Corrida ilegal pelo ouro está destruindo a Amazônia, mostra estudo


“O escopo da mineração ilegal na Amazônia, especialmente em territórios indígenas e áreas de proteção ambiental, cresceu exponencialmente nos últimos anos”. Foto: REUTERS/Bruno Kelly

Por Anastasia Moloney/Karla Mendes

Bogotá – Um aumento na mineração ilegal de pequena escala está destruindo faixas da Floresta Amazônica, segundo uma pesquisa publicada nessa segunda-feira que mapeia a escala das perdas pela primeira vez.

Pesquisadores utilizaram imagens de satélite e dados governamentais para identificar pelo menos 2.312 locais de mineração ilegal em seis países da América do Sul – Brasil, Bolívia, Colômbia, Peru, Equador e Venezuela.

Os mapas mostram a expansão e a escala da mineração ilegal e foram produzidos pelo Projeto Amazônico de Informação Socio-Ambiental Georreferenciada (RAISG, na sigla em inglês), que reúne uma rede de grupos ambientais sem fins lucrativos na Amazônia.

“O escopo da mineração ilegal na Amazônia, especialmente em territórios indígenas e áreas de proteção ambiental, cresceu exponencialmente nos últimos anos, com a alta no preço do ouro”, disse Beto Ricardo, diretor da RAISG.

As altas nos preços na última década provocaram uma corrida pelo ouro e centenas de milhares de mineradores ilegais chegaram à Floresta Amazônica esperando ficar ricos.

O mercúrio utilizado para separar o ouro de pedregulhos está contaminando rios, segundo o relatório. O mercúrio infiltra no solo, nos rios, e na cadeia alimentar e pode causar sérios problemas de saúde.

“A mineração ilegal pode nos matar”, diz Agustin Ojeda, um líder indígena do povo Shirian, da Venezuela, segundo o relatório.

“Os poços de mineração também permitem a reprodução de mosquitos que trazem doenças, como a malária. O efeito do mercúrio na água também não é levado a sério. Ele não só contamina a água, mas também os peixes que comemos”.

Ambientalistas temem que o presidente eleito brasileiro Jair Bolsonaro libere mais terras protegidas para a mineração e para outros projetos após sua posse em 1º de janeiro, colocando ainda mais pressão sobre a Amazônia.

Bolsonaro disse que planeja parar de reconhecer novas terras de reserva nativa e também apoia a flexibilização de processos de licença ambiental para projetos de infraestrutura e outros negócios.

“A preocupação é enorme”, disse Ricardo, que também é antropólogo do Instituto Socioambiental do Brasil (ISA), um dos seis grupos que produziram o relatório.

“A narrativa pública é para limpar a área (de florestas), enfraquecer as instituições que monitoram e controlam a floresta para favorecer o agronegócio e a mineração para a produção e exportação de commodities, que apressarão a deterioração da floresta”, disse Ricardo à Thomson Reuters Foundation.

O Brasil abriga a maior área de floresta tropical da Amazônia e sua preservação é vista por estudiosos do clima como crítica para evitar grandes concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, que vêm sendo ligadas ao aquecimento global.

Em uma das áreas mais atingidas pela mineração, um trecho que se alonga entre o Brasil e a Venezuela e é habitado pelo povo indígena Yanomami, o estudo mostra que há 55 pontos ilegais em áreas protegidas.

“A mineração ilegal é uma ameaça séria para a Floresta Amazônica e os povos indígenas que a chamam de casa”, disse Moira Birss, uma porta-voz do grupo norte-americano Amazon Watch.

“Esse relatório fornece dados novos importantes e claramente demonstra o tamanho do problema, e como tal é um chamado para que grupos regionais e para que empresas que compram minerais extraídos ilegalmente tomem ações concretas para impedir essa destruição”.

Reuters