Decidir em qual empresa ou setor investir pode ser bastante difícil em tempos como os atuais, com a economia mundial em crise e muitos países em recessão. Essa atividade está ainda mais desafiadora com o crescimento da conscientização de que estão ocorrendo mudanças climáticas que afetarão todos os ramos de negócios. Por exemplo: será que compensa apostar em uma indústria de carvão se em breve uma legislação mais rígida com relação à emissão de gases do efeito estufa pode ser aprovada?
É esse tipo de pergunta que 53% dos gestores de ativos financeiros confirmam se fazer a cada nova escolha de investimento, uma porcentagem que sobe para 69% entre os proprietários dos ativos.
Esses são dados de uma pesquisa global realizada com 37 proprietários de ativos e 47 gestores, que no total somam mais de US$ 14 trilhões em recursos.
Foram entrevistados representantes de alguns dos maiores fundos do planeta, como o California Public Employees’ Retirement System (CalPERS) e o PGGM, assim como de empresas gestoras de ativos, como a BlackRock, o BNP Paribas Investment Partners e o Hastings Funds Management.
A maioria dos entrevistados afirmou que os riscos climáticos já são mencionados de alguma forma em suas políticas de investimento. Entre os proprietários, 64% dizem que isso é uma norma. Entre os gestores, 77% apresentam esse tipo de informação para seus clientes.
“A mudança climática se estabeleceu como um risco material para os investidores, que já alteram suas decisões por causa dela. No entanto, a incerteza sobre o futuro das políticas climáticas ainda é um grande desafio (..) Seria muito bom se pudéssemos contar com sinais sobre o que será feito em termos de legislação, mas o que essa pesquisa mostra é que os investidores já estão se precavendo”, afirma Stephanie Pfeifer, presidente do Grupo Europeu de Investidores Institucionais sobre o Clima.
De acordo com a pesquisa, 63% dos proprietários de ativos afirmam estar monitorando seus investimentos para garantir que sejam integrados fatores climáticos em suas decisões. Além disso, mais da metade deles confirmou que já realizou pelo menos uma análise de riscos climáticos em seus portfólios.
Entre os gestores, quase 40% confirma ter alterado a direção, pelo menos uma vez, de investimentos em commodities devido aos riscos climáticos.
Com relação a investimentos classificados como de “baixo carbono”, 70% dos proprietários e 60% dos gestores afirmaram estar apostando nessa área.
Entretanto, apenas 43% de todos os respondentes já incluíram nos seus acordos comerciais com empresas cláusulas que levam em conta questões relacionadas com as mudanças climáticas.
“Alguns dos maiores desafios climáticos estão localizados na Ásia, mas apenas agora muitos investidores da região estão começando a considerar como responder a essa ameaça. Participar em pesquisas como essa é importante porque ajuda os investidores a aprender uns com os outros”, explicou Alexandra Tracy, conselheira do Grupo Asiático de Investidores sobre Mudanças Climáticas.
A pesquisa traz ainda alguns estudos de caso, quando proprietários e gestores resolveram agir de alguma forma para lidar com as mudanças climáticas.
É citado, por exemplo, a preocupação com eficiência energética do fundo de pensão California State Teachers’ Retirement System (CalSTRS), com mais de US$ 163,7 milhões em investimentos.
Em 2013, o CalSTRS aprovou novas resoluções para um grande número de empresas das quais é acionista, cobrando ações de redução de consumo de eletricidade. Antes disso, em 2012, uma carta aberta do fundo pedia maior transparência das corporações sobre energia e apontava que estaria interessado em ajudar nesse sentido. O documento reconhecia ainda que ações de eficiência energética automaticamente tornam as empresas mais atrativas para o CalSTRS.
“Estamos contentes que cada vez mais os investidores globais estão conscientes de que as mudanças climáticas são um risco para seus negócios. Muitos inclusive também já reconhecem que elas abrem novas oportunidades”, disse Chris Davis, diretor de programas de investimentos do grupo Ceres, consultoria para práticas sustentáveis de negócios.
A pesquisa foi conduzida pela Mercer, a pedido da Coalizão Global de Investidores sobre Mudanças Climáticas.
Fonte: Instituto Carbono Brasil