O Brasil recusou nessa segunda-feira (26) a ajuda dos países do G7 para combater os incêndios na Amazônia, informou Onyx Lorenzoni, ministro-chefe da Casa Civil, que aconselhou o presidente francês, Emmanuel Macron, a cuidar da “sua casa e das suas colônias”. A decisão vai na contramão da situação atual, pois ao menos mil novos focos de incêndio foram declarados nas últimas horas na Amazônia. Preocupados, oito ex-ministros do Meio Ambiente propõem moratória a projetos que tramitam hoje no Congresso e que podem aumentar os riscos de desmatamento no país.
Sobre a ajuda do G7, o Planalto se manifestou através do ministro-chefe da Casa Civil. “Agradecemos, mas talvez estes recursos sejam mais relevantes para reflorestar a Europa”, disse Onyx Lorenzoni ao portal de notícias G1, em referência ao fundo de US$ 20 milhões (cerca de R$ 83 milhões) para os países amazônicos anunciado por Macron durante a Cúpula do G7 em Biarritz.
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“O Macron não consegue sequer evitar um previsível incêndio em uma igreja que é um patrimônio da humanidade e quer ensinar o quê para nosso país?! Ele tem muito o que cuidar em casa e nas colônias francesas”, disparou Onyx.
“O Brasil é uma nação democrática, livre e nunca teve práticas colonialistas e imperialistas como talvez seja o objetivo do francês Macron, que coincidentemente está com altas taxas internas de rejeição”, declarou o ministro-chefe da Casa Civil.
Onyx Lorenzoni destacou ainda que o Brasil pode ensinar “a qualquer nação” como proteger matas nativas. “Aliás, não existe nenhum país que tenha uma cobertura nativa maior que o nosso”.
Durante o dia, o presidente Jair Bolsonaro havia questionado “as intenções” de Macron sobre a Amazônia.
“Não podemos aceitar que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia, nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma ‘aliança’ dos países do G-7 para ‘salvar’ a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém”, tuitou o presidente.
Fogo avança
Ao menos mil novos focos de incêndio foram declarados nas últimas horas na Amazônia, enquanto os aviões do Exército Brasileiro atravessaram nessa segunda-feira as grandes áreas afetadas para tentar conter as chamas que mobilizaram a atenção dos líderes do G7 e mantiveram o mundo em suspense.
Porto Velho, capital do estado de Rondônia (norte), acordou com uma leve neblina de fumaça e cheiro de queimado trazido pelos ventos dos incêndios florestais na região, relataram jornalistas presentes no local.
Até domingo (25), 80.626 focos de incêndios foram registrados em todo o Brasil, 1.113 novos focos em relação ao relatório de sábado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O saldo marca um aumento de 78% em relação ao mesmo período do ano passado. No total, 52,6% dos focos estão localizados na região amazônica.
Mas o ministro da Defesa do Brasil, Fernando Azevedo e Silva, garantiu nessa segunda-feira que os incêndios na Amazônia estão sob controle após o envio de mais 2.500 militares e as chuvas que caíram em algumas regiões.
“Tem se alardeado um pouco que a situação está fora de controle, mas não está mesmo. Nós tivemos picos de queimadas em outros anos muito maiores do que neste ano aqui e pela primeira vez foi empregada uma rapidez muito boa”.
“É lógico a situação não é simples, mas ela está sob controle e já arrefecendo bem. Aí, em princípio, até a meteorologia ajudou porque numa parte da Amazônia oeste hoje teve uma situação de chuvas e isso ajuda bastante”.
Dois aviões-cisterna Hércules C-130 baseados em Porto Velho iniciaram suas atividades, lançando dezenas de milhares de litros de água nos pontos de incêndio.
Os dispositivos fazem parte da operação militar ordenada na sexta-feira (23) pelo presidente Jair Bolsonaro, sob pressão interna e internacional. Cerca de 43 mil soldados de regimentos da Amazônia estão prontos para entrar em atividade, informou Fernando Azevedo e Silva.
No Brasil, o crescente desmatamento causado a abrir espaço para as plantações ou pastagens agravou a temporada de queimadas habitual, dizem os especialistas.
O incêndio desencadeou um debate de alta tensão entre Bolsonaro e seu colega francês Emmanuel Macron, que levantou a questão na Amazônia na cúpula das maiores potências econômicas ocidentais, o G7, em Biarritz (sul da França).
O G7 concordou em repassar 20 milhões de dólares ao combate contra o fogo na Amazônia, a fim de somar mais aviões para controle do fogo.
A cúpula também acertou apoiar um plano de reflorestamento de médio prazo que será anunciado na ONU em setembro, disse Macron e o presidente do Chile, Sebastián Piñera.
Bolsonaro disse nesta segunda-feira que Macron “disfarça suas intenções” ao propor “uma ‘aliança’ dos países do G7 para ‘salvar’ a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou terra de ninguém”.
Ele também indicou que conversou com o presidente colombiano Iván Duque sobre “a necessidade de ter um plano conjunto entre a maioria dos países que compõem a Amazônia, que garanta nossa soberania e nossa riqueza natural”.
O Brasil aceitou até o momento a ajuda de Israel, que ofereceu enviar um avião.
Ex-ministros do Meio Ambiente
Oito ex-ministros do Meio Ambiente irão entregar aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), uma carta pedindo uma moratória a projetos que tramitam hoje no Congresso e que podem aumentar os riscos de desmatamento no país.
Segundo a ex-ministra Izabella Teixeira, uma das signatárias do documento que está sendo preparado, a intenção é que o Congresso pare a tramitação das propostas e analise com mais tempo os projetos e seus impactos.
Fazem parte do grupo, além de Izabella, os ex-ministros Carlos Minc, José Goldemberg, Rubens Ricupero, José Carlos Carvalho, Marina Silva, José Sarney Filho e Edson Duarte, que atuaram nos últimos seis governos, desde Fernando Collor de Mello.
Entre os projetos que os ex-ministros querem ver suspensos estão propostas que afrouxam as normas para licenciamento ambiental.
O que traz maior impacto, patrocinado pela bancada ruralista, tramita desde 2004, ganhou regime de urgência no início do ano passado e está pronto para ir a plenário.
Entre outros pontos, dá a Estados e municípios poder para definir as regras para licenciamento — hoje todos precisam seguir pelo menos as definidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente — e estabelece um prazo máximo para concessão de licença.
Além disso, retira a necessidade de licenciamento para atividades como pecuária extensiva, silvicultura, agroindústria de menor porte e empreendimentos rodoviários.
Outros projetos citados pelos ministros são os que alteram a criação de reservas ambientais e indígenas e propostas que o governo pretende apresentar, como o de regularizar o garimpo em terras indígenas.
Essa é a segunda ação dos ex-ministros. Em maio deste ano, os oito se uniram para preparar uma primeira carta que, à época, criticava o que chamavam de ações de desmonte da estrutura do ministério.
AFP/Domtotal.com