Os caramujos do Alto Vera Cruz


 

Por Caio Lara

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), as espécies invasoras representam a segunda maior ameaça à biodiversidade em todo o planeta, somente atrás dos desmatamentos. Em nosso país, um dos exemplos mais comuns deste fenômeno é o caramujo africano (Achatina fulica), que, segundo vários relatos, foi introduzido no país no final da década de 1980, sendo importado ilegalmente do Leste e Nordeste africanos como um substituto mais rentável do escargot.

Segundo a pesquisadora Silvana Thiengo, da Fiocruz, ao portal da própria instituição[1], o molusco é consumido principalmente na África e tem suas vantagens nutricionais, como ser rico em proteínas. Numa feira realizada no Paraná há mais de 30 anos, foram comercializados kits que incluíam a matriz com um número determinado de exemplares e livretos que ensinavam como iniciar a criação. A promessa era de lucro imediato. Porém, como o brasileiro não tem hábito de consumir este tipo de alimento, a demanda não existiu e os criadores soltaram os moluscos inadvertidamente na natureza, sem imaginar o mal que estavam causando. Tal caramujo estaria presente em 23 dos 26 estados brasileiros e também no Distrito Federal, incluindo a Região Amazônica e reservas ambientais.

Ainda segundo a pesquisadora, além de destruir plantações de banana, brócolis, batata-doce, abóbora, tomate e alface, o A. fulica, nome científico do caramujo, já foi associado no exterior a algumas zoonoses como a meningite eosinofílica e a angiostrongilíase abdominal. Deste modo, os animais encontrados soltos não devem ser ingeridos. A espécie procria em ritmo acelerado: um exemplar pode colocar em média 200 ovos por postura e se reproduzir mais de uma vez por ano. Estes ovos são mais ou menos do tamanho de uma semente de mamão, branco-amarelados e ficam semienterrados.

Os caramujos africanos também moram na Escola Estadual Engenheiro Prado Lopes, do bairro Alto Vera Cruz, estreante no Projeto EcoDom. Logo na primeira visita da equipe à escola, eles foram vistos aos montes onde antes funcionava a horta. A fome voraz dos bichinhos inviabilizou a continuidade das hortaliças e temperos, segundo a professora Patrícia Guieiro de Sá, orientadora do projeto na escola. O problema então entrou no plano de ação deste ano. Contatado, o responsável técnico do EcoDom, professor doutor José Cláudio Junqueira Ribeiro, sugeriu a catação manual dos moluscos e a preservação de alguns exemplares em um terrário para enriquecer as aulas de Biologia.

Ocorre que os bichinhos estão se escondendo na terra e dentro dos muros da escola e gostam de colocar a cara de fora somente quando o tempo está chuvoso. Assim, a equipe espera um dia propício para realizar a catação e iniciar a reconstrução da horta. Até lá, a Engenheiro Prado Lopes continuará sendo a morada de dezenas e dezenas desses simpáticos animaizinhos.

[1] https://agencia.fiocruz.br/especialista-comenta-os-riscos-que-os-caramujos-africanos-podem-representar-para-a-popula%C3%A7%C3%A3o

Edição – Equipe EcoDom