Geração de briquetes e péletes a partir da biomassa residual é alternativa sustentável à dependência do país de fontes não renováveis de energia.
ETHOS RESÍDUOS SÓLIDOS – O Brasil possui condições vantajosas para produzir energia, mas a recomendação é de que não sejamos dependentes de fontes não renováveis, como o petróleo, o gás natural, o urânio ou o carvão mineral. Necessitamos buscar fontes renováveis de energia. No país, a biomassa é a principal fonte de energia renovável. Ela gera calor, energia elétrica e pode ser transformada em biocombustível sólido, como briquetes, por exemplo, resultantes da compactação de resíduos vegetais. Como somos um dos maiores produtores agrícolas e florestais do mundo, a quantidade gerada de biomassa residual pode e deve ser mais bem aproveitada, especialmente na forma de briquetes e péletes.
Os briquetes podem ser produzidos a partir de qualquer resíduo vegetal, explicou o pesquisador José Dílcio Rocha, da Embrapa Agroenergia, ao participar da Dinâmica Agropecuária (Dinapec) 2015, mostra que a Embrapa promoveu entre 11 e 13 de março de 2015, em Campo Grande (MS). Em sua apresentação, feita para um público formado por professores, universitários, estudantes, produtores e empresários, Rocha explicou em detalhes como os briquetes são feitos, suas vantagens, utilização e investimento para produção.
Dentre os materiais utilizados para produzir os briquetes, o pesquisador citou a serragem e restos de serraria, cascas de arroz, sabugo e palha de milho, palha e bagaço de cana-de-açúcar, cascas de algodão, cascas de café, soqueira de algodão, feno ou excesso de biomassa de gramíneas forrageiras, cascas de frutas, cascas e caroços de palmáceas, folhas e troncos das podas de árvores nas cidades.
Os briquetes têm diâmetro superior a 50 milímetros e substituem a lenha em muitas aplicações, inclusive em residências (lareiras e churrasqueiras), hotéis (geração de vapor), indústrias (uso em caldeiras) e estabelecimentos comerciais como olarias, cerâmicas, padarias, pizzarias, fábricas de lacticínios e de alimentos, indústrias químicas, têxteis e de cimento. Do ponto de vista econômico, o pesquisador alertou para a realização de um plano de negócio; já do ponto de vista ambiental, ele afirmou que a tendência é tornar-se um bom ou excelente investimento.
No Brasil, são produzidas cerca de 1,2 milhão de toneladas de briquetes por ano. Destas, 930 mil são de madeira e 272 mil de resíduos agrícolas. A taxa de crescimento da demanda de briquete é de 4,4% ao ano, o que demonstra a importância potencial no mercado de energia renovável, atestou o pesquisador. Rocha afirmou também que nosso país possui condições vantajosas para produzir com sucesso não só briquetes como também péletes, outro substituto da lenha em muitas aplicações. “A prática é excelente opção para que vários setores produtivos agreguem valor aos resíduos que hoje são subaproveitados.”
Fábrica de briquetes
A oficina sobre briquetes incluiu visita à Eco Esfera Indústria e Comércio de Artefatos de Madeiras, empresa de Campo Grande que os produz. No local os visitantes tiveram a oportunidade de acompanhar a linha de produção, ver o funcionamento das máquinas e as etapas da fabricação, além de tirar dúvidas com o proprietário Glauco Silva, um adepto da preservação do ambiente.
“O briquete tem alto poder calorífico e produz pouca fumaça”, diz Glauco. “É um produto 100% reciclado e feito de madeira com baixo teor de umidade. Produzimos o briquete industrial, em forma de bolachas, e o briquete em forma de tarugos de 5 a 10 centímetros de diâmetro e 40 centímetros de comprimento, para uso doméstico e para utilização em fornos de padarias e pizzarias. É um combustível ecologicamente correto, substituindo a lenha.” Segundo Glauco, uma tonelada de briquete corresponde a três árvores altas preservadas, ou 7 metros cúbicos de madeira, e o poder de calor do briquete é de 5.000 kcal/kg, enquanto o da lenha é de 750 kcal/kg.
Participantes da oficina de briquetes na Dinapec ficaram satisfeitos com as apresentações e a programação do evento. “Divulgar essa tecnologia de aproveitamento de resíduos é importante”, disse Brenda Farias, estudante de zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, que, como outras 12 universitárias, ficou surpresa com a visita à fábrica da Eco Esfera. “Foi muito bom assistir a palestra e ver de perto o processo de fabricação dos briquetes”, disse Brenda, que não sabia da existência de uma fábrica de lenha ecológica em Campo Grande.
Fábio Alexandre, gerente da Agropecuária Agro HB, também saiu da Dinapec com boa impressão: “Eu me inscrevi nessa oficina porque tenho interesse em fazer esse tipo de aproveitamento na fazenda em que atuo”. Já Antônio Carlos de Souza, engenheiro mecânico e professor da Universidade Federal da Grande Dourados, lamentou não ter divulgado mais o evento entre os colegas. Ele aproveitou para levar uma publicação técnica da Embrapa sobre produção de briquetes e uma amostra do produto para apresentar aos seus alunos do Curso de Engenharia de Energia.
O pesquisador da Embrapa Agroenergia José Dilcio, que ministrou a oficina de briquetes pela primeira vez na Dinapec, gostou da receptividade do público. Para ele, a Dinapec é aconchegante, uma feira tecnológica interessante, e a Embrapa tem tudo para dar um salto ainda maior nesse tipo de ação.
Fonte: Instituto Ethos