Wetland – Sistema de saneamento natural em funcionamento no Rio de Janeiro


Já imaginou uma estação de tratamento de esgoto em meio à natureza, onde é possível avistar ainda tratando as águas sujas da cidade? Esse cenário é real e acontece na Estação de Tratamento de Esgoto Ponte dos Leites, em Araruama, no Rio de Janeiro, a primeira no Brasil e a maior na América Latina a adotar o sistema wetland. Num país que se dá ao luxo de coletar e tratar menos de 50% do esgoto que produz, qualquer projeto de saneamento é bem-vindo. Se puder ser sustentável, melhor ainda.

                       

A ETE Ponte do Leites foi inaugurada em 2005. Em 2009, foi ampliada, tanto no nível de tratamento, quanto em capacidade. Atendendo ao aumento da demanda local, realizou-se uma remodelagem da ETE para implantação de um sistema complementar ao tratamento terciário, com remoção de nutrientes através do sistema wetland, feito com plantas aquáticas. Esta ampliação transformou a ETE Ponte dos Leites na maior da América Latina com esse sistema, em capacidade de tratamento, atuando com 200 litros de esgoto por segundo, em uma área de 6.8 hectares.

Primeiro, é feito um pré-tratamento dos efluentes, com um gradeamento e caixa de areia para retirar a parte sólida, e a partir do qual os efluentes são conduzidos para as lagoas de aeração, para promover a troca gasosa do oxigênio da atmosfera com o meio aquoso. Estas lagoas possuem aeradores de superfície e são rasas, com no máximo 2 m de profundidade, onde o oxigênio dissolvido na água fornece às bactérias energia suficiente para degradação da matéria orgânica.

Após passar pelas lagoas de aeração, os efluentes seguem para as lagoas de sedimentação, onde ficam sedimentados os resíduos sólidos da fase anterior. Estas são lagoas profundas, com 4 a 5 metros, e não têm agitação. Nelas, há plantas aquáticas de superfície, que dão inicio ao processo de remoção de nutrientes (fósforo e nitrogênio), essenciais para a sobrevivência de algas e plantas. Finalizando o tratamento, ocorre um processo de irrigação, inundação e infiltração em leitos cultivados, com o objetivo de remover o excesso de nutrientes, através do processo wetland de tratamento.

Esta iniciativa pioneira no Brasil, embora bastante praticada em outros países, como nos Estados Unidos e Canadá, foi possível através da negociação entre a Concessionária Águas de Juturnaíba, a Prefeitura de Araruama, o Governo do Estado do Rio de Janeiro, ambientalistas, técnicos do Consórcio Intermunicipal Lagos São João e a Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico (AGENERSA), que antecipou o cronograma das obras de saneamento na Região dos Lagos.

Segundo Felipe Vitorino, coordenador de Operação de Esgoto da Concessionária, ressalta os conceitos de desenvolvimento sustentável e economia verde que são trabalhados na ETE, integrada ao programa “Resíduo Zero” que busca a reciclagem de 100% do lixo gerado pelo tratamento do esgoto. Parte destes resíduos já é destinada à reciclagem, gerando produtos artesanais, vendidos pelas cooperativas produtoras da região. A ETE Ponte dos Leites gera cerca de 580 toneladas de lixo por mês, com as “macrófitas” (plantas aquáticas) emergentes e flutuantes, utilizadas no tratamento do esgoto. Com o programa “Resíduo Zero”, a empresa pretende gerar 200 toneladas de adubo orgânico por mês, além de ampliar a produção do artesanato e implantar um biodigestor para que a ETE possa produzir energia, através do esgoto, para seu próprio consumo. “Somos uma estação 100% sustentável”, afirmou Felipe.

A favor da natureza

                                       

Wetland é um sistema artificialmente projetado para utilizar plantas aquáticas (macrófitas) em substratos como areia, cascalhos ou outro material, onde ocorre a proliferação de microorganismos que, por meio de processos biológicos, tratam águas residuárias. O sistema wetland destaca-se pela capacidade de remover carga poluidora, manter a conservação dos ecossistemas terrestres e aquáticos, reduzir o aquecimento global, fixar o carbono do meio ambiente, mantendo o equilíbrio do CO2, além de conservar a biodiversidade. As macrófitas aquáticas utilizadas nos sistemas wetland, podem ser emergentes ou flutuantes e são de fácil propagação, têm crescimento rápido, alta capacidade de absorção de poluentes, tolerância a ambientes eutrofizados, fácil colheita e manejo, além de valor econômico. As macrófitas emergentes são: papiros, juncos, lírios, taboas e palmas, entre outras. As flutuantes são: lemna, azola, pistia, salvinia e aguapé.

Na ETE Ponte dos Leites, foram implantados 3 lagoas com macrófitas emergentes – papiros, pairinhos e sombrinhas chinesas – além de 2 com macrófitas flutuantes – lemna, salvinia, pistia e alface d’água. O efluente final é um líquido transparente, quase inodoro e com características que permitem que ele seja lançado diretamente aos corpos receptores. O sucesso do sistema wetland vai além dos baixos custos energéticos, pois oferece muitas possibilidades de reciclagem da biomassa produzida, que pode virar fertilizante, ração animal, gerar energia (biogás ou queima direta), fabricar papel, etc. Sem falar na biodiversidade, como no caso da ETE em Araruama, onde vivem 43 espécies de aves, 6 de anfíbios, 5 de peixes e 1 de réptil. Entre as espécies, sapos, pererecas e pássaros como o Garibaldi, o Jaçanã e o Gavião Caramujeiro, com destaque para a população de biguás.

Fonte: Voz das Águas ; Grupo Águas do Brasil

Laísa Mangelli