Milhares protestam na Romênia contra mina de ouro e gás de xisto


Milhares de pessoas protestaram este domingo em toda a Romênia contra projetos de exploração de gás de xisto e um projeto canadense de uma mina de ouro que usará grandes quantidades de cianureto.

 

Em Bucareste, 4.000 manifestantes segundo a polícia, 7.000 segundo os organizadores, marcharam no centro da cidade até a sede do governo, onde gritaram palavras de ordem contra o projeto de uma mina de ouro da empresa canadense Gabirel Resources na cidade de Rosia Montana, na Transilvânia (noroeste).

 

De volta à praça da Universidade, ponto de partida da manifestação, eles se sentaram na calçada, bloqueando parte da circulação na principal via da capital durante algumas horas.

 

"Esperamos salvar Rosia Montana", declarou Irina Enea, designer de joias que participou da marcha com o marido e os dois filhos.

 

"O direito a um ambiente saudável foi violado e nós protestamos contra o fato de o governo ter aprovado esta semana um projeto de lei especial, declarando a mina de interesse nacional", acrescentou.

 

Segundo o primeiro-ministro romeno, Victor Ponta, este projeto será submetido à votação no Parlamento.

 

Os manifestantes acusam o governo de ter traído suas promessas, ao permitir à gigante do petróleo americana Chevron explorar gás de xisto e declarar o projeto de mineração como uma "prioridade nacional".

 

A coalizão de centro esquerda do premier Ponta era contrário a estes projetos antes de chegar ao poder. Os manifestantes também criticaram a oposição e o presidente Traian Basescu por seu apoio a estes projetos.

 

A mina de Rosia Montana, que poderá produzir até 300 toneladas de ouro, será a maior da Europa, segundo a companhia canadense, e precisará usar em média 12 mil toneladas de cianureto ao ano.

 

Protestos também ocorreram em várias cidades do país, de Cluj (noroeste) a Iasi (nordeste), passando por Timisoara (oeste).

 

Em Barlad, uma pequena cidade do nordeste do país, mais de 3.500 pessoas marcharam, em dois protestos contra o projeto de exploração de gás de xisto pela Chevron.

 

"Gás de xisto = morte", dizia uma faixa colocada sobre um caixão carregado por manifestantes na cidade de Banca, periferia de Barlad.

 

Quinhentas pessoas se concentraram nesta cidade e mais de 3.000 na praça central de Barlad, com o reforço de muitos sacerdotes da Igreja Ortodoxa, religião majoritária na Romênia.

 

Em julho, a Chevron obteve permissão para explorar gás de xisto em três cidades da região de Barlad, com a ambição de desenvolvê-lo em seguida à extração por fratura hidráulica ou "fracking".

 

Este método, considerado perigoso pelos defensores do meio ambiente, consiste em injetar, com altíssima pressão, água misturada com areia e produtos químicos para liberar o gás da rocha.

 

Segundo estudo da universidade americana Duke, o método traz riscos de contaminação dos lençóis freáticos.

 

"Nós herdamos dos nossos ancestrais uma terra limpa e saudável e devemos mantê-la assim para nossos filhos e netos. Se nós os deixarmos explorar o gás de xisto, eles vão envenenar a nossa terra", declarou Mihai Berlea, um veterano de guerra de 86 anos.

 

"A terra e a água são as únicas riquezas que os camponeses romenos ainda têm", emendou Guzganeu Mavrodin, 76 anos.

 

Em Barlad, os manifestantes pediram a demissão do premier Victor Ponta e de seu adversário, o presidente de centro direita Traian Basescu.

 

Basescu é um fervoroso defensor do gás de xisto.

 

Ao contrário, a coalizão de centro esquerda de Ponta critica duramente o gás de xisto quando ele estava na oposição. Mas o primeiro-ministro agora defende esta fonte de energia e se declara favorável à sua exploração.

 

A Chevron, por sua vez, garante seguir "os padrões mais elevados em termos de segurança e ambientais" e promete gerar empregos em uma região empobrecida.

 

O grupo americano não respondeu às perguntas da AFP sobre os empregos já criados, nem sobre a data de início as perfurações de exploração.

Fonte: AFP