A secretária executiva da ONU para o clima, Christiana Figueres, exortou nesta segunda-feira a indústria do carvão a "mudar rapidamente e de forma radical" para evitar danos ecológicos, durante uma Cúpula Internacional sobre o Carvão, celebrada em paralelo a negociações sobre o clima em Varsóvia.
O carvão, "combustível fóssil acessível a baixo preço e em grandes quantidades, gera enormes custos que são intoleráveis" para o meio ambiente, declarou Figueres nesta "cúpula".
"A sociedade se beneficiou do desenvolvimento da indústria graças ao carvão, mas agora sabemos que seus custos são elevados demais para a saúde humana e o meio ambiente", destacou.
"A indústria do carvão deve mudar rapidamente e de forma radical pelo bem de todos", insistiu a encarregada da ONU sobre o clima.
Figueres participa de uma nova rodada de negociações da ONU sobre o combate ao aquecimento global, celebrada em Varsóvia até a sexta-feira.
Esta conferência deve abrir caminho para negociações com o objetivo de levar a um acordo global e vinculante em 2015, em Paris, sobre a redução dos gases de efeito estufa.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), em 2011, o carvão era a origem 44% das emissões de dióxido de carbono (CO2) e continua sendo a principal fonte de produção de calor e eletricidade.
Militantes ecologistas expressaram sua irritação na conferência da ONU de que a Polônia sedie ao mesmo tempo a reunião de dois dias dedicada ao carvão. Sua organizadora, no entanto, a Associação Mundial do Carvão (WCA, na sigla em inglês) defendeu sua realização.
A indústria carbonífera "reconhece" que a combustão do carvão contribui para o aquecimento e que são necessárias novas tecnologias, admitiu o presidente da WCA, Milton Catelin.
Mas "os fatos demonstram que o crescimento econômico e a redução da pobreza (…) vão requerer carvão", disse, lembrando que 41% da eletricidade mundial e 68% da produção de aço dependem do carvão.
Segundo o site da WCA, esta "cúpula" em Varsóvia reuniu grandes produtores e consumidores mundiais de carvão, autoridades políticas, acadêmicos e representantes de ONGs, em torno do papel do carvão na economia mundial e em um contexto de mudanças climáticas.
Ela é realizada no Ministério da Economia da Polônia, a alguns quilômetros do Estádio Nacional de Varsóvia, que sedia as negociações da ONU.
Na manhã desta segunda-feira, militantes do Greenpeace estenderam na fachada do ministério um grande cartaz com as cores branca e vermelha da bandeira polonesa. "Quem governa a Polônia, a indústria do carvão ou o povo?", questionava.
No começo da reunião, o ministério polonês da Economia, Janusz Piechocinski, assegurou que seu país – grande produtor de carvão – tinha "respeitado suas obrigações internacionais" no que diz respeito ao clima.
Mas, destacou, "as maiores jazidas de carvão na União Europeia estão na Polônia e durante a próxima década, o carvão será um combustível importante, suscetível de fornecer energia ao conjunto da UE".
Várias ONGs tinham pedido a Figueres que renunciasse ao seu discurso nesta cúpula do carvão. Mas ela alegou que sua presença ali não representa "nem uma aprovação tácita ao uso do carvão, nem um chamado ao seu desaparecimento imediato".
"Deve ficar perfeitamente claro que os novos investimentos no carvão serão possíveis unicamente em compatibilidade com a limitação do aquecimento a dois graus Celsius", disse Figueres, referindo-se à meta estabelecida pela comunidade internacional.
Fonte: AFP