A mudança climática é um engano.
A mudança climática está ocorrendo, mas não é provocada pelo homem.
A mudança climática é provocada pelo homem, mas fazer algo a respeito poderia destruir empregos e acabar com o crescimento econômico.
Estas são as etapas da negação climática. Ou talvez seja incorreto chamá-las etapas, pois os negacionistas na realidade nunca abandonam um argumento, sem importar o quanto plenamente tenha sido refutado pela evidência. É melhor descrevê-las como ideias de barata: afirmações falsas que se pensa já desfeitas, mas que continuam voltando.
De qualquer modo, o governo de Trump e seus aliados – na defensiva por outro furacão mortífero ampliado pela mudança climática e um assustador relatório das Nações Unidas – utilizaram todos esses maus argumentos nos últimos dias. Diria que foi um espetáculo chocante, mas é difícil se chocar nestes dias. Não obstante, foi uma recordação de que agora somos governados por gente que está disposta a colocar em risco a civilização em favor da conveniência política, sem mencionar os maiores lucros para seus amigos do combustível fóssil.
Sobre estas baratas: ignorando os detalhes, a própria multiplicidade dos argumentos para negar a mudança climática – a história daqueles que negam segue mudando, mas ao final o que não muda é que dizem que não deveríamos fazer nada – é um indicador de que aqueles que se opõem à ação climática estão debatendo de má-fé. Não estão buscando compreender com seriedade a realidade da mudança climática, nem a economia das emissões reduzidas. Sua meta é manter os poluidores em liberdade para que poluam o tanto que for possível e se apegarão ao que for para servir a esse fim.
Apesar disso, vale a pena destacar até que grau todos os seus argumentos entraram em colapso nestes anos recentes.
Nestes dias, os negacionistas da mudança climática parecem ter dado um pouco o braço a torcer, temporalmente, com seus argumentos de que nada acontece. O velho truque de comparar as temperaturas com as de um ano incomumente quente em 1998, para negar que o planeta está se aquecendo – que é como comparar os dias de inícios de julho com um dia de calor em maio e negar que existe o que conhecemos como verão –, foi minado por uma série de novas temperaturas históricas. Além disso, as massivas tormentas tropicais alimentadas por um oceano que aumenta constantemente sua temperatura fizeram com que as consequências da mudança climática sejam cada vez mais visíveis para as pessoas.
Sendo assim, a nova estratégia é minimizar o que ocorreu. Os modelos da mudança climática “não foram muito exitosos”, declarou Larry Kudlow, principal assessor econômico da Casa Branca. Na realidade, sim, eles foram: o aquecimento global na atualidade está muito de acordo com projeções passadas. “Algo está mudando e retornará a como estava”, afirmou Donald Trump no programa 60 Minutes, baseando-se, pois, em nada.
Após admitir com relutância que talvez a temperatura no planeta esteja, sim, aumentando, os negacionistas do clima afirmam que não estão convencidos de que os gases do efeito estufa são os responsáveis. “Não sei se é causado pelo homem”, disse Trump. Embora pareça que se retratou de suas afirmações anteriores de que a mudança climática é uma farsa inventada pelos chineses, ainda vê enormes conspirações dos cientistas climáticos, que afirma “têm grandes interesses políticos”.
Pensem nisso. Há décadas, os especialistas prognosticaram, com base em ciência básica, que as emissões aumentariam as temperaturas mundiais. Pessoas como Trump riram. Agora, o prognóstico dos especialistas se tornou realidade e os negacionistas insistem em que as emissões não são as responsáveis, que algo a mais deve estar impulsionando a mudança e tudo é uma conspiração. Por favor…
É como se Trump sugerisse que os sauditas não têm nada a ver com a desaparecimento de Jamal Khashoggi, que evaporou após entrar no Consulado da Arábia Saudita, na Turquia, e dissesse que foi assassinado por um misterioso terceiro. Oh, espera.
Por último, falando do custo da política climática: notei, no passado, como é estranho que os conservadores tenham uma fé absoluta no poder e na flexibilidade das economias de mercado, mas afirmem que essas economias serão destruídas por completo se o governo criar incentivos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Os argumentos apocalípticos sobre o custo de reduzir as emissões são particularmente estranhos dado o tremendo avanço tecnológico que houve nas energias renováveis: o custo da energia eólica e solar diminuiu consideravelmente. Enquanto isso, as empresas de energia que funcionam com carvão se tornaram tão pouco competitivas que o governo de Trump quer subsidiá-las à custa das energias mais limpas.
Em resumo, embora os argumentos dos negacionistas da mudança climática sempre tenham sido frágeis, fragilizaram-se ainda mais. Inclusive, se realmente você havia se deixado convencer pelos negacionistas, há cinco ou dez anos, os acontecimentos posteriores devem ter feito você reconsiderar.
Na realidade, está claro, o negacionismo climático nunca teve muito a ver com a lógica, nem com as provas. Como disse, os que negam a mudança climática claramente debatem de má-fé. Na realidade, não acreditam no que estão dizendo. Só buscam desculpas que permitam a pessoas como os irmãos Koch continuar fazendo dinheiro. Além disso, os liberais querem limitar as emissões e o conservadorismo moderno tenta, principalmente, lançá-los na bolsa.
Uma forma de pensar no que está ocorrendo aqui é que se trata do melhor exemplo da corrupção trumpiana: temos boas razões para acreditar que Trump e seus comparsas estão vendendo os Estados Unidos para obter lucros pessoais. No entanto, tratando-se do clima, não estão vendendo apenas os Estados Unidos, estão vendendo o mundo inteiro.
IHU