Relação entre oceano e continente facilita previsão de desastres


Por Alana Gandra

A criação do Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas (Inpo) será muito importante para o entendimento das relações existentes entre o oceano e o continente, destacou, em entrevista à Agência Brasil, o cientista Luiz Drude de Lacerda. Ele coordena o Simpósio Inter-relações Oceano-Continente no Cenário das Mudanças Globais, que a Academia Brasileira de Ciências (ABC) promove a partir de hoje (2), no Rio de Janeiro.

O anúncio da criação do instituto foi feito pelo como ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp. Coordenador acadêmico do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (UFCE) e professor titular da Universidade Federal Fluminense (UFF), Lacerda disse que o Brasil ainda depende quase exclusivamente das universidades para gerar conhecimento nessa área. ´O país fica restrito à pesquisa feita nas universidades e ao apoio que a Marinha dá.´

De acordo com o especialista, a comunidade científica vem defendendo a criação do Inpo há muito tempo. Ele comparou a nova unidade ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que ´fez diferença para o Brasil, se você pensar que hoje o mundo todo depende de informações por satélite´.

Segundo Lacerda, o Brasil não dispõe de nenhum navio oceanográfico civil que possa ficar no mar a maior parte do tempo. As embarcações existentes são operadas pela Marinha. Nesse sentido, o cientista ressaltou a importância da criação do Inpo. ´Seria o primeiro instituto civil de pesquisa oceanográfica´.

O coordenador destacou que pesquisas nessa área são muito caras, por exigirem monitoramento e manutenção de longo prazo e equipamentos de custo elevado, como boias para coleta de dados, cujo valor estimado é cerca de US$ 2 milhões cada. As boias terão de ficar permanentemente no oceano. ´São fundamentais para a previsão do clima´, explicou. Por isso, o Brasil ainda depende da cooperação internacional. ´Mas se o MCTI [Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação] criar esse instituto, a coisa realmente vai andar bem mais rápido´, disse.

O especialista ressaltou que, com o maior entendimento do mar profundo, é possível criar cenários de previsão do que pode ocorrer nos continentes. ´As mudanças climáticas estão acontecendo no mundo todo, inclusive no Brasil´, ressaltou. Ele citou o caso dos furacões que assolaram Santa Catarina, a partir de 2005, que nunca tinham acontecido na parte sul do Oceano Atlântico. ´[É] fundamental para fazer um bom cenário de previsão de desastres naturais saber o que acontece no oceano aberto.´

O cientista destacou que não é só a opinião pública que não percebe essa interligação entre o oceano e o continente. ´Mesmo a comunidade científica tem uma certa dificuldade de entender essa inter-relação entre o oceano e o que ocorre no continente´. Simpósios como o que começa hoje no Rio, acrescentou, ajudam no entendimento do que pode ocorrer em consequência das mudanças globais, mas é preciso tentar traduzir isso para uma linguagem que a população consiga compreender.

Para ele, as pesquisas oceanográficas no país são importantes para a hegemonia brasileira no Atlântico Sul. ´O Brasil tem que ser soberano nessa região. É como você ter um quintal e não ter ninguém para tomar conta´. Ao se referir à exploração do petróleo na camada pré-sal, ele ressaltou que o Brasil ´tem que conhecer a área para poder protegê-la´.

O simpósio continua amanhã (3). Um dos destaques da programação será a palestra do diplomata Milton Rondó Filho, do Ministério das Relações Exteriores, sobre a cooperação internacional para a redução de riscos de desastres.

Fonte: Agência Brasil