Extinção de grandes animais tem efeito negativo sobre a floresta e o clima
Muitos animais são os únicos responsáveis por espalhar sementes de árvores endêmicas.
4 de janeiro de 2016 • Atualizado às 09 : 00
Os muriquis, a anta, os tucanos, entre outros animais de grande porte, são os únicos capazes de dispersar eficazmente as plantas que têm sementes grandes. | Foto: iStock by Getty Images
Um estudo recente publicado na revista Science Advances desenvolvido por pesquisadores da Unesp de Rio Claro, em colaboração com cientistas da USP, Universidade Federal de Lavras e Viçosa, Espanha, Inglaterra e Finlândia, mostrou que a perda dos grandes animais dispersores de sementes afeta negativamente a habilidade das florestas tropicais para armazenar carbono e, portanto, o seu potencial para combater as alterações climáticas.
“Os grandes dispersores de sementes, como os muriquis, a anta, os tucanos, entre outros animais de grande porte, são os únicos capazes de dispersar eficazmente as plantas que têm sementes grandes. Normalmente, as árvores que têm grandes sementes são grandes árvores com madeira densa que armazenam mais carbono”, explica Mauro Galetti Professor do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista. “As canelas, jatobás e maçarandubas são dispersadas apenas por grandes animais, todos sabemos que essas árvores também são as com madeira mais nobre (de lei) e que estoca mais carbono”, complementa Galetti.
“Quando perdemos os grandes frugívoros enfrentamos a perda das funções de dispersão e recrutamento das árvores com sementes grandes, e, portanto, a composição das florestas vai mudando. Quando as árvores com madeira nobre morrem e não tem mais o dispersor de semente, ela é reposta por uma árvore de madeira ‘mole’. O resultado é uma nova floresta dominada por árvores menores com madeiras mais leves que armazenam menos carbono”, acrescenta Carolina Bello, estudante de doutorado da Unesp.
Pedro Jordano, pesquisador da Estação Biológica de Doñana da Espanha (CSIC) explica que este é o resultado da perda de interações cruciais que mantém a teia da vida nas florestas tropicais. “Não é apenas a perda de animais carismáticos, nós enfrentamos a perda de interações ecológicas que mantêm o bom funcionamento dos principais serviços ecossistêmicos, tais como o armazenamento de carbono.”
Carlos Peres, Professor da Ecologia da Conservação Tropical da Universidade de East Anglia (Reino Unido), disse que “até agora, a degradação das florestas tropicais tem sido entendida pelos programas REED + em termos relacionados com a estrutura das florestas e as perturbações humanas, como a exploração madeireira e a presença de incêndios. No entanto, florestas aparentemente intactas, mas defaunadas devem ser consideradas como florestas degradadas porque a erosão de carbono, descrito neste artigo, já está em marcha”.
O recente estudo avisa aos programas internacionais de redução de emissões de carbono que procuram combater as alterações climáticas através do armazenamento de carbono em florestas tropicais, da importância de considerar os animais e sua função como uma parte fundamental. “A eficiência deste tipo de programas vai melhorar se os processos ecológicos que mantêm a serviço do ecossistema de armazenamento de carbono ao longo do tempo são garantidos”, diz Carolina Bello.
Fonte: Ciclo Vivo