Cerca de 300 garis aderiram à greve de paralisação do trabalho, reivindicando melhores condições de trabalho, aumento de salário e benefícios que não lhe são concedidos. E para mostrar a todos a falta que eles nos fazem, decidiram parar em pleno carnaval carioca, ou seja, a cidade virou um lixão a céu aberto. Com toneladas de lixo espalhadas por todos os lados e esquinas, uma imagem desagradável e vergonhosa.
Sabendo que só o que é visto, é lembrado, a greve teve seus efeitos colaterais, nos revelando a nossa relação com o lixo que produzimos. Diante dos nossos olhos está a resposta de como lidamos com os resíduos produzidos e de como cuidamos da nossa cidade. A greve trouxe o lixão para a cidade, e a população se assustou e se indignou. Mas, não fomos nós mesmos que jogamos todo esse lixo no chão? E qual é a participação do governo nessa história?
Centro da cidade tomado pelo lixo que a cada hora acumula mais
Sou moradora da cidade aclamada como “cidade maravilhosa” e posso afirmar que mesmo que você queira destinar corretamente o seu lixo, vai ter que suar a camisa. Os incentivos governamentais para a destinação correta dos resíduos são poucos e, afirmo: ineficientes. Para os governantes é mais fácil e mais barato manter os garis a salário de miséria, do que lidar seriamente com a questão ambiental e implementar uma política eficiente para transformar o lixo em riqueza. Lembrando a você que o prazo para cumprir a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) acaba este ano.
Os garis que mantiveram a greve foram indevidamente demitidos por justa causa, já que o direito a greve é legitimo. Sem contar que os que continuaram a trabalhar receberam escolta militar, ou seja, estão sendo forçados a trabalhar sob ameaças. Cenário assustador que me relembra os quilombolas e seus senhores.
Escolta da prefeitura obrigando os garis a trabalharem
É espantoso em como uma cidade que é referência mundial pelas belezas naturais e biodiversidade, dependa exclusivamente de alguns trabalhadores para que um tapete de lixo não se forme em apenas cinco dias. Onde está a educação ambiental da população? Para uma pessoa como eu, que recicla quase 80% do meu lixo domiciliar, é incômodo ver tanto material que poderia ser reciclado nessas pilhas infinitas de lixo.
Mas infelizmente a situação é caótica, e a responsabilidade é transferida de mãos em mãos, por fim, chegando a lugar nenhum. Não existe participação efetiva do governo em querer educar ambientalmente a população, simplesmente não existem lixeiras suficientes em lugares de grande circulação de pessoas, quiçá lixeiras para reciclados.
Ainda há muito que progredir quando se trata dos resíduos que descartamos. Um longo caminho precisa ser traçado, para num futuro próximo, talvez, consigamos enxergar o potencial que o lixo tem, e o que uma cidade sem lixo pode ganhar.
Laísa Mangelli