O Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos de 2016, lançado mundialmente nesta terça-feira (22), Dia Mundial da Água, priorizou como tema a relação ainda pouco dimensionada entre a disponibilidade deste recurso e a geração de empregos. O relatório intitulado “Água e Trabalho” (Water and Job, no original) traz, entre outras, a estimativa de que três de cada quatro empregos no mundo dependem forte ou moderadamente de água, o que tornaria explícita a importância dos recursos hídricos não apenas para fins indispensáveis de sobrevivência, mas também como motor econômico direto e indireto para criação e manutenção de diversos postos de trabalho.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), sem melhorias na gestão do uso da água, em 2030 haverá um déficit de 40% entre a procura e a disponibilidade de água se não houver melhorias na gestão do uso da água. O relatório, coordenado pelo Programa de Avaliação Mundial da Água das Nações Unidas (United Nations World Water Assessment Programme – WWAP), explica como uma gestão eficiente e racional dos recursos hídricos pode ao mesmo tempo garantir e estimular o desenvolvimento econômico. Uma avaliação que vai de encontro aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030, entre os quais estão “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos” e “promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos”.
Outro dado ressalta que metade da força de trabalho mundial — 1.5 bilhão de pessoas — está empregada em oito setores da indústria dependentes de água e outros recursos naturais: agricultura, silvicultura, pesca, energia, manufatura, reciclagem, construção e transportes; os dois primeiros muito ameaçados e afetados pela escassez de água. “A água não é apenas uma criadora de empregos, mas também uma possibilitadora de empregos”, relembra o prefácio do documento. Isto fica evidente na região da América Latina e Caribe, onde o uso de energia hidroelétrica corresponde a mais de 60% do total de energia produzida, quase quatro vezes mais do que a média mundial, que fica em menos de 16%. A agricultura também aparece, com destaque para irrigação, que consome 67% do total de água consumida na região, além de ser importante fonte de emprego para as populações rurais.
Insegurança Hídrica
A insegurança hídrica custa caro para a economia mundial, um prejuízo estimado em US$ 500 bilhões anuais que, se somados aos custos do impacto ambiental, podem chegar a 1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Ainda assim, estima-se que 30% da captação mundial de água é desperdiçada em vazamentos.
As enchentes de São Paulo, além da seca na região sudeste-sul brasileira de 2014-2015 aparecem no relatório como exemplos de quando a insuficiência de investimentos locais na gestão dos recursos hídricos acarreta em prejuízos econômicos; com impacto no crescimento da capital paulista e restrição da competitividade local frente ao mercado nacional e internacional.
Um estudo americano de 2009 sugere que investir 1 bilhão de dólares no abastecimento de água e na expansão da rede de saneamento básico na América Latina, resultaria em 100 mil empregos, número superior do que os de um investimento de igual valor em energia movida a carvão ou eletrificação rural.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, arremata: “A principal mensagem deste relatório é clara: água é essencial para empregos decentes e desenvolvimento sustentável. Agora é a hora de aumentar os investimentos em proteção e recuperação de recursos hídricos, incluindo água potável, assim como saneamento mantendo o foco da geração de empregos”.
Fonte: (o)eco