Movimento Ecos: a Educação Básica promotora da Educação Socioambiental


Por Ciangeli Clark

A Educação Básica tem a função de abrir os horizontes do aprendizado, proporcionando aos jovens acesso ao conhecimento, ao convívio com os seus pares e à troca de experiência para o desenvolvimento saudável, ético, cultural, social, ambiental, de todos os envolvidos na formação de um indivíduo completo, ativo e crítico. A Educação Ambiental (EA) tem como princípios preservar e proteger o meio em que vivemos visando que as gerações atuais usufruam dele, mas que permitam que as futuras gerações também o façam.

É neste cenário que o Movimento Ecos foi criado, em 2011, para, em parceria com escolas públicas e privadas do Estado de Minas Gerais, desenvolver a EA nas instituições de ensino. O projeto é realizado pelas instituições superiores Dom Helder Escola de Direito e EMGE Escola de Engenharia e Computação.

As educações básica e ambiental devem ser laicas, inclusivas e acessíveis na busca da ligação dos docentes e discentes em todas as áreas do conhecimento de maneira interdisciplinar e transdisciplinar. Com isso, a partir desses conhecimentos, eles encontrarem condições de reconhecer direitos e deveres, tornando-os seres humanos atuantes e promotores de ações concretas que possibilitarão a intervenção social, econômica e cultural em prol do ambiental.

O Mestre Paulo Freire já nós alertava que a “educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas mudam o mundo”. Portanto, educar é formar cidadãos cultos, com senso critico e capazes de analisar e propor soluções para os problemas de complexidade crescente que envolvem a sociedade atual, dentre eles, as questões ambientais.

Se a sociedade pretende ter um desenvolvimento sustentável, assegurar direitos e respeitar a Constituição Federal de 1988, que determina em seu “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”, e nos alerta que um dos meios para se alcançar é “VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação(M o do meio ambiente”, um dos caminhos que teremos é a parceria com a Educação Básica, promovendo o estudo da EA nas escolas públicas e privadas, sendo este um terreno fértil para o novo e para a formação de novos paradigmas.

E, aproveitando o poema de nosso saudoso Mário Quintana, “Poemas Para Ler Na Escola”, exploramos a curiosidade e o desejo natural que emana dos jovens e apresentamos a Educação Ambiental para se encantarem e construírem novos valores.

O adolescente

A vida é tão bela que chega a dar medo,

Não o medo que paralisa e gela,

estátua súbita, mas

esse medo fascinante  e fremente de curiosidade que faz

o jovem felino seguir para a frente e farejando o vento

ao sair, a primeira vez da gruta.

Medo que ofusca: luz!

Cumplicemente,

as folhas contam-te um segredo

velho como o mundo:

Adolescente, olha! A vida é nova…

A vida é nova e anda nua

_ vestida apenas com o teu desejo! (MARIO QUINTANA, 2012, p.102)

Com essa finalidade, a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9795/1999) dispõe sobre a Educação Ambiental. Ela foi elaborada para subsidiar e viabilizar a introdução do estudo das temáticas ambientais no currículo escolar. Já no seu primeiro artigo, demostra a relevância e amplitude de sua aplicação. “Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.”. Foi neste contexto que o Projeto Socioambiental Ecos foi idealizado. É um Movimento em que os indivíduos são atores de seu aprendizado, de suas ações e análise de seus resultados tendo como parâmetro a realidade em que vive e estuda.

Esse protagonismo estudantil permite a troca de opiniões, experiências e análise das habilidades individuais e coletivas, dos pontos positivos e negativos, proporcionando a construção de novas competências no desenvolvimento do projeto de educação ambiental elaborado pelos docentes, discentes e comunidade escolar, e aplicado em suas dependências. A finalidade é preservar e melhorar o ambiente institucional proporcionando a todos um sentimento de pertencimento aos espaços escolares e, como consequência, essas ações se transportam além muros e são aplicadas nas residências, nas comunidades e no seu entorno.

O Movimento Ecos se pauta nos ensinamentos de Carlos Drummond de Andrade, poeta mineiro, que declarava “eu tropeço no possível, e não desisto de fazer a descoberta do que tem dentro da casca do impossível. Preservar o planeta Terra não é apenas um fato, é uma necessidade. Assim, trabalhar com EA no formato de projeto inter e transdisciplinar, tendo como base os temas transversais e a realidade na qual a escola está inserida, é um dos caminhos possíveis de esbarrar no impossível e transformá-lo em viável.

O Projeto Socioambiental é elaborado, construído, viabilizado e aplicado no ambiente escolar após análise feita pelos alunos e professores das condições estruturais, dos espaços físicos, dos instrumentos, equipamentos móveis e imóveis disponíveis, dos insumos materiais, dos tempos escolares, das pessoas envolvidas – este só terá relevância para a instituição para a qual foi elaborado. É viável a realidade estudada e para o qual foi idealizado. É único, intransferível, terá significado na qual foi elaborado. Entende-se que as existências podem ser próximas, mas também adversas, assim o projeto de Educação Ambiental, mesmo tendo as mesmas percepções, não será desenvolvido ou aplicado da mesma forma, já que as pessoas e a escolas serão diferentes.

Assim, o Ecos pretende que o Projeto Socioambiental seja centrado no discente, para que esse desenvolva a consciência ambiental com uma visão holística. Isso implica na reflexão do aluno sobre o seu papel enquanto cidadão. Levando ele a perceber que sua interação com o meio define o equilíbrio do ambiente.

A Educação Socioambiental quer levar o aluno a se questionar sobre suas atitudes, ações, e se perguntar:

Será que preciso?

Devo usar?

De que é feito?

Sou capaz recusar?

Posso reutilizar?

É reciclável?

Tenho outra solução?

Ser consciente, avaliar as necessidades coletivas, analisar os fatos apresentados com espirito crítico, lançar hipóteses e formular soluções é o caminho da preservação da “Nossa Casa Comum”. Assim, as ações do Movimento Ecos são direcionadas para a integração dos conhecimentos acadêmicos desenvolvidos nas instituições de ensino superior e sua prática no chão das escolas públicas com o intuito de transformar os estabelecimentos em Escolas Sustentáveis. O Movimento utiliza de ações práticas para aplicar a Educação Socioambiental a fim de desenvolver atitudes de proteção ambiental e possibilitar a formação de jovens comprometidos e engajados com o meio ambiente.