Em mensagem para o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, alertou que 120 mil quilômetros quadrados de terra se tornam inférteis todos os anos, por causa da desertificação. A área afetada por esse “desastre contínuo e silencioso”, segundo a dirigente, equivale a metade do território do Reino Unido. ONU faz apelo por mudanças na gestão dos solos e recursos naturais.
“O fenômeno da degradação da terra ocorre nas áreas secas do planeta, que cobrem 40% da superfície do planeta e é onde habitam 2 bilhões de pessoas”, disse a chefe da agência da ONU. A iniciativa Economia da Degradação da Terra estima que são perdidas por ano 75 bilhões de toneladas de solo de terras aráveis. Sua preservação em nível global poderia liberar ganhos econômicos anuais de 400 bilhões de dólares.
Audrey ressaltou que a desertificação tem consequências drásticas para a natureza e para as pessoas que dependem dela: a destruição de ecossistemas inteiros, a aceleração da mudança climática, barreiras ao desenvolvimento e o aumento da pobreza.
“De acordo com o Secretariado da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCDD), é provável que, até 2030, 135 milhões de pessoas migrem em todo o mundo, devido à deterioração da terra onde vivem”, acrescentou a autoridade máxima da UNESCO.
Dados da UNCDD revelam também que um terço de todas as terras do planeta já estão severamente degradadas. Ao longo dos últimos 30 anos, dobrou o consumo das reservas e recursos naturais do mundo. Atualmente, mais de 1,3 bilhão de pessoas já vivem em comunidades agrícolas onde o solo está degradado.
“Por meio do Programa O Homem e a Biosfera, do Programa Internacional de Geociências e Geoparques e do Programa Hidrológico Internacional, a UNESCO está trabalhando para promover a agricultura e os sistemas alimentares integrados, assim como os padrões sustentáveis de uso da terra, em mais de 800 locais em todo o mundo”, completou Audrey.
Escolhas individuais, consequências globais
Também por ocasião do dia internacional, a secretária-executiva da UNCDD, Monique Barbut, pediu compromissos de cidadãos e empresas para proteger os solos e preservar seu potencial produtivo. Segundo a especialista, o crescimento populacional e mudanças nos padrões de consumo têm aumentado a pressão do homem sobre os recursos “finitos” dos ecossistemas.
“Felizmente, com mudanças no comportamento corporativo e do consumidor e com a adoção de planejamento mais eficiente e práticas sustentáveis, pode haver o suficiente para todos. Terra suficiente para fornecer comida e água para todos”, afirmou Barbut.
“Então, eu gostaria de pedir a vocês: quando escolherem o que comer, o que vestir ou o que dirigir, pensem em como sua escolha tem impacto sobre a terra, para melhor ou pior. Somos todos tomadores de decisão. Nas nossas vidas diárias, nossas escolhas têm consequências. E nossas pequenas decisões podem transformar o mundo.”
De acordo com a iniciativa Economia da Degradação da Terra, a conservação dos solos também é um bom investimento. O combate à erosão que afeta 105 milhões de hectares poderia poupar 62,4 bilhões de dólares em recursos líquidos ao longo dos próximos 15 anos. Outra medida é melhorar os estoques de carbono por meio de solos agrícolas, o que poderia gerar um valor potencial no mercado de carbono de 96 a 480 bilhões de dólares por ano.
Uma das metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS) nº 15, sobre a proteção da vida terrestre, é alcançar zero degradação dos solos até 2030.
ONU Brasil