Na Tunísia, voluntários tomam as praias na guerra contra o lixo


Voluntária da associação Tounes Clean-Up, na praia de La Marsa. (AFP)

Todo o domingo, dezenas de voluntários tunisianos desafiam o sol forte e percorrem as praias, recolhendo lixo, algo que o governo não consegue administrar de forma eficiente.

Um ano depois das primeiras eleições municipais pós-revolução, que traziam também a expectativa por uma melhoria dos serviços de limpeza, o lixo continua a se amontoar nas praias deste país do norte da África.

Apenas 4% do lixo é reciclado, enquanto anualmente são encontradas 80 mil toneladas de plástico na natureza, segundo a ONG de defesa do meio ambiente WWF. Isso quer dizer que, em média, chegam a cada quilômetro do litoral 6,8 quilos de plástico por dia.

Apesar de ser comum ouvir críticas à falta de educação ambiental na Tunísia, várias associações conseguem mobilizar semanalmente dezenas, e até centenas, de voluntários para limpar a sujeira.

Na praia de Kheireddine, no bairro de La Goulette, nos arredores da capital, os voluntários da Tounes Clean-Up retiram, entre duas famílias que foram aproveitar o dia de sol, um colchão de espuma, uma colcha e fraldas sujas.

“Olha o que encontrei: uma fita cassete! Não é possível, nem fabricam mais isso”, exclama Houssem Hamdi.

Sensibilizar o público

Este engenheiro, de 30 anos, mergulhou na luta ambiental em 2013, e é o presidente da Tounes Clean-Up, associação que organiza operações de limpeza durante o ano todo nas praias e florestas. Ele também dirige a Tunisie Recyclage, encarregada de recolher plástico e papel de casas para reciclar.

“A Tounes Clean Up é feita de cidadãos […] que já viveram numa Tunísia limpa e que querem que as próximas gerações voltem a aproveitar isso”, explica Hamdi, referindo-se aos anos anteriores às revoltas de 2011, quando a coleta de lixo era mais bem organizada.

A quantidade de plástico reciclado na Tunísia diminuiu um terço entre 2010 e 2017, segundo a Agência Nacional de Gestão de Desperdícios.

Os 15 voluntários que foram à Kheireddine, carregando sacos de lixo, destoam em meio aos banhistas tunisianos.

Em duas horas de caminhada pela areia e subindo em pedras, recolheram quase 150 quilos de lixo, um terço dele de vidro.

“Somos redutores de danos”, explica Hamdi. “Durante nossas coletas, falamos e trocamos, para sensibilizar” as pessoas.

A gestão dos rejeitos é uma responsabilidade do governo municipal.

“O problema fundamental hoje em dia é o orçamento”, avalia o diretor-geral da Agência de Proteção e Ordenação do Litoral (APAL), Mohamed Ben Jeddou.

“As prefeituras são a coluna vertebral do desenvolvimento”, mas falta verba, segundo ele.

Já o ministro do Turismo, René Trabelsi, alertou recentemente para o “terrorismo ecológico”, que faria os turistas fugirem – apesar de os grandes hotéis cuidarem da manutenção de suas praias.

“Existem autoridades receptivas, que querem ajudar, mas não têm os meios. […] E existem outras que são frouxas. É um problema de governança”, lamenta Houssem Hamdi.

“A questão ambiental não é prioridade para o governo, porque se considera que o meio ambiente é um luxo”, critica.

AFP