Seca reduz Cataratas de Vitória a um fio de água e alerta sobre mudança climática


Imagens produzidas pela Reuters mostram a cachoeira em janeiro e dezembro de 2019 (Reuters)

Durante décadas, as Cataratas de Vitória, onde o rio Zambezi do sul da África despenca 100 metros e cai em uma fenda na terra, atraiu milhões de viajantes ao Zimbábue e à Zâmbia graças ao seu cenário espetacular.

Mas a pior seca em um século reduziu as corredeiras a um fio de água, provocando temores de que a mudança climática acabe com uma das maiores atrações turísticas da região.

Embora elas costumem diminuir na estação seca, autoridades disseram que este ano isso causou um declínio inédito nos níveis da água.

“Em anos anteriores, quando fica seco, não é a este ponto. Esta é a primeira vez em que as vemos assim”, disse Dominic Nyambe, vendedor de artesanato de cerca de 30 anos diante de sua loja de Livingstone, do lado zambiano.

“Isso nos afeta, porque… os clientes… podem ver na internet (que as cataratas estão baixas)… não temos tantos turistas.”

No momento em que líderes mundiais se reúnem em Madri para a COP25 para debater maneiras de evitar o aquecimento catastrófico causado pelas emissões de gases de efeito estufa gerados pelo homem, o sul da África já sofre com alguns de seus piores efeitos –as torneiras estão ficando secas e cerca de 45 milhões de pessoas estão necessitadas de auxílio alimentar por causa do fracasso das colheitas.

Zimbábue e Zâmbia têm tido blecautes, já que dependem muito da energia de hidrelétricas da represa de Kariba, que fica na parte de cima da correnteza do rio Zambezi que deságua nas cataratas.

Trechos da maravilha natural de um quilômetro de comprimento não são nada além de rocha nua. O fluxo de água é baixo em outros pontos.

Dados da Autoridade do Rio Zambezi mostram que o fluxo está em seu nível mais baixo desde 1995, e muito abaixo da média de longo prazo. O presidente zambiano, Edgar Lungu, classificou o fato como “um lembrete enfático do que a mudança climática está fazendo com o nosso meio ambiente”.

Mas os cientistas hesitam em culpar categoricamente a mudança climática. Sempre há variações sazonais nos níveis.

Harald Kling, hidrólogo da empresa de engenharia Poyry e especialista no Rio Zambezi, disse que a ciência climática lida com décadas, não com anos isolados, “por isso às vezes é difícil dizer ‘isso é por causa da mudança climática‘ porque as secas sempre ocorrem”.

“Se elas se tornam mais frequentes, aí você pode começar a dizer ‘ok, isto pode ser a mudança climática‘”, acrescentou.

Reuters