Sustentabilidade – Passado, Presente e Futuro


Por Eduardo Bastos, presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS)
 
Foto: Marco Flávio
 
 
A pecuária é uma das atividades mais antigas do Brasil. Desde os primeiros portugueses chegando em suas caravelas, com gado bovino trazido da península ibérica até hoje, a atividade se expandiu de costa a dentro, ajudando na conquista deste grande e diverso País.
 
Um avanço ainda mais acentuado aconteceu pós década de 1970, quando um conjunto de situação conjuntural (“colonização” do interior, “integrar para não entregar”) aliado a um avanço em genética (zebuína, em sua maioria) e em pastagens (braquiárias) ajudou o pecuarista a ampliar a fronteira produtiva e junto com ela várias cidades foram criadas. Só como exemplo, de 1970 a 2010 o rebanho cresceu 2,6 vezes, mas na Região Norte a taxa chegou a 24 vezes! No total foram mais de 200 milhões de hectares já convertidos. Claro que boa parte desse avanço se deu em áreas nativas, ou seja, houve desmatamento para promover esse crescimento. 
Este é o contexto da pecuária nacional, uma expansão muito grande até a década de 1990, notadamente nos períodos de 1970 a 1990. Até pouco tempo atrás, falar de sustentabilidade era palavrão. Depois virou sinônimo de preservação da floresta, redução do desmatamento e a conversa em geral parava por aí, focada em meio ambiente.
 
Hoje o setor movimenta mais de U$ 180 bilhões em toda sua cadeia, gerando milhares de empregos e riqueza. Gera também divisas, já que produzimos mais de 10 milhões de toneladas, aproximadamente 8 para consumo interno e 2 para exportação, U$ 6 bilhões só em 2013.
 
                   
 
É preciso lembrar que apesar da área ocupada pela pecuária ser a maior convertida no Brasil, algo em torno de 190 dos 850 milhões de hectares existentes, ainda temos mais de 60% de área totalmente preservada, uma das maiores do mundo! E também que, desde 1950, temos investido muito em tecnologia para garantir aumento de produção baseado em produtividade e não desmate. Números da Embrapa mostram um crescimento em produtividade na ordem de 3,36% ao ano, ou seja, se usássemos hoje a mesma tecnologia de 1950, teríamos de ter convertido mais de 525 milhões de hectares! 
 
Hoje, falar em sustentabilidade significa pensar não só no pilar ambiental, importantíssimo, com suas temáticas ainda voltadas a desmatamento e de alguns anos para cá a água, carbono, biodiversidade, entre outros. Mas também temos de falar dos outros 2 pilares essenciais ao equilíbrio: social e o econômico. Se não se falar em produção de alimentos (alimentar o mundo é uma das tarefas mais nobres existentes!) e geração de empregos (quantidade e qualidade), por exemplo, não se é social. E quanto ao econômico? Como gerar riqueza para distribuir? Ou, como diz o caboclo: “Não se pensa no verde quem está no vermelho”. Sabedoria popular, muito verdadeira. É preciso buscar sim um uso mais eficiente das pastagens (qualidade, manejo) e um uso mais eficiente do gado (sanidade, genética, nutrição), só para citar algumas frentes de trabalho.
 
O desafio está posto, teremos ao menos 2 bilhões de pessoas a mais até 2050. Mais de 9,5 bilhões de bocas famintas, que demandarão 70% a mais de alimentos e quase o dobro de proteínas animais. Deste total, mais da metade terá de vir do Brasil! Ou seja, precisaremos dobrar a produção, reduzir o desmatamento, gerar mais emprego, mais riqueza, menos carbono e por aí vai. Simples assim – o desafio é grande demais para fazermos sozinhos. Hoje o conceito de sustentabilidade vai além do tripé aqui falado de econômico-social-ambiental, ele também é garantir o hoje sem comprometer o amanhã e só faremos isso juntos!
 
O GTPS se orgulha de ter começado esta discussão em 2007, com 17 membros e hoje já conta com mais de 60, de toda a cadeia produtiva, que inclui, entre outros, insumos, produtores, frigóríficos, varejo, bancos, ongs, centros de pesquisa e universidades. Mantemos diálogo constante entre os membros e com governos, em todas as suas esferas. Buscamos debater e formular, de maneira transparente, princípios, padrões e práticas comuns a serem adotados pelo setor.
 
Acreditamos que os próximos 10 anos serão pautados pelos mesmos desafios de hoje adicionados a uma brutal pressão de produzir cada vez mais com cada vez menos recursos. Acreditamos que é possível fazer mais e melhor, exemplos do passado mostram que temos capacidade para isso. Acreditamos no poder transformador da ciência e do diálogo e que juntos, conhecimento e ação, poderemos trazer mais valor a todos os membros e principalmente a sociedade. O Brasil merece. O mundo precisa.
 
Sobre o GTPS
Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) foi criado no final de 2007 e formalmente constituído em junho de 2009. É formado por representantes de diferentes segmentos que integram a cadeia de valor da pecuária bovina no Brasil, entre eles indústrias, organizações do setor, produtores e associações, varejistas, fornecedores de insumos, bancos, organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e universidades. O objetivo do GT é debater e formular, de maneira transparente, princípios, práticas e padrões comuns a serem adotados pelo setor, que contribuam para o desenvolvimento de uma pecuária sustentável, socialmente justa, ambientalmente correta e economicamente viável. Mais informações sobre o GTPS estão disponíveis no site www.pecuariasustentavel.org.br. Acompanhe também pelo twitter, em @gtps_brasil, e pelo Facebook, em www.facebook.com/gtpsbrasil.  
 
Fonte: IMAFLORA