Quando os designers Vanessa Yuan e Joris Vanbriel começaram a pesquisar materiais ecológicos para um novo projeto, depararam-se com um dado inquietante: os brinquedos estavam entre os bens de consumo que mais empregavam plástico no mundo. E, de tudo o que era produzido, 80% acabava em aterros sanitários ou nos oceanos. “Muitos desses artigos para crianças têm um tempo de vida curto, já que os interesses delas mudam rápido, assim como suas habilidades”, contam.
Após dois anos estudando a melhor maneira de dar um novo destino ao plástico descartado, a dupla idealizou a primeira coleção da ecoBirdy, marca belga de mobiliário infantil totalmente confeccionado a partir do upcycling de brinquedos que os pequenos não querem mais.
Lançada este ano durante a Maison&Objet de janeiro, a linha fabricada na Itália reúne mesa, cadeira, luminária e porta-objetos que despertam nas crianças a consciência a respeito da sustentabilidade, sem deixar o design de lado. Trata-se de uma das últimas e mais notáveis iniciativas a reforçar uma tendência que já vem conquistando adeptos no mundo todo: a da diversão infantil ecofriendly.
Enquanto startups como a americana Luke’s Toy Factory apostam em produtos feitos com insumos reciclados, como sobras de serragem de fábricas de móveis, gigantes como a Lego introduzem peças feitas com plástico de cana-de-açúcar – a firma dinamarquesa se comprometeu, inclusive, a adotar matéria-prima sustentável em todos os seus produtos até 2030. Da Nova Zelândia, o premiado Wishbone Design Studio criou um modelo de bicicleta sem pedal feito com plástico 100% reciclado que pode ser adaptado para crianças de 1 a 5 anos, prolongando sua vida útil.
De olho em uma mudança mais profunda, a ecoBirdy desenvolveu um livro de histórias ilustrado para informar sobre os problemas relacionados ao lixo e suas possíveis soluções, além de um programa escolar para colocá-las em prática. “Mostrar aos jovens a economia circular e inspirá-los a contribuir comum futuro mais ecológico é uma maneira de estimular um impacto positivo no planeta”, dizem Vanessa e Joris, que já planejam o lançamento de uma segunda coleção para o início de 2019.
A necessidade de ressaltar preceitos de responsabilidade social e ambiental – e, mais importante, passar esse saber adiante – fomentou o surgimento da MateriaLab, consultoria de São Paulo que pesquisa materiais e tecnologias para contribuir com a criação de produtos melhores para o mundo. O conhecimento originou um braço educativo para incentivar a conexão das crianças com a inovação. “A ideia é levar os alunos a entender a origem das coisas, remontando os caminhos que um material percorre até o uso e o reúso”, diz Carol Piccin, sócia da empresa.
Móveis da linha Vira e Mexe, de Roberta Faustini
A arquiteta e designer paulistana Roberta Faustini, por sua vez, viu no (curto) ciclo de vida dos objetos a oportunidade para projetar o conjunto Vira e Mexe, um jogo de móveis infantis que podem desempenhar diferentes funções com o passar dos anos. “Tudo começou com a torre de aprendizagem, que dá autonomia à criança, capaz de subir e ficar na altura de uma bancada para participar de atividades com adultos de forma segura”, diz. Suas peças feitas com madeira de reflorestamento e laminado PET (revestimento composto por matérias-primas recicladas) assumem o papel de mesa, cadeira, cadeirão e até estante.
Bicicleta produzida com plástico 100% reciclado pelo Wishbone Design Studio
E se meninas e meninos puderem se relacionar com algo que traz em sua história o manejo de uma espécie nativa? Foi o que pensou Marcelo Rosenbaum no projeto Molongó, uma imersão em Nova Colômbia, AM, em que o designer e sua equipe elaboraram uma linha com jogos de memória, quebra-cabeças e outros produtos feitos com madeira da região – o molongó – por artesãos locais. “A iniciativa gera renda para a comunidade e viabiliza o desenvolvimento humano sustentável”, diz Rosenbaum. Uma brincadeira que pode mudar o mundo em todos os sentidos.
(Por Lígia Nogueira, da Casa Vogue)