A cada segundo 15 animais silvestres morrem atropelados nas rodovias que cortam o Brasil, número que corresponde a 475 milhões de mortes por ano ou a 1,3 milhão por dia. As informações são do Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE) da Universidade Federal de Lavras (MG), que desenvolveu um método para conscientizar sociedade e Estado sobre o assunto. O centro acaba de fechar uma parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) propondo soluções ao problema.
O CBEE é responsável pelo Projeto Malha, que tem por objetivo reunir, sistematizar e disponibilizar informações sobre a mortalidade da fauna selvagem nas rodovias e ferrovias brasileiras. Com isso, os atropelamentos passam a ser registrados no Banco de Dados Brasileiro de Atropelamento de Fauna Selvagem (BAFS) e as informações coletadas pelo Sistema Urubu, um aplicativo que pode ser usado em smartphones e tablets. "Integramos esse projeto e, neste momento, trabalhamos na assinatura de um termo de reciprocidade com a Universidade Federal de Lavras (UFL) formalizando esta parceria que, até o momento, tem sido informal", destacou Ivan Salzo, coordenador substituto de Apoio à Pesquisa do ICMBio.
Os documentos devem ser assinados no próximo Seminário de Pesquisa e Encontro de Iniciazação Científica, a ser realizado na sede do ICMBio, em Brasília, entre os dias 16 e 18 de setembro. Na ocasião, o professor e coordenador do CBEE, Alex Bager, vai expor materiais para divulgar o projeto. A intenção é que as Unidades de Conservação (UCs) federais que tenham estradas ou rodovias comecem a usar a metodologia. "O projeto começou em 2013 e agora estamos em processo de evolução. Nesse um ano e meio coletamos muitas informações importantes e agora queremos começar a fazer políticas públicas, em termos nacionais, com os órgãos competentes", afirmou Bager.
Já integram o Projeto Malha a Floresta Nacional de Silvania, o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, a Reserva Biológica União, a Floresta Nacional de Piraí do Sul, a Reserva Biológica Guaribas e o Parque Nacional Serra dos Órgãos. "Eles compartilham a metodologia de coleta de dados e têm uma melhor base para comparar as informações", disse Salzo. Além dessas unidades, o Parque Nacional da Serra, o Parque Nacional do Iguaçu e a Estação Ecológica Taim também monitoram os atropelamentos, mas sob métodos diferentes. A expectativa é que até 2015 pelo menos 20, das 313 UCs federais administradas pelo ICMBio, façam parte do projeto.
Animais que mais morrem
A maior parte dos animais selvagens mortos por atropelamentos são pequenos vertebrados, como sapos, aves e cobras. Todos os anos, cerca de 430 milhões dessas pequenas espécies morrem atropeladas no Brasil. Outros 43 milhões são representados pelo animais de médio porte, como gambás, lebres e macacos. A menor parte, correspondente a dois milhões de mortes, está relacionada aos animais de grande porte, como onças, lobos e capivaras.
Monitoramento da fauna atropelada na BR-471
A Estação Ecológica Taim (RS) lançou em 2011 o projeto "Atropelamentos da Fauna Silvestre: impacto da BR-471" para minimizar os danos à biodiversidade que a rodovia provoca na Unidade de Conservação (UC). Durante um ano, a administração da unidade fez levantamentos quinzenais de espécies e animais mortos na estrada, assim como monitoramento do tamanho e locais dos atropelamentos. A partir de agora, também será feita a contagem de veículos que passam pela BR e o controle dos 19 túneis construídos sob a rodovia para que os animais atravessem de um lado para o outro sem a necessidade de cruzar a pista.
Uma alternativa
Como uma medida alternativa para reduzir o número de morte por atropelamento dos animais silvestres, o Parque Nacional do Iguaçu (PR) conta com aparelhos de "GPS rastreador" do tamanho de uma caixa de fósforo. O equipamento é instalado em todos os carros que entram na UC e envia informações importantes, como a velocidade do veículo, para uma central monitorada pelos servidores do Parque. "O aparelho estimula a conscientização do visitante. Desde que foi implantado, no início do mês de julho, não houve mais atropelamento no parque", contou o chefe substituto da UC, Apolônio Rodrigues.
Fonte: Instituto Carbono Brasil