Abelhas e conservação das florestas


A importância das abelhas na conservação das florestas 

A revista científica Science publicou um estudo que explica a responsabilidade da mudança climática no declínio das populações de abelhas

As razões para o desaparecimento das abelhas em grande número, nos últimos anos, continuam mal compreendidas. A pesquisa, liderada pela Universidade de Ottawa (Canadá), analisou quase meio milhão de registros de 67 espécies de abelhas do gênero Bombus, nos últimos 110 anos na América do Norte e na Europa. Essas abelhas estão entre as principais espécies criadas para comercialização de mel e outros produtos no mundo.

O relatório levantou uma nova preocupação. A distribuição natural das abelhas estudadas diminuiu. Elas perderam terreno nas áreas mais quentes, ao sul e não estão colonizando novas áreas ao norte, ou seja,  elas estão sendo comprimidas em um espaço cada vez menor e já perderam uma faixa de 300 quilômetros de habitat nos dois continentes.

Para solucionar o problema, os autores do estudo sugerem mover populações de abelhas para novas áreas onde elas poderiam sobreviver. De acordo com eles, essa "migração assistida" tem gerado controvérsia, todavia, devido ao avanço do aquecimento global, a medida vem ganhando espaço.

Segundo Vera Lúcia Imperatriz Fonseca, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Tecnológico Vale – Desenvolvimento Sustentável (ITVDS) e membro acadêmico da associação A.B.E.L.H.A, o assunto é sério e demanda atenção. As mudanças climáticas afetarão especialmente a distribuição dos polinizadores. "Devemos promover ações conjuntas com os governos para reduzir a taxa de mudança climática e para que haja definição de um acordo de sustentabilidade pós-2015".

Vera também chama a atenção para a importância das coleções biológicas encontradas nos museus, que são a fonte destes modelos de pesquisa. "Precisamos estimular a formação de taxonomistas e a melhoria das condições das fontes de pesquisa no Brasil, assim como o livre acesso aos acervos qualificados. Este importante estudo da Science foi fundamentado no acervo público de muitos museus e centros de pesquisa", finaliza.

A importância da polinização
As florestas são o ecossistema mais rico em espécies animais e vegetais. Cerca de um terço da biodiversidade mundial está localizada no Brasil, em ecossistemas únicos como a Floresta Amazônica – maior reserva genética e a maior floresta tropical do mundo, além da Mata Atlântica, os cerrados, áreas úmidas, ambientes marinhos, entre outros.

Segundo Denise Alves, pós-doutoranda da ESALQ-USP e membro acadêmico da associação A.B.E.L.H.A, as abelhas são muito importantes no programa de manejo de florestas, pois sem a polinização a manutenção e conservação de comunidades vegetais são impactadas negativamente.

Um bom exemplo deste cenário é a castanheira, árvore alta e bela, nativa da Amazônia, que é vinculada à polinização cruzada (grãos de pólen de uma flor são transportados para estruturas reprodutivas femininas de outra flor da mesma espécie). Ela depende completamente dos serviços de polinização para a formação da castanha-do-pará (castanha-do-brasil), realizada por abelhas.

Além disso, a conservação de árvores como locais para alojamento de ninhos é crucial para a sobrevivência das abelhas em ambientes naturais. Apesar de possuir grande importância ecológica, muitas espécies são dizimadas pelo desmatamento que resulta na eliminação do recurso floral responsável pela alimentação dos polinizadores e outros animais e a destruição dos ninhos abrigados nas árvores derrubadas.

"Ações combinadas de reflorestamento, proteção das margens e encostas dos rios, programas de educação ambiental, além do manejo racional de abelhas nativas – principais polinizadores da floresta, são fundamentais para reverter o cenário no Brasil", reforça Denise.

"Os serviços ecossistêmicos prestados pelas abelhas sem ferrão em florestas tropicais são imensuráveis, já que elas são os principais agentes polinizadores e são ecologicamente dominantes aos visitantes florais nativos. Com o aumento das populações de espécies ameaçadas, a meliponicultura (como é denominada a criação dessas abelhas) representa a preservação da biodiversidade, fonte de renda para as comunidades locais e, parceria com a agricultura, através da polinização de cultivos", finaliza.

Fonte: Assessoria de Imprensa A.B.E.L.H.A.