A mineradora Vale informou quarta (26) que irá destinar um total de R$ 1,8 bilhão até 2023 para a recuperação ambiental e remoção dos rejeitos da área atingida pela tragédia de Brumadinho (MG) e para obras que garantam a segurança de estruturas remanescentes na Mina Córrego do Feijão. O rompimento da barragem, que provocou mais de 200 mortes e poluiu o Rio Paraopeba, completou ontem (25) cinco meses.
Desse total, devem ser gastos neste ano de R$ 400 milhões e R$ 500 milhões. De acordo com a mineradora, obras para reforçar a estabilidade das estruturas que restaram na Mina já estão em curso. O plano para contenção dos rejeitos, já apresentado aos órgãos públicos, também está em andamento e divide as intervenções em três trechos.
Nos primeiros dez quilômetros, entre a barragem e o ponto onde os rejeitos atingiram o Rio Paraopeba, estão previstas 23 ações para redução do contínuo carreamento de lama. O Corpo de Bombeiro acompanha as intervenções. “As obras envolvem a contratação de 28 empresas. A previsão é de gerar 2,5 mil empregos no pico de obras. Atualmente, há cerca de 1,3 mil trabalhadores atuando nas intervenções, sendo mais de 700 de Brumadinho e região”, afirmou a Vale, em nota.
Após o rompimento da barragem, o rejeito que vazou alcançou primeiro o Ribeirão Ferro-Carvão e depois o Rio Paraopeba. É nesse percurso que ainda se encontra o rejeito mais espesso. “Estima-se que ali estejam depositados entre 6 milhões e 7 milhões de metros cúbicos do material”, ddsse a mineradora. Até agora foram removidos cerca de 550 mil metros cúbicos de rejeito, que serão depositados em uma área dentro da Mina Córrego do Feijão já definida com o aval dos órgãos ambientais competentes.
Ainda neste trecho, serão construídas 15 pequenas estruturas de contenção, entre elas barreiras hidráulicas filtrantes, que atuarão na redução da velocidade da água e na retenção dos sedimentos mais grossos presentes no rejeito. Um reservatório com capacidade aproximada de 750 milhões de litros também será preparado. A expectativa é de que a lama se acomode no fundo e que a turbidez da água se reduza. A mineradora assegura que as estruturas são descomissionáveis, isto é, poderão ser desmontadas a partir do momento em que não tiverem mais serventia.
As intervenções do segundo trecho se darão entre o encontro do Ribeirão Ferro-Carvão com Rio Paraopeba e o município de Juatuba (MG), onde a lama depositada no manancial será dragado. Já o terceiro trecho vai até a Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, no município de Pompéu (MG), onde as ações terão como objetivo reduzir o carreamento dos rejeitos mais finos ao longo do curso do Rio Paraopeba.
Desde o final de maio, a mineradora já mantinha membranas de contenção instaladas neste trecho. “Os equipamentos tinham a função emergencial de conter os sedimentos ultrafinos, minimizando o avanço da pluma de turbidez. No dia 3 de junho, a Vale iniciou a desmobilização das membranas. Após a fase emergencial e com a entrada do período de estiagem foi avaliado que no trecho do rio a tecnologia já não é necessária”, informou a mineradora.
Rio São Francisco
De acordo com a Vale, o Rio Paraopeba vem sendo monitorado diariamente em 66 pontos e aproximadamente 1,4 milhão de análises de água, sedimentos e rejeitos já foram realizadas. No início do mês, a mineradora divulgou um comunicado afirmando que o manancial poderá ser recuperado. O texto indica que a área com maior turbidez concentra-se até 40 quilômetros da barragem que se rompeu. A Vale também assegurou que a pluma de sedimentos não atingiu a Usina Hidrelétrica de Três Marias, onde o Rio Paraopeba se encontra com o Rio São Francisco.
No mês passado, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), órgão vinculado à Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad) negou que os rejeitos tenham atingido o Rio São Francisco. A conclusão foi obtida após uma expedição que permitiu coletar 4 mil dados e amostras na região atingida pela tragédia.
De outro lado, no final de março, a organização não governamental (ONG) Fundação SOS Mata Atlântica chegou a um resultado diferente. Ela também realizou uma exposição e apresentou o relatório O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias da Mata Atlântica, que reúne dados obtidos a partir das amostras colhidas. De acordo com a ONG, as concentrações de ferro, manganês, cromo e cobre acima dos limites máximos permitidos pela legislação são evidências do impacto da pluma de rejeitos de minério sobre o São Francisco.
As recomendações da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) para que não seja consumida água do Rio Paraopeba a partir do trecho em que houve a contaminação continuam válidas. A pesca está proibida por tempo indeterminado, conforme portaria que entrou em vigor no dia primeiro de março, editada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF-MG), órgão vinculado à Semad.
Agência Brasil