Barão de Cocais: movimentação na parte inferior de talude sobe a 15,8 cm


No boletim anterior publicado pela agência, por volta das 12h, a velocidade da movimentação era de 15,7 centímetros por dia na parte inferior. (Agência Vale)

O talude norte da mina de Gongo Soco da mineradora Vale em Barão de Cocais (MG) passou a se movimentar 15,8 centímetros por dia em sua porção inferior, segundo informações atualizadas na noite deste domingo pela Agência Nacional de Mineração (ANM). No boletim anterior publicado pela agência, por volta das 12h, a velocidade da movimentação era de 15,7 centímetros por dia na parte inferior.

Nos pontos mais críticos, o talude permanece cedendo 20 centímetros por dia. Segundo a agência, o rompimento pode ocorrer a qualquer momento. “Não há como confirmar quando o talude vai se romper exatamente”, informou a assessoria de imprensa da ANM. A previsão inicial era de que o desmoronamento ocorresse nesse sábado.

A Defesa Civil continua monitorando a movimentação do talude norte da mina de Gongo Soco, da mineradora Vale, em Barão de Cocais (MG), a 100 quilômetros de Belo Horizonte.

De acordo com Juvenal Caldeira, secretário municipal do Desenvolvimento Econômico da cidade e membro efetivo da Defesa Civil municipal, o risco de rompimento do talude, que funciona como uma parede de contenção, segue no nível 3, o mais alto.

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“O receio de toda a cidade é que o talude venha descer”. Segundo ele, o temor é que isso “cause vibração e afete a montanha”, o que pode impactar a barragem Sul Superior, 1,5 quilômetro abaixo da contenção. A movimentação do talude chegou a 20 centímetros em alguns pontos, um centímetro acima do observado anteriormente.

Caldeira assinala que 400 pessoas que vivem nas comunidades de Socorro, Tabuleiro, Piteira e Vila do Congo, que eventualmente podem ser afetadas, já foram retiradas. A população da Barão de Cocais participou de dois simulados para emergência. Os 16 postos de saúde da cidade estão equipados com geradores de energia, em caso de suspensão do fornecimento de luz, e há sete caminhões pipa com água potável à disposição da população.

Abaixo da barragem Sul Superior, a cerca de um quilômetro, estão sendo montados blocos de granito dentro de telas. Além disso, teve início o trabalho de terraplanagem para erguer um novo muro de contenção de 35 metros de altura, 400 metros de extensão na parte superior, com 10 metros de espessura e aterrado cinco metros abaixo do nível do solo. A construção deverá levar até um ano. Esse novo muro é um ponto anterior às comunidades cujos moradores foram removidos.

Movimento do Talude

O talude da mina de Gongo Soco da mineradora Vale em Barão de Cocais (MG) passou a se movimentar 18 centímetros por dia em pontos mais críticos, e 14,1 centímetros por dia em sua porção inferior, segundo relatório divulgado na nesse sábado, 24, pela Agência Nacional de Mineração (ANM).

A Vale acionou as autoridades acerca da movimentação do talude no último dia 13, quando a movimentação era de 4 centímetros por dia – a previsão anunciada pela companhia era de que o talude desmoronaria entre o último dia 19 e este final de semana.

Na segunda-feira, 20, porém, o secretário de Estado de Meio Ambiente, Germano Vieira, afirmou que o talude vai se romper, mas que isso poderia ocorrer também depois do prazo previsto.

O principal risco do desmoronamento do talude é que, ao ruir, para dentro da cava da mina, provoque abalo sísmico com intensidade suficiente para romper a barragem Sul Superior, que está 1,5 quilômetro da mina. A estrutura já passa por problemas de sustentação. Em 22 de abril, teve alerta de estabilidade elevado a 3, o mais alto da escala, que significa rompimento iminente.

Caso se rompa, a lama da barragem atingirá três municípios, conforme estudo de impacto da Vale: Barão de Cocais, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo. Um muro de contenção está sendo erguido entre a estrutura e Barão de Cocais, para tentar reter a lama, caso a barragem se rompa.

Revolta contra a Vale

Já havia sido ruim o bastante para Paulo de Morais quando, no início de fevereiro, ele foi retirado da casa em que morou por 22 anos por conta do risco de colapso em uma barragem de rejeitos da Vale.

Morais e cerca de 450 de seus vizinhos saíram da área em que viviam, sob ordens da Agência Nacional de Mineração (ANM), que temia a repetição da catástrofe de Brumadinho (MG), ocorrida a apenas 65 km dali.

Uma barragem se rompeu no início de janeiro, liberando uma onda de lama tóxica que soterrou mais de 240 funcionários da Vale e vizinhos.

“De um dia para o outro, tudo mudou”, disse Morais, que vivia com sua mulher e dois filhos em uma casa vermelha, que ele próprio construiu, logo atrás de uma igreja de 300 anos, na agora abandonada comunidade de Socorro.

“Do nada, em cinco minutos, fomos retirados pela Vale. Retirados, expulsos das nossas casas”, afirmou ele, enquanto se apoiava em um barranco na fazenda de café para a qual se mudou após deixar o lugar.

Agora, Morais teme que também perderá essa casa.

Um possível rompimento nos próximos dias do talude da mina Gongo Soco, também da Vale, aumentou o risco de desestabilização da barragem do local, o que poderia levar à liberação de uma nova corrente de lama em caso de rompimento, devastando a cidade colonial de Barão de Cocais (MG).

A cidade, que inclui o distrito abandonado de Socorro, está localizada junto à Estrada Real, antes utilizada para o transporte, em direção ao litoral, do ouro extraído em Minas Gerais, Estado hoje mais conhecido pela produção de minério de ferro.

A cidade principal está a 15 km de Socorro, mas um estudo realizado nesta semana pela Vale apontou que tanto ela quanto outros dois municípios também estariam no caminho do fluxo de lama caso o rompimento da barragem ocorra, forçando a evacuação de cerca de 10 mil pessoas, segundo reportagens veiculadas pela imprensa.

Os moradores da região se encontram em seus limites, com a economia local paralisada e poucos dispostos a apostar no futuro.

“As pessoas não querem contratar ninguém sem saber o que vai acontecer de um dia para o outro”, disse Eric Pastor, representante comercial local. “Eles não sabem se terão suas casas amanhã, então seus sonhos estão em espera.”

O secretário do Meio Ambiente de Minas Gerais estimou nesta semana que há uma chance de 10% a 15% de a barragem colapsar.

A Vale diz estar comprometida com a segurança dos residentes, acrescentando que segue monitorando a barragem Sul Superior e o talude da cava minerária.

A mineradora declarou que não está claro se um deslizamento do talude acarretaria em um colapso da barragem, mas afirmou no último sábado que está construindo uma estrutura de concreto seis km a jusante, para conter o resultado de um possível rompimento.

A Vale também está construindo um canal para redirecionar parte do potencial fluxo de lama, que Morais teme que vá avançar sobre sua fazenda de 18 hectares, na qual pastam cavalos, gado e ovelhas.

“Se a Vale vier aqui e me disser que eu também preciso deixar essa terra, não sei se consigo aguentar”, disse ele.

Agência Estado, Reuters e DomTotal