A extração desenfreada e não sustentável das reservas de água subterrânea cruciais para a produção de alimentos “impactará criticamente” rios, lagos e pântanos em metade das bacias hidrográficas da Terra em meados do século, alertaram pesquisadores na quarta-feira (2).
Encontradas em rachaduras no solo, areia e rocha, as águas subterrâneas são a maior fonte utilizável de água doce do planeta e mais de dois bilhões de pessoas contam com elas para beber ou irrigar plantações.
Mas as reservas já estão sob pressão, à medida que a população global aumenta e a produção agrícola cresce em conjunto.
Uma equipe internacional de pesquisadores estudou a taxa na qual as águas subterrâneas existentes estavam alimentando rios, lagos e pântanos em todo o planeta e como o bombeamento para a agricultura afeta esse processo, conhecido como fluxo de corrente.
Eles descobriram que em cerca de 20% das bacias hidrográficas já havia sido atingido o ponto de inflexão, onde a extração ultrapassava o fluxo de corrente.
Eles também usaram modelos de mudança climática para prever como o fluxo de corrente diminuirá no futuro e descobriram que entre 42% e 79% dos locais de águas subterrâneas do mundo não serão capazes de sustentar os ecossistemas aquáticos em 2050.
Inge de Graaf, pesquisador de sistemas hidrológicos ambientais da Universidade de Freiburg, na Alemanha, disse que isso pode ter um impacto devastador.
“Está bastante claro que, se não houver mais água no seu riacho, seus peixes e plantas vão morrer”, disse De Graaf.
“Cerca de metade das culturas irrigadas dependem de águas subterrâneas. Isso é muito” a perder, acrescentou.
O estudo, publicado na revista científica Nature, apontou que regiões fortemente dependentes das águas subterrâneas para a produção agrícola, incluindo o México e as bacias do Ganges e do Indo, já estavam experimentando declínios nos fluxos de rios e córregos devido à extração excessiva.
E à medida que a demanda por água subterrânea aumentar, áreas da África e do sul da Europa também sofrerão graves perturbações relativas às águas nas próximas décadas, prevê a equipe.
AFP