Aquífero Alter do Chão, artigo de Roberto Naime
[EcoDebate] Um aquífero é uma rocha porosa, de natureza sedimentar, do tipo psamítica, geralmente um arenito ou conglomerado, que tem grande porosidade, e logo grande capacidade de armazenamento e transmissão de fluidos de qualquer natureza, água inclusive. Aquíferos, como indica o próprio radical da expressão, são rochas com grande possibilidade de armazenarem água.
O aquífero Alter do Chão é considerado um dos maiores do mundo em volume de água disponível, se configurando como importante reserva de recursos naturais. Está localizado no subsolo dos estados do Pará, Amapá e Amazonas, integrando provável pacote sedimentar de rochas de idade paleozóica. Este aquífero abastece as cidades de Santarém no Pará e quase a totalidade de Manaus, capital do estado do Amazonas.
Informações já divulgadas estimam em cerca de 480 mil km2 a área do aquífero, e em mais de 500 metros, a espessura dos litotipos integrantes das rochas sedimentares, com capacidade de armazenamento de água, na estratigrafia descrita do pacote de sedimentos. Isto tudo, certamente considerando ainda volume medido ou estimado de capacidade de armazenamento de fluidos ou de água nos poros das rochas sedimentares, resulta numa estimativa que este possa ser o maior aquífero do mundo, com o dobro de capacidade do aquífero Guarani, localizado na região sul do país e já conhecido há bastante tempo.
Este aquífero não tem grande área de ocorrência, mas sua grande espessura possibilitaria a acumulação de grandes volumes de água. Aquíferos tem características e peculiaridades que devem ser ressaltadas. Os solos e as rochas sobrepostas, tem que apresentarem porosidade e permeabilidade que permita para as águas circularem livremente, até se depositarem em profundidade em que se encontram os estratos que conformam os aquíferos.
Este “caminho” da água realiza um processo de filtragem, uma purificação “física” da água. Este processo permite a formação de nascentes de água, sempre que o fluido se depara com a existência de camada estratigráfica de menor permeabilidade em posição inferior, induzindo que a água pratique um transporte horizontal predominante, até encontrar uma superfície de relevo que permita o afloramento de água e a consolidação de nascente.
Interações complexas com níveis freáticos e regimes fluviais permitem a implantação de regimes influentes ou efluentes. A alimentação de cursos de água superficiais ou regimes em que os rios alimentam lençóis freáticos ou subterrâneos. Todo este conjunto interativo tem grande importância e relevância ambiental em todos os sentidos. Vida só existe onde houver disponibilidade de água.
Sempre houve conhecimento sobre a existência de aquífero de grandes proporções na bacia amazônica, mas somente a partir de 2010, houve a possibilidades de aquilatar e caracterizar melhor este aqüífero. Dados divulgados pela CPRM que responde pelo serviço geológico nacional do país indicam que este é um aquífero misto, com uma parte superior livre com cerca de 50 metros de espessura e outra parte confinada, correspondendo a aproximadamente 430 metros de espessura.
As rochas descritas são arenitos e argilitos. Como as litologias pelíticas como os argilitos tem baixa permeabilidade, imagina-se que os mesmos realizem o “confinamento” sobre os arenitos, estes sim, rochas sedimentares psamíticas, com verdadeiras características de aquíferos. Pelo que se depreende, a parte superior livre do aquífero, não origina poços tubulares de grande pressão de água, mas a parte inferior origina poços tubulares com características de artesianismo, onde a água é obtida pela pressão obtida no confinamento associada com adequadas condições gravitacionais de natureza geomorfológicas.
Contaminações de aquíferos subterrâneos, atribuídas a poços mal acabados ou de outra natureza, devem ser evitadas para manutenção da qualidade das águas. Ampliação de áreas de cultivos e usos inadequados de defensivos agrícolas podem contaminar e comprometer o uso dos aquíferos. A manutenção da sustentabilidade deste aquífero também depende da preservação da floresta. Boa parte da água que abastece o aquífero provém da elevada pluviosidade da região que é patrocinada por elevadas taxas de evapotranspiração florestais.
Poços de pesquisa realizados pela Petrobras, cruzados com informações provenientes de poços tubulares, originaram o aprofundamento dos estudos, que fornecem informações e sustentam as estimativas já apresentadas e que foram compilados pelo Grupo de Pesquisas em Recursos Hídricos da Universidade Federal do Pará, em colaboração com docentes da Universidade Federal do Ceará.
A denominação Alter do Chão é devida à inspiração a uma das mais belas praias do país, localizada na região de Santarém. A existência deste aquífero na região amazônica já é referida desde a década de 50 do século passado, mas os dados que confirmam todas as informações que se compila e se apresenta, são bastante recentes.
Os aquíferos que armazenam as águas no interior de camadas de rochas guardam as águas que são mais protegidas, porque estão muito menos expostas a processos que possam vir a gerar contaminações das águas.
A região amazônica que já era muito particular na medida que abriga uma das mais importantes áreas florestais do mundo, pela riqueza e diversidade de flora e fauna, que com rios formam diversos ecossistemas de grande importância e delicado equilíbrio ecossistêmico, agora ganha uma nova e inestimável riqueza. Um aquífero, que é considerado o maior do planeta e que poderia dispor de água potável várias vezes, toda a população existente no planeta.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
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in EcoDebate, 27/10/2015