Por Ciangeli Clark
“Gaia” na mitologia grega é a “Mãe Terra”, sendo definida como uma potencialidade geradora. Já passou muito tempo destas divagações e nos tempos modernos, sabe-se que o olhar sobre a natureza deve ser mais ampliado. A “Mãe Terra” gera em certas condições, porém há vários bens naturais que são finitos e, por isso, temos a necessidade de cuidarmos e usarmos com sabedoria o que “Gaia” nos oferece.
A partir dessa reflexão, a educação socioambiental necessita do apoio da escola, da família e da sociedade em geral para que ela cumpra seu papel fundamental de educar jovens comprometidos com a preservação ambiental. O Movimento Ecos trabalha nestas três frentes ao implantar um projeto na escola e desenvolver suas ações ao longo do ano letivo incentivando a participação de toda escola e o envolvimento da comunidade do entorno da escola, bem como da família.
A implantação de projetos de educação socioambiental promove a escola, que deixa de ser um local apenas de conhecimento, para ser um espaço vivo, dinâmico e com a troca de experiências, onde as discursões e pontos de vistas diferentes são mediados de uma forma cidadã incentivando os jovens a serem sujeitos ativos e participativos. O estudo da realidade, mediado por projetos nas instituições de ensino, permite que os alunos investiguem problemas específicos de sua comunidade e tenham participação na construção dessas soluções para proteger a nossa “Mãe Terra”.
Os espaços formais e informais de aprendizado permitem a construção do cidadão participativo e ativo. O educador Paulo Freire já alertava para que nossa percepção de espaço escolar fosse reavaliada. Segundo ele, “se estivesse claro para nós que foi aprendendo que percebermos ser possível ensinar, teríamos entendido com facilidade a importância das experiências informais nas ruas, nas praças, no trabalho, nas salas de aula das escolas, nos pátios dos recreios em que variados gestos de alunos, de pessoal administrativo, de pessoal docente se cruza cheio de significado”. (FREIRE, 2011, p. 62). O aprendizado se constrói e se reconstrói dia a dia. Freire ainda esclarece que “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inclusão em permanente movimento na história”. (FREIRE, 1996, p. 154)
Portanto, perceber que podemos contribuir em muito para a proteção socioambiental, que ações individuais e coletivas podem modificar, desconstruir conceitos arraigados na nossa sociedade e edificar novos valores, é uma meta do Ecos. Ao longo dos anos vimos comunidades escolares transformar, construir e resignificar seus espaços com projetos socioambientais em parceria com o Movimento.
Assim, temos muitos exemplos de mudanças que podemos citar:
- Salas limpas e cuidadas pelos alunos;
- Estruturas escolares repaginadas com a ajuda da comunidade escolar;
- Reciclagem do material produzido na escola e destinação correta;
- Redução do consumo de água, energia e resíduos;
- Criação de cartazes, avisos, panfletos com sugestões de condutas ambientalmente corretas e alertas para a necessidade da ação individual e/ou coletiva;
- Jardins e hortas sendo revitalizados ou criados;
- Resgate da cultura tradicional;
- Envolvimento da escola com as instituições de amparo à criança e ao idoso;
- Espaços antes depredados ou não utilizados sendo transformados em locais de convivência e de oficinas;
- Oficinas práticas para a reutilização de material reciclado;
- Introdução de aulas práticas de artesanato, dança, música e outras;
- Parcerias com moradores, organizações, centro de saúde, comércio local, para a melhoria do ambiente escolar e do entorno;
- Parceria com outros centros educativos;
- Revitalização pelos alunos de praças próximas das escolas;
- Criação ou retomada do Grêmio estudantil com o empoderamento dos jovens;
- Incentivo à leitura para adquirirem uma visão global para minimizar os impactos socioambientais;
- Manutenção de projetos transdisciplinares com linguagem única desenvolvida em todas as disciplinas.
Poderíamos dar mais exemplos, pois são muitas as ações planejadas e desenvolvidas nas escolas, mas estas já nos mostram o alcance das propostas do Movimento Ecos. Com orientações para a construção de uma Educação Socioambiental participativa, crítica e global, o projeto ajuda na formação de cidadãos conscientes de seus direitos e deveres, na busca da promoção da justiça social e com a preservação socioambiental das gerações atuais e futuras.
Elevemos nosso pensamento para o bem comum a nossa “Mãe Terra”, que tão sabiamente nos descreve o Papa Francisco em sua Carta Encíclica Laudato Sí: “Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”. Alerta para a conexão indissolúvel do ser humano com o planeta, “o livro da natureza é uno e indivisível”, incluindo, entre outras coisas, o ambiente, a vida, a sexualidade, a família, as relações sociais. É que “a degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana”. Cuidar da nossa “Casa comum” é entender que juntos, podemos mais!