Silvonei José – Cidade do Vaticano
Com uma resolução histórica, nos dias passados as Nações Unidas reconheceram, pela primeira vez, a ligação entre conflitos, guerras e a insegurança alimentar. O Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução, (nº 2018-492), com a qual abordou a questão da fome no mundo causada por guerras. O documento sublinha “a forte preocupação de que os conflitos armados em andamento e as violências têm consequências humanitárias devastadoras” e são, portanto, a “principal causa do atual risco de carestias”.
Isto é, em todos os aspectos, sem dúvida uma resolução histórica, como disse ao Vaticano News Emanuela Cutelli, chefe de comunicação para a Itália do Programa Mundial de Alimentos. “É um reconhecimento do fato de que a fome no mundo não será eliminada sem pôr fim aos conflitos armados, guerras e violência, sem, portanto, criar condições de paz”. Então, qualquer intervenção para melhorar a segurança alimentar no mundo é uma intervenção a favor da paz e da estabilidade.
Ligação entre a fome e guerras
Muitas as lideranças mundiais envolvidas em programas de alimentação deram seu aplauso ao Conselho de Segurança destacando que a tomada de posição é um enorme passo avante que servirá a quebrar o ciclo entre conflitos e fome. Além disso, a Resolução é fundamental, como declarado em um comunicado de imprensa do PMA, porque aborda o papel da insegurança alimentar seja como resultado que como fator desencadeante dos conflitos no mundo” e, portanto, esta ligação entre a fome e guerras se interpõe à prosperidade e à paz de centenas de milhões de pessoas.
Em todo o mundo as pessoas que padecem a fome cronicamente são cerca de 815 milhões, das quais 60%, e pelo menos 489 milhões passam fome em zonas de conflito, isto é, uma ferida causada exclusivamente pelo homem e totalmente evitável. Além disso, de acordo com o último Relatório Global sobre Crises Alimentares, publicado em março pela Food Security Information Network, o número de pessoas vivendo em insegurança alimentar aguda aumentou 55% nos últimos dois anos, passando de 80 para 124 milhões.
Os mais vulneráveis sùao as crianças
Como sempre acontece em todas as guerras, a pagar o preço mais alto sãos os mais vulneráveis, primeiro de tudo as crianças. Os dados são eloquentes: “de 155 milhões de crianças no mundo que sofrem atrasos no crescimento, 122 milhões vivem em zonas de conflito e isso põe em risco o futuro de gerações inteiras. Além disso, das treze maiores crises alimentares do mundo “dez são causadas por guerras, como no Iêmen, na Síria, na República Democrática do Congo, no Sudão do Sul”.
A decisão do Conselho de Segurança apela aos líderes de todo o mundo e, em particular, a todas as partes envolvidas em conflitos armados para que respeitem as obrigações estipuladas no Direito Humanitário Internacional. Pede-se principalmente que, durante os bombardeamentos e ações militares, sejam poupados locais de produção e distribuição de alimentos, como fazendas, mercados, usinas e sistemas de irrigação.
A resolução – promovida em particular pela Costa do Marfim, Kuwait, Holanda e Suécia e votada por unanimidade pelos membros – também pede ao Secretário-Geral que continue a fornecer informações sobre o risco de fome e insegurança alimentar. Naturalmente é uma resolução que terá um impacto a longo prazo, mas representa um momento fundamental para melhorar as intervenções e aumentar a conscientização da comunidade internacional.
Francisco: um escândalo
O Papa Francisco não se cansa de chamar a atenção para a fome no mundo. Um grande desafio para o presente e para o futuro. Um escândalo, uma injustiça, mais ainda: um pecado. Assim, o Papa Francisco define a fome no mundo, um pecado. “A fome hoje assumiu as dimensões de um verdadeiro” escândalo “que ameaça a vida e a dignidade de muitas pessoas – homens, mulheres, crianças e idosos -. Todos os dias devemos nos confrontar com essa injustiça em um mundo rico em recursos alimentares, graças também aos enormes avanços tecnológicos, são demasiados ainda aqueles que não têm o necessário para sobreviver; e isso ocorre não apenas nos países pobres, mas cada vez mais também nas sociedades ricas e desenvolvidas “.
O Papa recomenda que não devemos esquecer, encontrando as pessoas às quais damos de comer, “que elas são pessoas e não números, cada uma com sua carga de dor que às vezes parece impossível de carregar. Tendo sempre em mente isso, poderemos olhar nos seus olhos, apertar suas mãos, ver nelas, – como disse -, “a carne de Cristo e ajudá-las a recuperarem sua dignidade e a colocarem-se novamente em pé”.
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