A ausência de um sistema de monitoramento de desastres ambientais no oceano por satélite e a escassez de imagens do alto-mar dificultam a investigação sobre a origem do óleo achado em mais de 200 pontos do litoral do Nordeste. Cientistas de diferentes instituições buscam imagens que deem alguma pista, mas não encontraram nada que mostrasse o deslocamento da mancha até agora.
O único satélite que produz o tipo de imagem capaz de mostrar um vazamento de óleo no mar e a oferece gratuitamente é o Sentinel da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês). E há limitações. As imagens são criadas com intervalos de dias. E a maioria é de regiões mais próximas da costa. Sobre essas, o interesse comercial dos países é maior.
Estudos com base nas correntes marítimas já indicam que o acidente ocorreu além das 200 milhas da costa, em alto-mar. É menor a chance de haver imagens dessas regiões.
Ainda assim, grupos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Laboratório de Análise e Processamento de Imagem de Satélite da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e do Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da Universidade Federal do Rio (UFRJ), buscam imagens que deem alguma pista. “O Inpe já olhou todas as imagens disponíveis das proximidades da costa de 60 dias para cá, e não foi detectada nenhuma mancha expressiva indicativa da origem do vazamento”, disse o oceanógrafo Ronald Buss de Souza, pesquisador do Inpe.
Nas análises da Ufal, os resultados obtidos foram semelhantes. “Até agora não conseguimos identificar nenhuma imagem com um padrão clássico de derramamento de óleo”, disse o coordenador do laboratório da Ufal, Humberto Alves Barbosa, especialista em sensoriamento remoto. “Mas não existe uma sequência completa, há falhas de dois, três dias. Além disso, a dificuldade de interpretação das imagens é grande. Precisaria de mais gente, de mais recurso, de mais tecnologia.”
Para Luiz Landau, coordenador do laboratório da Coppe/UFRJ, seria sorte achar uma imagem com informações sobre a origem do vazamento dentre as feitas pela ESA. “Não temos imagens para nos ajudar, porque não temos programa de monitoramento para eventos desse tipo”, explicou. “Temos uma constelação de satélites privados nos céus, mas eles têm de estar programados para olhar para onde nos interessa.” Além disso, o óleo se movimenta na sub-superfície, o que dificulta a visualização do material, segundo especialistas.
Cooperação
Para os especialistas, a melhor estratégia para determinar a origem do vazamento é contar com a ajuda de oceanógrafos e modelos matemáticos capazes de estudar as correntes marítimas e, ao menos, reduzir a área possível do acidente. Análises geoquímicas do óleo também poderiam rastrear o caminho até as praias.
Eles reclamam, porém, que o gabinete de crise estabelecido pelo governo não convocou os cientistas oficialmente. “A gente pode continuar procurando se for chamado oficialmente”, disse Souza, do Inpe. “Após 50 dias, não se conseguiu descobrir a fonte do vazamento. Essa lerdeza gera um desastre ambiental sem precedentes.” Procurado pela reportagem, o gabinete de crise do governo não se manifestou.
Agência Estado