por Jewel Fraser, da IPS
Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 11/7/2014 – As instituições mundiais ainda estão aprendendo a manejar de maneira integrada a água e a energia, como parte de sua aposta no desenvolvimento sustentável. Segundo Daryl Fields, do Banco Mundial, entender a conexão entre água e energia é fundamental para poder abordar o crescimento e o desenvolvimento humano, a urbanização e a mudança climática. Mas muitos políticos consideram que é um desafio converter este conceito em uma realidade.
Fields, que também integra o Comitê Técnico da Associação Mundial pela Água, fez essas declarações em uma reunião dos sócios consultores dessa entidade, que foi realizada pela primeira vez em Trinidad e Tobago. “Ficamos com muitas oportunidades e muitas perguntas, e uma grande quantidade de trabalho por fazer”, afirmou.
Segundo o Instituto de Estocolmo para o Meio Ambiente, “também é provável que a mudança climática agrave a pressão sobre os recursos e assim se some à vulnerabilidade das pessoas e dos ecossistemas, particularmente em regiões onde a água é escassa e marginal”. Fields disse que “rede” é um termo mais adequado do que “conexão”, pelos muitos vínculos envolvidos e pela interdependência entre energia e água.
A energia afeta a qualidade da água por meio das descargas e dos efluentes, bem como mediante seu impacto sobre a dependência do fornecimento hídrico e o custo de mantê-lo, porque exige energia para bombear água que chegue aos consumidores.
Por outro lado, disse, a qualidade da água afeta a capacidade de fornecer energia. Como exemplo, citou uma central hidrelétrica na Índia cujos equipamentos sofreram erosão pelos sedimentos da água usada em suas turbinas. Além disso, há o assunto da salinização. Daí que se produz um “círculo vicioso. Quando se reduz a necessidade de água diminui a necessidade de energia”, afirmou.
Segundo Fields, o desafio de administrar água e energia de modo integrado é mais complexo pelas diferenças extremas entre ambas. Os que trabalham nas duas indústrias frequentemente falam “idiomas” diferentes e têm perspectivas distintas. Mohammad Ait-Kadi, presidente do Comitê Técnico da Associação Mundial para a Água, destacou que as regiões que sofrem escassez hídrica agora representam cerca de 36% da população mundial e 22% do produto interno bruto mundial. A demanda de água aumentou 600 vezes no século 21, acrescentou.
“O bom manejo hídrico é importante para o crescimento (sustentável) e para criar resiliência à mudança climática”, apontou Ait-Kadi. “Não se pode escapar do fato de que a necessidade e a demanda dos recursos hídricos, finitos e vulneráveis, continuará crescendo, e também crescerá a competição pelos mesmos”, argumentou. Porém, a experiência da Associação na África mostra que os funcionários que administram a água estão encontrando soluções práticas e simples para a crise hídrica, ao mesmo tempo em que consideram as necessidades energéticas das comunidades.
Andrew Takawira, da Unidade de Coordenação do Programa de Água Clima e Desenvolvimento, da filial africana da Associação, esteve em Trinidad e Tobago para a conferência e compartilhou com a IPS o trabalho que sua entidade realiza para integrar com êxito o manejo hídrico e as necessidades de energia. Na África, o programa inclui Burkina Faso, Burundi, Camarões, Gana, Moçambique, Ruanda, Tunísia e Zimbábue. Busca fortalecer o manejo dos assuntos hídricos e a capacidade de abordar as questões relativas à mudança climática que afetam a água dentro desses países.
Takawira disse à IPS que na bacia do lago Cyhoha, compartilhada por Burundi e Ruanda, a população está cortando árvores para obter combustível, o que causa desmatamento que, por sua vez, prejudica a bacia. O programa criou uma zona de amortização em torno da bacia plantando árvores, e, com ajuda de sócios nos dois países, forneceu fontes alternativas de energia para a população da área, fogões mais eficientes e digestores de biogás.
Sua organização percebeu que o manejo hídrico exige um enfoque amplo para atender as necessidades vitais que as comunidades podem ter, pontuou Takawira. “Elas, seja como for, precisam de energia. Estamos aprendendo que se deve expandir. É por isto que resulta importante abordar de modo conjunto os assuntos hídricos, alimentares e energéticos”, acrescentou.
Para Takawira, “o que um administrador hídrico deseja é garantir que as bacias sejam manejadas de modo adequado. Mas se alguém diz para deixarem de cortar árvores, como vão cozinhar?”, perguntou.
O especialista citou um segundo exemplo para mostrar a interligação de água e energia. Em Camarões as pessoas queriam estar perto do rio para poder ter acesso fácil à água, o que causou problemas como a sedimentação e a redução da cobertura vegetal. Esses problemas podem se tornar desastrosos em tempos de inundações ou secas.
Também explicou que a atividade intensiva perto das margens faz com que o solo fique menos compacto, o que fomenta a sedimentação. Esta, por sua vez, reduz a quantidade de água armazenada nas represas dos rios, o que pode ser prejudicial em casos de seca. Afastar as populações do rio é importante também para poder enfrentar as inundações, explicou, pois a ocupação tende a reduzir a vegetação que reduz a força e absorve as águas que transbordam.
Para abordar o problema, o Programa na África incentivou os camaroneses a se instalarem mais para dentro do território, fornecendo-lhes tubulações para poderem obter água mais facilmente. Mas foi necessária energia para bombear a água pela tubulação. Para isso, a organização também forneceu equipamentos de energia solar.
Natalie Boodram, do capítulo caribenho do Programa, disse que este aprendeu muito com as experiências de seus sócios na África, pois as situações das duas regiões são muito semelhantes. Envolverde/IPS
Fonte: Envolverde