Sistema não consegue se recuperar, segundo físico da Unesp.
Renovação da outorga do Cantareira foi adiado para 2017.
Um estudo feito por pesquisadores da USP e da Unesp e publicado em uma revista científica internacional afirma que a Sabesp retirou tanta água do Sistema Cantareira que ele não está mais conseguindo se recuperar. O estudo aponta que esvaziar demais os reservatórios muda a eficácia do sistema, segundo reportagem do SPTV.
A exploração caiu em 2015, mas segundo o professor Roberto Kraenkel, físico da Unesp e um dos autores do projeto, isso não é suficiente. O normal é que 35% da água da chuva se transforme em água armazenada. Atualmente, apenas 15% da chuva está ajudando a encher o reservatório.
“Mesmo com isso a gente continua ineficiente na conversão de água da chuva em água no reservatório e a gente não tem conseguido recuperar sequer o volume morto. Então mesmo tirando basicamente menos da metade do que se tirava antes, nós continuamos ainda numa situação critica. A gente não está conseguindo sair da situação critica, isso que é o mais preocupante”, afirma Kraenkel.
O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, questiona o estudo. “O reservatório ocupa uma área muito pequena da bacia hidrográfica, correspondende a 4%, e que o efeito de esvaziar o reservatório ocorre apenas, a consequencia ocorre apenas na vizinhança do reservatório, que não tem um efeito na bacia hidrográfica como um todo”, diz Kelman.
Para o presidente da Sabesp, o que está acontecendo com o Cantareira é resultado de poucas chuvas, e que parar de explorar tanto o reservatório só foi possível depois que obras emergenciais foram feitas no ano passado. “À medida que elas foram ficando prontas, foi possível diminuir a retirada de água do sistema Cantareira. Antes disso, não era possível porque se não as pessoas ficariam efetivamente sem água.”
Para os especialistas, a Sabesp terá de continuar tirando menos água do Cantareira por muito tempo. “No futuro imediato, o que as pessoas podem fazer é continuar dentro das suas medidas de redução de água como já estão, ta certo, e que a Sabesp mantenha retiradas baixas de água pra tentar recuperar o sistema”, diz o físico Kraenkel.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou na manhã desta quarta-feira (21) que é “positivo” o adiamento da renovação da outorga do Sistema Cantareira para maio de 2017. O documento vai nortear a renovação da licença de exploração do manancial, o mais afetado pela crise hídrica. A decisão de adiar a conclusão da outorga foi anunciada nesta terça-feira (20) pela Agência Nacional de Águas (ANA). A outorga é a licença para uso do manancial, com duração de 10 anos. Os técnicos alegaram que a decisão foi adiada por causa da complexidade do tema e a qualidade das propostas apresentadas.
“Eu acho positivo, pois na realidade é uma boa compatibilização. O sistema Cantareira hoje abastece tanto a região metropolitana de São Paulo quanto a região metropolitana de Campinas. Então é importante essa compatibilização, todos dependem e precisam dessa água" afirmou o governador. "Eu destacaria a ligação do Jaguari com o Atibainha, isso vai reforçar muito o Sistema Cantareira, a ordem de serviço já foi dada, isso vai ser um aporte de água nova da bacia do Paraíba do Sul para o Cantareira muito importante, beneficia ambas regiões metropolitanas, é uma ação estratégica”.
Alckmin prevê que em 2007, quando for assinado a quantidade de água que pode ser retirada do sistema pela Sabesp, o número seja maior do que seria hoje em pleno período de crise hídrica. Ele destacou as obras que ajudarão a reforçar o manancial.
O objetivo do adiamento, segundo a ANA, é para que seja feita uma discussão com a "máxima qualidade técnica e convergência".
É a terceira fez que é adiada a renovação da outorga do Cantareira. A outorga venceria em agosto de 2014, mas um mês antes do prazo a outorga foi prorrogada até outubro deste ano por causa da crise hídrica.
O governador mencionou a construção de dois reservatórios na região de Campinas para abastecimento da região.
“Qual o problema da região de Campinas? Tem pouca reservação, lá não é Sabesp, a maioria dos municípios são municípios autônomos e eles pegam a fio d’água, pegam água do rio, o rio abaixa e não tem água. Então nós vamos construir dois grandes reservatórios na região nos municípios de Amparo e em Jaguariúna que vai trazer muito mais segurança para a região metropolitana de Campinas”, destacou. A ANA diz que o adiamento não gera prejuízo à operação do sistema que, desde março de 2014, vem sendo feita pela agência e e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) por meio de comunicados conjuntos, mecanismo que continuará sendo adotado até a aprovação da nova outorga. Segundo a ANA, a decisão foi tomada por consenso entre todos os presentes à reunião desta terça.
Participaram do encontro o presidente da ANA, Vicente Andreu, o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo, Benedito Braga, o diretor do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Marley de Mendonça, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, representantes do Consórcio PCJ, Agência do Comitê de Bacia do PCJ, Comitê da Bacia do Alto Tietê, do Ministério Público Federal, do Ministério Público de São Paulo, Sanasa, Unicamp e especialistas da ANA
Licença
O Sistema Cantareira é formado por seis represas: duas delas são de gestão federal (Jaguari e Cachoeira) e o restante de gestão estadual (Jacareí, Atibainha, Paiva Castro e Águas Claras). A primeira autorização de uso do manancial para abastecimento por 30 anos foi dada à Sabesp pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em 1974.
A primeira renovação da outorga ocorreu em 2004, já com a intermediação da ANA, criada em 2000. O prazo de outorga foi reduzido para 10 anos. Entre as regras, ficou definido que a Sabesp poderia captar 31 m³/s em média para abastecer a Região Metropolitana de SP e mais 5 m³/s para a bacia PCJ. Um metro cúbico (m³) corresponde a 1 mil litros de água.
A vigência da licença venceria em agosto de 2014, mas um mês antes do prazo a outorga foi prorrogada até outubro de 2015 por causa da crise hídrica. Ficou definido ainda que limites de vazões e condições de operação do Cantareira passariam a obedecer regras da ANA e DAEE.
Laísa Mangelli