Por Raimundo Gomes da Cruz Neto*
Foi dia oito deste mês de fevereiro, em um domingo de dia nublado e chuvoso, estradas molhadas apresentando dificuldades para o tráfego de veículos, que mesmo assim mais de quarenta pessoas membros de famílias de assentados do Projeto de Assentamento 1º de Março e de ribeirinhos que habitam a margem do rio Tocantins, área contígua a área do assentamento, resolveram reunir para conversar sobre a hidrelétrica Marabá.
Uma das questões que as famílias reclamam é da falta de informações precisas sobre o que significará para elas o processo de construção da hidrelétrica, o que parte passou a ser superado com a presença na reunião de representantes de entidade e movimentos, como do CEPASP, MAB e Movimento Debate e Ação, que procuram esclarecer a várias indagações.
Como a reunião teve inicio com a apresentação dos presentes e de relato sobre seus conhecimentos sobre a construção da hidrelétrica, muitos declararam saber muito pouco ou nada, mas que já haviam construído um sentimento de que não faz sentido um projeto que venha desalojar tanta gente e que por isto são contra.
“Eu sou da roça não intendo nada desse projeto, vejo falar pelos pedaço, tenho mais de sessenta anos, vim bolando pelas terra laleia porque só sei trabaiá de roça, tem mais de dez anos que Deus ajudou prá eu consegui isso aqui e vive sussegado, purisso num quero nem vê falar qui eu vô tê qui saí daqui”.
Depoimento de um senhor presente na reunião que foi repetido da mesma forma e de formas diferentes, mas com o mesmo conteúdo e sentimento, por todos e todas que se manifestaram. O que expressa as dificuldades que as pessoas enfrentaram para conseguir um lugar que até então imaginavam o local para viver até o final da vida.
Depois dos esclarecimentos prestados sobre o imenso lago que vai ser formado, a quantidade de área prevista a ser inundada, a quantidade de famílias a serem atingidas, e sobre o que aconteceu com as famílias da área da hidrelétrica de Tucuruí, Santo Antonio, Girau, Estreito e Belo Monta, a indignação provocou outros sentimentos.
Muitos falaram da necessidade de procurarem mais informações para estarem bem informados, de se organizarem em torno de um movimento que possa sair visitando todas as áreas a serem atingidas, com o objetivo de estarem pregando a verdade e não ficar ouvindo só o que o governo e as empresas dizem.
Como nós entendemos que para enfrentar a força do governo e a ganancia do capital, que destrói a tudo e a todos que se acomodam, vamos cumprir nosso papel: atender ao clamor do povo, ajudar nas informações, nas mobilizações e organizar lutas em defesa dos direitos das populações e na destruição do poder que a mais de quinhentos anos acaba com este país.
* Raimundo Gomes da Cruz Neto – Presidente do Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (Cepasp) – Email: rgc.neto@yahoo.com.br
Fonte: Portal do meio ambiente