Gestão dos territórios de conservação – Corredores Ecológicos II, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Esta funcionalidade na gestão dos territórios para conservação considera, de forma muito apropriada, as peculiaridades e especificidades de um país com tamanho continental. É muito mais viável operacionalizar mecanismos de preservação e conservação unindo várias áreas fragmentadas, ainda que de grande tamanho, em espaços continentais, e considerando realidades já implantadas e percebidas, que realmente ocorrem entre os indivíduos animais e vegetais de determinado bioma considerado.
Esta concepção inovadora vai se materializando e será viabilizada, na medida que, contar com adequadas disposições de manejo operacional, devidamente mediadas e implantadas por ações de gestão e governança. É preciso construir molduras diferenciadas e adaptadas para viabilizar ações de conservação integrais e adaptadas aos cenários paisagísticos, sociais e econômicos, e diante da inviabilidade de criar áreas de proteção com enormidade e extensão por variadas motivações.
Já existem e foram identificados sete grandes corredores, representando cerca de 25% das florestas tropicais úmidas do Brasil, dos quais, cinco continuidades geográficas estão localizadas na Amazônia, a saber Corredor Central da Amazônia, Corredor Norte da Amazônia, Corredor Oeste da Amazônia, Corredor Sul da Amazônia e Corredor dos Ecótonos Sul amazônicos Outras duas estruturas de relevância geográfica estão na Mata Atlântica e são os denominados Corredor Central da Mata Atlântica e Corredor Sul da Mata Atlântica ou Corredor da Serra do Mar. Mas a modelagem de corredores deverá evoluir para caracterização de hábitos e rotinas locais em áreas de menores extensões.
Critérios simples como integridade de paisagens naturais, abundância e diversidade de espécies, hostilidade a presença de espécies conspícuas da região, presença de espécies consideradas endêmicas e potencialidades de conectividades que sejam indevidas, entre indivíduos de biomas diferenciados são consideradas e apropriadas na determinação de corredores funcionais e adequados.
Os corredores podem associar proteção às áreas indígenas, e serem compostos por áreas de amortecimento de unidades de conservação diversas e áreas de interstícios, que pertençam a domínios públicos ou mesmo privados, quando então podem ter funcionalidades alteradas por mediação e entendimento comum.
Corredores Ecológicos são áreas que possuem ecossistemas florestais ou de qualquer natureza, que sejam considerados biologicamente prioritários e viáveis para a conservação da biodiversidade. Em geral, são compostos ou constituídos por conjuntos de unidades de conservação, terras indígenas e áreas de interstício. Sua função é a efetiva proteção da natureza, reduzindo ou prevenindo a fragmentação de florestas existentes, por meio da conexão entre diferentes modalidades de áreas protegidas e outros espaços com diferentes usos do solo, mas que apresentem intersecção de funcionalidades operativas dentro da hierarquia organizacional dos ecossistemas ou biomas que estejam sendo objeto de preservação.
Somente a implementação de reservas e parques como unidades de conservação não tem garantido a sustentabilidade dos sistemas naturais, tanto pela descontinuidade física existente, como pela ausência de uniformidade na manutenção de sua infraestrutura e de seu pessoal, seja por sua concepção insular em grandes áreas operativas, ou ainda pelo pequeno envolvimento dos atores residentes no seu interior ou no seu entorno, que decorre de deficiências de sensibilização associada com gestão e governança.
A participação das populações locais, seu comprometimento e sua conectividade, são elementos importantes para a materialização e manutenção dos corredores que forem implantados em toda e qualquer situação. Corredores podem atuar, reduzindo a fragmentação e mantendo ou restaurando a conectividade da paisagem e facilitando o fluxo genético entre as populações dos ecossistemas beneficiados.
Estas estruturas vinculadas a composições de preservação possibilitam planejar paisagens e integrar mosaicos de unidades de conservação, buscando estabelecer vínculos seguros, apropriados e permanentes. Indiretamente, os corredores podem promover a alteração dos comportamentos e atitudes das partes interessadas e envolvidas na situação, e também de maneira enviesada de determinar a criação de oportunidades diversas, inclusive de operações comerciais, que incentivem a conservação ambiental, ao incluir “trend” de meio ambiente que sustentem projetos implantados também em boas práticas de conservação.
A concepção de corredores ecológicos ou corredores de biodiversidade é relativamente nova. Foi inicialmente desenvolvida nos Montes Apalaches, situados na porção leste dos Estados Unidos, e não havia outros exemplos de sua utilização. Hoje, a estratégia de corredores vem sendo desenvolvida em vários países, particularmente nos países em desenvolvimento.
Os desenhos que podem tomar os corredores ecológicos podem mais facilmente integrar áreas de reservas indígenas e as chamadas áreas de interstícios, que estão situadas em regiões de áreas indígenas e unidades de conservação, mas são terrenos públicos ou particulares.
O incremento e a expansão dos corredores ecológicos, demanda envolvimento e cooperação entre instituições e partes interessadas integrantes de diversos setores.
O conceito de corredor ecológico materializa uma abordagem alternativa e complementar para as formas ditas convencionais de conservação da diversidade biológica. Ao integrar mais áreas e atores, numa funcionalidade de grande relevância, desenvolve dimensão mais abrangente, descentralizada e participativa.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
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in EcoDebate, 14/10/2015