% por década desde os anos 70 irão começar a diminuir. Isso não é bom para o atual índice de 1 bilhão de pessoas no mundo que passam fome e, pior ainda, para aquelas prestes a fazer parte dessa estatística.

Líderes empresariais precisam discutir e resolver questões críticas. Como garantir a sobrevivência e crescimento de suas empresas e, ao mesmo tempo, conservar o capital natural e melhorar as condições de vida das pessoas? Questões ambientais afetam a igualdade social e o bem-estar econômico. Questões sociais afetam a administração de terras e recursos naturais e esgotam o tecido econômico das comunidades e países.

Para um abastecimento alimentar seguro e crescente, a agricultura deve ser cultivada e fornecida de forma sustentável. Isso significa que é necessária uma verdadeira transformação nas cadeias de valor das empresas e uma abordagem radicalmente diferente da que é adotada hoje para o abastecimento de commodities agrícolas. Quando se trata de nosso sistema alimentício, as necessidades dos cidadãos e das comunidades são tão importantes quanto a dos acionistas.

Entendemos que seja complexo e desafiador o diálogo entre diversos acionistas e, consequentemente, o desenvolvimento de um entendimento comum. Inicialmente, as empresas podem sentir que estão em um "encontro de loucos" mas, dados os cenários apresentados pelo relatório do IPCC, a não adesão é algo cada vez mais impensável.

Fonte: Ideia Sustentável