Apesar da busca por financiamento, Brasil não impedirá acerto sobre Acordo de Paris


Incêndio nos arredores de Porto Velho (RO), em 24 de agosto (Victor Moriyama / AFP)

O Brasil não impedirá um acerto sobre os itens finais do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas apesar da exigência do país por mais financiamentos internacionais para iniciativas ambientais domésticas, disse um diplomata brasileiro de alto escalão nessa quinta-feira (6).

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo), fez da garantia por mais dinheiro para os esforços ambientais do país sua principal prioridade na cúpula climática COP25, que acontece em Madri desde segunda-feira, embora grupos ambientalistas critiquem o governo do presidente Jair Bolsonaro por não impedir a elevação no desmatamento da Amazônia.

Mas a alocação de recursos para países específicos não é parte das negociações da Organização das Nações Unidas (ONU), que são destinadas a estabelecer regras sobre como o Acordo de Paris será implementado, o que não deixa claro como a demanda de Salles será considerada nas rodadas de conversas.

“Não tem nenhuma relação entre as coisas. Sim, o ministro veio aqui com esse pleito, ele tem argumentos bem fundamentados para fazer os pleitos que ele está fazendo, mas isso não tem nenhuma relação com os outros temas em negociação aqui”, disse Marco Túlio Cabral, o segundo diplomata mais graduado do Itamaraty na cúpula.

“Ontem nós tivemos uma reunião longa e ele em nenhum momento estabeleceu esse vínculo. Essas coisas não estão ligadas. Esta negociação está acontecendo em paralelo”, disse Cabral em uma reunião de representantes brasileiros não governamentais.

Salles disse no mês passado que, nesta cúpula, ele descobriria quanto o Brasil receberá de uma quantia planejada de US$ 100 bilhões em financiamento ambiental anual que havia sido prometida a países em desenvolvimento até 2020. Ele disse separadamente à Folha de S.Paulo que o Brasil deveria receber pelo menos US$ 10 bilhões dessa verba.  O ministro é leal a Bolsonaro, que tem priorizado o desenvolvimento econômico da região Amazônica em vez de sua preservação.

Ambientalistas culpam as políticas de Bolsonaro por incentivarem especuladores, grileiros e fazendeiros que seriam os responsáveis pelo maior desmatamento da Amazônia em 11 anos. Bolsonaro diz que o Brasil tem um dos melhores registros ambientais do mundo e acusa a imprensa de demonizá-lo.

Salles tomou a medida incomum de comparecer à conferência completa de duas semanas, ao invés de participar com seus equivalentes ministeriais de outros países apenas na segunda semana.

Reuters publicou na segunda-feira que os membros da equipe de negociação brasileira que chegaram a Madri não foram informados sobre os motivos da chegada antecipada de Salles e também não sabiam quais seriam suas metas ou se ele apoiaria um acordo. Cabral disse que as negociações estão progredindo, mas que estão longe de concluídas. “Nos viemos aqui com um espírito construtivo para buscar um acordo”, disse.

Reuters